O povo preto hoje parece uma criança mimada e indefesa.

Àbáyọ̀mí Rametj
revistaokoto
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2 min readMay 27, 2022

Foi o que me veio à mente quando pensei sobre os últimos fatos que estavam sendo discutidos nas redes sociais: negros fazendo eco abominando o nazismo, negros fazendo eco a favor de um país em guerra e condenando outro.

Os dois eventos mostram como nós sentimos a dor do inimigo, mostra que muitos dos nossos sequer consegue pensar por conta própria, que são facilmente manipulados pela mídia e pelo sistema educacional a abominar o que eles querem que a gente abomine e apoiar o que eles querem que a gente apoie, mesmo que isso vá contra os nossos interesses.

Toda nação deve priorizar os seus recursos, seu próprio povo e sua própria cultura. Garvey deu muito esse papo, de que é preciso criar autonomia, saber nos preservar, nos defender, mas muitos de nós sequer tem essa noção, muitos de nós ainda tem um ideia cristã infantil de que um é 100% bom e o outro é 100% mau e aquele que é bom, “coincidentemente”, é quem mais nos mata e nos rouba. Fomos ensinados a amar nossos inimigos.

O povo preto não consegue se organizar nem tomar decisões por conta própria, apoia partidos brancos, levanta bandeira, enfrenta a polícia, defende o candidato branco com unhas e dentes, mas não consegue sequer pensar que ele mesmo pode fazer algo para defender os próprios interesses.

O povo preto acredita fielmente que deve ocupar as universidades, que a educação (ou devo dizer doutrinação?) branca é a melhor coisa que ele vai ter. Ele vai se esforçar para passar em 1º lugar numa faculdade de medicina ou direito, vai até fazer cursinho pra que outros pretos entrem na faculdade, mas sequer consegue imaginar a possibilidade de construir a própria escola, a própria universidade e educar os seus pequenos.

E é tão verdade como o povo preto foi induzido a apoiar o inimigo que quando uma organização preta, autônoma como o Òkòtó se impõe, se prioriza, o que mais se recebe é ataque de negresco. O branco assiste tudo de camarote enquanto suas crias vem atacar com todas as forças pra defender o que é branco. Experimenta criticar o feminismo, a academia, o cristianismo, o consumismo e a idolatria a marcas brancas pra você ver.

Mas é isso aí, ser correnteza é saber honrar as águas que vieram antes, os nossos ancestrais, pensar nos nossos descendentes, nas águas que continuarão fluindo depois de nós, mas também é ter a força necessária pra sempre continuar e achar um caminho, não importa o que venha pela frente.

“Um Deus, um objetivo, um destino!”

Viva Garvey!

Viva a UNIA!

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Àbáyọ̀mí Rametj
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Um ser em desenvolvimento, trilhando caminhos através da espiritualidade, da capoeira e dos algoritmos. O àṣẹ de Ògún guia a criação de tecnologias