Onde está seu coração?
Onde está seu coração?
Onde está sua coragem?
Onde está seu amor?
Onde está a sua verdade?
Sua coragem está lá onde se encontra seu coração.
Já reparam na fúria com que certos pretos nos atacam quando criticamos seus vínculos com o mundo branc’o? Defendem os branc’os e seus espaços com mais sangue-no-olho do que os próprios branc’os.
E por quê? Porque lá estão seus corações.
Os antigos sabiam das coisas. Repare nessa cena belíssima do tribunal de Osíris.
Veja, não é o cérebro do morto que é posto na balança. É o coração.
De um lado o coração e de outro uma pena de Maat.
Ai de você se seu coração pesar mais do que a pluma da Deusa. Você não chegaria a presença de Osíris (sentado) e seria devorado por Ammit (cabeça de crocodilo). Vapo!
Durante milênios afirmaram que a sede do entendimento é o coração. Aristóteles afirmava isto. Ele aprendeu dos egípcios.
Os Bakongo também afirmam isto, você só compreende algo quando compreende pelo coração. Aprender exige abertura do coração. O núcleo da memória é o coração. A cabeça, o intelecto pode até farejar algo mas se não tocar o coração, o conhecimento morre.
O que vc pensa não importa tanto. Porque a boca pode expressar aquilo que não está no coração. É retórica, é lisonja ou puxação-de-saco, é conversa-pra-boi-dormir. A palavra dada só pode ser verdadeira quando vem do coração. Pois ao expressá-la você por inteiro se encontra nela.
Daí vocês percebem um monte de intelectual negro falando em favor dos pretos mas não param de babar-ovo-de-branc’o. Eu os entendo. Você não pode mentir para o seu coração. Osíris sabe disso.
A questão não é saber o que você pensa, e o que sua boca diz, a questão é saber onde está seu coração.
Aquilo que domina o seu coração, te domina. Quem controla seu coração, controla você. Assim é.
Daí vocês entendem a importância dos meios de comunicação de massa como forma de controle social: a televisão, a internet, o rádio, os jornais impressos etc.
Meia dúzia de famílias controlam o grosso do jornalismo na terra. Eles não são otários. Abrir mão disso, é abrir mão de governar o coração da terra.
Tais meios são muito valiosos porque tem a capacidade de falar ao coração. Não se trata de falar a verdade, mas de falar ao coração. Aquilo que é dito ao coração, se torna verdade. Ponto. Quer você queira, quer não.
O coração é sede dos afetos, das emoções, dos sentimentos. A verdade se produz no coração.
Daí coisas ridículas podem conduzir as pessoas, tais como o Medo de “mamadeira de piroca”. Pouco importa se é verdade ou mentira a existência destas mamadeiras, o Medo é a verdade, produz a verdade. O mesmo vale pra tal “pirâmide de opressões”. Certos ‘gênios’ põem as mulheres negras lá embaixo na tal pirâmide, mesmo que isso não tenha respaldo em dado algum. E por que as pessoas aderem? Porque se identificam, porque tem seus corações tocados por esta narrativa.
Onde estiver seu coração, lá estará seu tesouro.
É por isso que falamos “Menos Marx, mais Garvey”. É por isso que falamos “mais Blackflix, menos Netflix”.
Mas vagabundo de coração pequeno não compreende e nem compreenderá. Seus corações estão nas mãos dos branc’os.
É por aí que vamos entender que na hora do caô, na hora que a-cobra-fuma, na hora da onça-beber-água os intelectuais negros preferem nos desqualificar à romper com seus amigos do mundo branc’o.
E Por quê? Não é porque necessariamente ganham dinheiro do branc’o. Não. Poucos ganham algum dinheiro. É porque seus corações estão na cidade branc’a. Eles a amam.
Pouco importa sua militância retórica, da-boca-pra-fora. Pouco importa seus textos e pesquisas afrocentradas, pouco importa suas estampas africanas nas camisas. Na hora do meio-dia o coração pesa.
Onde está o coração?
Decorre daí a disposição. A coragem na luta.
A palavra coragem tem — olha só que coisa — o mesmo radical de coração (coeur).
Coração-coragem. Coragem é força que vem do coração.
Entende? A coragem não vem do que você sabe, nem do que você acha ser o correto. Um monte de gente sabe o correto a ser feito, mas não tem coragem pra fazer. Sim. É um ser divido, seu coração não está naquilo que sabe, está naquilo que ama. E aquilo que você ama lhe domina, te conduz, te arrasta, te anima.
A pele é preta e o coração é branc’o.
Somente por aí podemos compreender a vida de um Steve Biko, de um Fanon, de um Malcolm, de um Zumbi. Estes foram mortos porque tinham o coração no mundo africano. No mundo negro. Eram, assim, homens absurdos. Corajosamente absurdos, pois sabiam que iam ser assassinados se continuassem com aqueles corações.
Ser absurdo é ter coragem para amar o povo afrikano. Custe o que custar.
Lá onde está seu coração, estará sua coragem.
Lá onde está sua coragem, estará seu amor.
Lá onde está seu coração, estará a verdade.
Maat Kheru