O preço do almoço grátis

Niágara
revistaokoto
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5 min readApr 4, 2023

Quem não tá disposto a sangrar pra se organizar, uma hora vai sangrar pela sua desorganização.

Quando eu era criança eu dancei numa peça da cigarra e a formiga e sempre lembro desse dia q fiquei mó nervosa kkk Desde criancinha já vinham com essa visão, até nos desenhos da tv tbm. E é mesmo uma lição importante da gente ter desde pequeno.

Por Diego Alberto

A cigarra seria a que só come porcaria, sai todo final de semana, só anda de Uber, assiste várias séries nada a ver na Netflix, sempre tá bebendo e comendo o que dá vontade, e passa tudo no crédito sem controle. Quem vê de longe, só vê que a bixa é rolezeira, sempre feliz, sorrindo.

Enquanto isso a formiga é a que só come saudável, faz exercício todo dia, mão de vaca pra caralho nos rolê, a que sempre estraga o clima da vaquinha pra pizza e açaí, louca das planilhas de gastos. Quem vê de longe, acha que ela é chata, sem graça, quadrada, empata foda.

Mas aí no final do mês vem a conta de cada uma, e a cigarra vai sangrar com dívidas, ansiedade, depressão, estresse… Enquanto a formiga tá lá fazendo os planos de viagem, pra fazer uma reforma na casa, pra expandir o seu negócio. Aquela coisa do quem ri por último ri melhor que os mais velhos tb falam.

E daí falei desses exemplos de finanças pessoais, mas o papo é sobre o racismo também.

Se a gente não sangrar pra se organizar agora, vai ter uma hora que a conta vai ser tão alta que não vai dar pra voltar mais atrás.

Se cê para pra olhar, hoje o perfil dos preto aqui no Brasil é mais parecido com a cigarra ou com a formiga?

Vários pretos, por exemplo, compram essa ideia romântica da miscigenação, como algo bonito, “natural no Brasil”. E se negam a entender a miscigenação como um verdadeiro projeto de extermínio do gene africano.

Se derreteram naquele discurso lá que o Lula deu esses dias, falando que a coisa boa da escravidão foi a mistura do indígena, negro e o europeu. E é fácil saber que a miscigenação é uma estratégia racista, só olhar pra quem mais apoia. A esquerda e o feminismo tão no front dessa defesa, os branco que mais usam da cultura preta, do corpo preto pra ascender. São os racistas enrustidos, que gostam de aplicar o racismo na encolha, os lobos na pele de cordeiro.

E a miscigenação é isso, um projeto silencioso, é aquilo de envenenar aos poucos, quando vê não tem mais preto, quando vê acabou a melanina, acabou a ameaça. Começa numa propaganda que parece inocente, uns casal interracial na globo, outros na Netflix, quando vê cê se depara com aquele churrasco de família que as nora e os genro são tudo branco e os neto? dos avós só tem o branco do olho.

E esses pretos de fato ganham inúmeras vantagens e benefícios de se integrar com as comunidades brancas. Por isso muitos pretos defendem com a própria vida, e vão até se sentir atacados quando a gente questiona a miscigenação ou outras forma de integração. No twitter memu brota negresco de tudo quanto é lado pra dizer que a gente não tem coração, não tem amor 🤣

Mas voltando pro papo da cigarra e da formiga. Beber e comer do melhor na mesa dos brancos, gera o custo de você ter que se calar e se amansar. Servir. Abandonar seu asé e abraçar a bíblia, o diploma ou o a CLT. As correntes que iam nos braços agora vão na mente.

Um preto universitário, um preto acadêmico, um preto no BBB, um preto em top 1 do Spotify geram lucros absurdos pra comunidade branca. E óbvio que ele tira vantagens, tira vantagens como a cigarra tira. Mas no final sangra com depressão, estresse… Morte mental e espiritual. E todo preto sabe disso, o que não falta na internet é relato de preto com a mente adoecida pela academia, mídia e mercado de trabalho. Mas seguem dispostos a pagar esse preço, e indispostos a bancar o custo da organização.

O emprego bacana, o diploma, o carro do ano, a viagem pras Maldivas, a casa no bairro nobre. Tudo isso custa nossa vida e continuidade. Brancos vão dar isso pra pretos pra que a gente não deixe o racismo morrer. Se a autonomia e a independência é a maior arma que a gente tem contra o racismo, pretos que continuam de alguma forma dependendo dos brancos, são a lenha do racismo, é o que mantém a chama ascesa.

Olha como funciona a lógica do caminho mais curto. Você se dá conta do racismo e daí pra não sofrer e pra que seus filhos não sofra, ao invés de você se preparar e preparar eles pro embate, pra guerra, você prefere se esconder no mundo branco e fingir que a parada não existe, e aí fazer um filho mais claro ou branco. Você tira o que você tem de mais precioso, que é a melanina, e em troca ganha um filho que pouco ou nada se parece com seus antepassados. Dá luz a sua própria antítese por medo e covardia.

E aí o custo da covardia de ir pelo caminho mais fácil é a própria morte. Aos poucos seus netos, e bisnetos, podem até saber seu nome, mas nem vai passar pela cabeça deles que você era preto.

A hora de sangrar é agora. A hora de criar nossas próprias escolas, empresas, casas, bancos, nossa própria nação. Deixar pra depois e continuar comendo na mesa do branco, significa correr o risco de que daqui centenas de anos os nossos continuem escravizados, a mercê de seja lá qual for as perversidades que os brancos queiram nos submeter.

Se de pouco em pouco eles cobram o almoço em melanina e asé, uma hora pode acabar. Por isso a importância de fazer filhos entre a gente, e fazer todas formas de vida preta entre a gente.

São aqueles 30 minutos, aqueles 100 conto, aqueles 5 anos pra se formar, aqueles 10 anos de empresa, aqueles 10 mil de empréstimo, que são usados hoje pra satisfazer desejos individuais e imediatos, que a gente precisa que sejam usados pra construir uma nação sólida e forte.

Não dá pra gente voltar a ser próspero sem abdicar dessas migalhas que os brancos dão pra manter a gente escravo. Enquanto a gente não tiver disposto a ser rígido com a gente mesmo igual as formiga, a gente vai tá passando apuro igual a cigarra.

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