O trabalho dignifica as relações

Mariah Vianna
revistaokoto
Published in
3 min readFeb 16, 2023

Recentemente, tenho pensado em uma coisa que o Taiwo sempre fala pra gente: “que a gente conhece e se aproxima das pessoas a partir do trabalho”. No Kilûmbu Òkòtó, a gente vive isso na prática e pode, facilmente, comprovar essa máxima.

Vejo isso por uma experiência que venho tendo desde que entrei para a cozinha da casa. Fomos lançadas na missão, eu, Lorena e Kianga. E, a princípio, eu e Kianga, éramos próximas mas nem tanto, a gente convivia bem menos e trocávamos menos ainda.

A partir do trabalho juntas, vejo, nitidamente, que nossa relação mudou muito e pra melhor. Ali, em cada dia de trabalho, de perrengue que acaba terminando em gargalhadas, estamos construindo uma relação de amizade verdadeira e que se desenvolve naturalmente, de maneira muito mais fácil do que se a gente tivesse tentando se aproximar só para sermos mais amigas. Isso é muito maneiro.

Muitas vezes, por estarmos inseridos em ambientes de trabalho ruins, em que as relações são bem superficiais e não são levadas de um trabalho pra frente, a gente tem até certa dificuldade de acreditar que trabalhando é possível estabelecer relações de verdade. Mas isso se mostra, justamente, o contrário quando estamos trabalhando juntos num mesmo propósito, tendo um norte comum que nos direciona. Nesse contexto, as coisas são bem diferentes, as pessoas não estão só por estar, para “bater ponto” e cumprir a carga horária. E, quando, por acaso estão, o trabalho em conjunto é capaz de mostrar isso também. Dá pra ver quem é de fechar e quem é de abrir quando o negócio fica de verdade.

Eu não tinha essa noção porque nunca tinha tido nenhuma experiência parecida com essa que venho tendo na casa, não só na cozinha mas em outros trabalhos que a gente desenvolve juntos. Às vezes você nem tem tanta intimidade com a pessoa inicialmente mas aí, vira sua dupla para escrever um texto, gravar um vídeo, organizar uma parada e dali a relação se desenvolve sem ter que forçar barra nenhuma. E o contrário também acontece. Às vezes, uma pessoa que tu já tem alguma relação ou até que não tenha, aí tu vai trabalhar junto e vê que o bagulho não flui de jeito nenhum, ou pior, a relação que tu tinha, depois de trabalhar juntos, até piora ou acaba.

Os momentos de descontração são bem importantes para que a gente interaja e se aproxime mas, o trabalho… ah, o trabalho é que dignifica as relações rs. Aí, mais imprescindível do que a gente estar juntos para comemorações e momentos de lazer, é trabalhar juntos. É na hora do “vamo ver” que a gente conhece as pessoas e somos (re)conhecidos por elas. Nesse, como em vários outros, sentido, todo o trabalho que a gente desenvolve dentro da casa é muito importante para que possamos nos construir enquanto pessoas realmente inteiras, e, na falta de melhor palavra, dignas para termos relações mais saudáveis, confiáveis e genuínas.

“Ainn, mas se eu não trabalhar junto não conheço a pessoa?”

Lógico que conhece mas, ao meu ver, o esforço e, às vezes, o tempo, é maior. São várias as experiências e “provações” necessárias para estabelecer essa confiança/intimidade nas relações. Só olhar aí para as suas amizades e ver que as principais, as que você mais confia são as que já passaram por algumas “durezas” contigo, não aquelas que são maneiras mas, que estiveram só no bem bom. E, é justamente isso que o trabalho junto traz bastante: a adversidade, a superação conjunta de desafios e dificuldades. Nisso, o trabalho não engana, ele vai mostrar, fácil e naturalmente, com quem dá para contar e com quem não. E isso é uma ferramenta foda para conhecimento das pessoas, talvez das mais eficientes que existe.

Aí, é que a gente, quando quiser conhecer melhor uma pessoa, e arrisco dizer até, se conhecer melhor, busque fazer algum tipo de trabalho junto. Não vai ser preciso muito para que as coisas se mostrem como realmente são, as conexões fiquem mais profundas ou não rs, mas certamente, serão o que são, sem muita margem para enganação.

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