Por que estou fazendo isso?

Iza Ananse
revistaokoto
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3 min readMar 11, 2021

Entender-se é um desafio constante em nossas vidas, a todo tempo buscamos coerências que justificam a nossa existências e motivos, até porque se essa pergunta não for respondidas frequentemente esquecemos qual a necessidade de fazer o que estamos fazendo, acredito que a no princípio de todos os hábitos que executamos de forma rotineira começa a partir de uma necessidade, um porquê ou um motivo. Como por exemplo, só entendemos a importância de manter os dentes limpos após uma experiência dolorosa de ficar noites sem dormir, perdê-los ou gastar horas agonizante num consultório gelado, só lembramos de economizar grana após um perrengue financeiro que nos levou a uma ou várias privações.

E a dor acaba sendo uma aliada quando o assunto é conhecer-se e entender os seus reais motivos para estar executando alguma atividade, seja ela qual for.

A dor vai te auxiliar como um parâmetro limitador onde você pode superá-la ou sucumbir às suas imposições, a dor é desconfortável e insatisfeita então a ausência dela pode significar que algo está em estagnação, a dor reverencia o vencedor que lhe passou uma rasteira , mas jamais desiste pois ela caminha lado a lado com a vitória.

A dinâmica de vida é uma experiência complexa pelo fato de não conseguirmos encontrar um conforto absoluto, onde tudo funciona corretamente numa ordem, numa harmonia que nós consideramos ideal, e se procurarmos por isso estamos procurando motivos superficiais que nunca terá a suas expectativas atingidas e logo vamos amontoar um castelo de frustração, perdendo totalmente a confiança no nosso potencial, e daí só restará o desânimo que vai reverberar em todos os meios de convívio que estamos incluídos.

Fazer a pergunta do “‘por que estou fazendo isso” , é tipo o capitão de um navio quando consulta a bússola para saber prá onde está indo, essa pergunta te coloca no eixo correto por que dela sai as respostas necessárias para reacender os motivos que foram apagados com o tempo. Se tratando de comunidade autônoma preta entendo que mais do que fazer é preciso compreender o porquê, pois o processo é doloroso, é inconfortável e o processo vai selecionar quem aguenta as porradas e continua de pé, é muito mais do que bater, é sobre suportar, sobre saber esquivar e é sobre precisão na hora de bater. A nossa luta por autonomia é um jogo lento de capoeira de Angola, qualquer movimento rápido baseado na emoção pode atrapalhar a beleza harmônica criada pela roda como um todo, desde um toque de situado num instrumento a uma voz distraída e acelerada no coro. Engana-se quem pensa que no caminho da dependência encontrará um paraíso iluminado, pois não vai, ao mesmo tempo que se beneficia da estrutura do sistema paternalista branco o mesmo exige muita dedicação e renúncias, ou seja… nem lá o conforto tão sonhado será alcançado.

Então pre entender a essa questão existe uma frase bem simples: “ se correr o bicho pega, se ficar o bicho come” Na encruzilhada da autonomia e subordinação encontraremos dor, porém quem corre por autonomia mesmo com dor sai do lugar e deixa caminhos abertos para quem vem depois, quem fica por subordinação sucumbe a dor, não sai do lugar e torna cativos da suas decisões a vida dos seus posteriores.

E a cada ciclo essa encruzilhada se repete, por isso é preciso recorrer a bússola pra reorganizar as nossas decisões.

Iza Oliveira

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