O quintal lá de casa!

Mari Nyokamaji Kabila Taji
revistaokoto
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3 min readFeb 9, 2021

O quintal lá de casa é aberto pra erezada do entorno. Tem um muro meio caindo aos pedaços que meu pai foi lá e terminou de quebrar uma parte que virou uma passagem fácil pra todo mundo.

Lá agora é a oficina colaborativa de bicicleta. Eu ainda não sei bem o que é isso, mas já tou quase compreendendo. Todo mundo faz tudo lá. O quintal tava sujo e cheio de mato, a criançada ficou mais de uma semana limpando. Minha mãe fez várias comidinhas gostosas e meu pai tava lá no meio das correrias. Nessa época nem tinha eu, e minha mãe capinou também! Inventaram mil e uma maneiras pra colocar as peças e as ferramentas pelo quintal afora, e pra trabalhar ali mesmo, debaixo do pé de manga, quando a chuva não tá na área.

Mainha e painho vão aprendendo com esse movimento como cuidar, lidar e orientar essa turminha.

Erezada no quintal lá de casa! ❤

Tem briga, tem molecagem, traquinagem, correria, manga no telhado, coisas quebradas e tudo que um bando de crianças aprendendo enquanto ensinam pode desencadear. Mas a turma tá cada vez mais unida e mais comprometida com os corres da oficina. Cada vez mais sentem o espaço como deles e compreendem que precisam cuidar dele. E cuidam.

Já compartilham com meu irmão as tarefas da casa quando querem que ele vá brincar lá fora com eles. Já arrumam o espaço sem que seja necessário pedir. Já estão ensinando uns pros outros como arrumar as bicicletas e como cuidar de tudo ali. Meu pai ta sempre por perto, orientando, cuidando. Mas cada vez menos precisa se intrometer. Todo mundo aprendendo a conviver e a cuidar, uns dos outros e de tudo que estão construindo.

Agora brotou neles a vontade e curiosidade de cultivar uma horta. Muito legal! Meu irmão também está nessa. Eles passam todo o tempo caçando o que plantar, experimentando como fazer e olhando pras frutas e vegetais sempre com aquela curiosidade “como será que planta? Se a gente plantar será que dá?”. Estão empolgados! Vão nos matos aqui perto e voltam cheios de plantas que nem sabem o que são pra ver se sobrevivem em sua horta. Mamãe e papai sugeriram que saíssem pelo bairro procurando alguém que entenda do assunto pra ajudar, mas eles ainda querem explorar tudo sozinhos.

Eu fico aqui, de dentro da barriga da minha mãe, só observando tudo. Pelos sentimentos e pensamentos dela, e agora pelos meus também, pois já escuto tudinho que acontece lá fora. Ainda não tou pronto pra nascer, mas já tou na expectativa, porque lá fora parece interessante e divertido. Acompanhando daqui vejo tanta coisa legal acontecendo, sendo plantada e brotando bem devagarzinho. É que nem a horta do meu irmão e dos amigos dele. Pega uma muda, move pra ali, aí nem sempre vinga. Aí tenta de novo, ou com outra, faz diferente, uma vinga, a outra não, e assim vai… Mamãe e papai, junto com a erezada, tão cultivando o tal colaborativo aqui. Parece legal, quero participar também.

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Mari Nyokamaji Kabila Taji
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