O sentido

Kamila Aranha
revistaokoto
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2 min readOct 8, 2021
Arte: Vitória Camilly

Nos textos "O princípio" e "O sol e a vida humana no conceito banto Kongo", falei um pouco sobre a criação do universo, mas de uma perspectiva sobre qual é o sentido de tudo isso, e sobre o propósito do ser humano, que de maneira metafórica é tido como um segundo sol, dentro deste conceito.

Hoje quero falar um pouco mais sobre o sentido de vivermos neste lugar que chamamos de terra, não somente de maneira física, e o que acontece conosco segundo a crença banto kongo.

Crescer no caminho certo, rumo à autonomia, no sentido de fazer sua própria história, alcançar a posição de liderança e exercer esta posição, é chamado de "Kula". A forma como uma sociedade e sistemas sociais se estabelecem e se manteem depende de como as pessoas entram na fase de Kula. Aqui entendo que trata-se dos valores. Na fase de crescimento é quando são postos nossos valores e formados nossos moldes perante as demandas da sociedade. Viver em comunidade é fundamental para esta formação, para entender que, o que se deve fazer está para além do que se quer fazer. Entender nosso propósito.

A fase seguinte a esta, também chamada de "Kala- tukula" representa o tempo presente, que também está associado a estar pronto para o "meio" da vida, e assim, entre um mundo superior e inferior. Podemos entender de maneira fisica e não física. Somente depois desse crescimento e amadurecimento em prol da comunidade, o indivíduo torna-se "tukula". Quer dizer que depois de estar pronto para o meio da vida, de fato se chega a este estágio.

Depois desta fase "tukula", o ser humano deve descer ao mundo mais profundo, o que significa que se iniciará um processo de mudança positiva ou negativa, chamado de "Luvèmba", que no aspecto físico também pode ser o que leva os seres vivos à morte física.

No mundo superior, esta fase pode representar o futuro. Aqui existe o que poderíamos entender como a passagem de bastão dos ancestrais para os mais novos, onde a liderança dos que foram é passada aos que virão. Do mais velho para o mais novo. Este é outro dos valores que esse entendimento nos traz.

Na cosmologia africana banto Kongo as coisas se complementam. Quando falamos de planetas, faz sentido a existência de outros, além da Terra, uma vez que entendemos seus ciclos. Falei também sobre o sol que tem seus ciclos todos os dias. Já nós, os seres humanos, assim como os planetas e como o sol, temos ciclos de vida. Passamos por processos de ir e vir. Não há morte. Então entendo que é sobre estágios, processos, fases, ciclos. Nada é permanente, nada é estático e nada é por acaso. Tudo se interliga, em tudo há movimento, em tudo há um sentido.

Por Kamila Aranha

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