O topo não existe

Editorial Edição 13 Revista Òkòtó

Bianca Melo
revistaokoto
2 min readApr 4, 2021

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“Quando souber capoeira, entro pro grupo de vocês”

Capa Edição 13 — Ilustração: Lisimba Dafari

Essa frase foi e é dita por muitos admiradores do Kilûmbu Òkòto, mas você pode substituir capoeira por qualquer outra competência que é esperada da casa (falar em público, saber escrever textos fodas, ter conhecimento sobre nacionalismo preto, etc.). E é louco, porque em momento algum isso foi critério de exclusão (ou não inclusão) de qualquer pessoa na casa. Entra feminista, entra marxista, entra acadêmico, tem até policial no processo do CFK, risos. Os critérios sempre foram compromisso e dedicação, o resto todo mundo tá aprendendo, até porque somos uma escola. E seguimos aprendendo, tirando o recheio, crescendo nas habilidades que temos, desenvolvendo aquelas que são defeituosas.

Essa onda de “pretos no topo”, além de toda a baboseira — que muitas vezes é falsa — de chamar os outros de “perfeito, sem defeitos”, é muito fruto de um embranquecimento das ideias. A cultura africana é cultura de aperfeiçoamento, não de perfeição. O topo é um lugar de inércia, porque se não há onde crescer, não há mais propósito. E o aperfeiçoamento nunca foi individual, mas com um propósito coletivo.

Como é dito na casa: você é tão forte quanto seu elo mais fraco. Isso é senso de comunidade, em que todos se unem para crescer juntos. Assim, não há topo, porque não há um destaque.

Nesta edição, nossa revista aborda sobre a cultura do aperfeiçoamento com seu texto principal, além de textos que falam sobre espiritualidade, relações humanas e muita pretagogia.

Boa leitura!

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Bianca Melo
revistaokoto

Eu cheguei no bregafunk ninguém deu nada por mim