Projeto Bota o Corpo pra Jogo!

Táíwò Òkòtó
4 min readApr 22, 2018

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Uma iniciativa do Kilûmbu Òkòtó e de sua escola dedicada à educação em dinâmica racial que busca trabalhar essa consciência racializada no corpo.

O que é o Projeto Bota o Corpo pra Jogo!?

O projeto Bota o Corpo pra Jogo! é uma iniciativa no âmbito da educação em dinâmica racial que foca em trabalhar a potencialização de corpos negros sob a perspectiva do enfrentamento ao racismo. Aqui, a Capoeira será utilizada para o ensino de noções fundamentais de defesa pessoal e como vetor de desenvolvimento do condicionamento físico.

Os encontros contarão ainda com algumas atividades complementares relacionadas a uma outra dimensão específica do cuidado com o corpo, podendo ser:

  • Noções de primeiros socorros, o que é essencial para um corpo sob constante risco;
  • Questões referentes à uma dieta própria para o corpo preto, pautando alimentação ital e apontamentos dos estudos do Dr Sebi;
  • A prática de Yoga Kemética, para o desenvolvimento do equilíbrio físico e energético do nosso corpo;
  • Outras expressões, pra além da capoeira, que explorem nossa corporeidade, como o funk e a dança afro.

Por fim, vamos apontar a presença na capoeira de questões desenvolvidas pela intelectualidade e espiritualidade negras, numa sinergia que faz dessa nossa expressão de corporeidade a coisa mais refinada que conhecemos em matéria de combate ao racismo.

É isso! Se liga aí nos paranauê. Pois estamos chegando com o projeto Bota o Corpo pra Jogo!, uma espécie de “Dissecando o Racismo pro corpo (pra corporeidade)” que ofereceremos para a comunidade negra ao longo do segundo semestre de 2018, em encontros mensais, marcados para as manhãs dos domingos subsequentes às edições de cada mês do Dissecando o Racismo.

A Justificativa

Todo mundo sabe e vocifera que, pras coisas andarem, a gente vai ter que fazer e acontecer. Porém, mais certo que o fato de que as coisas não vão se resolver sem conflito, e de que ideia nenhuma se materializa sem um corpo pra executa-la, é o fato de que nossa militância não tem seu corpo minimamente preparado pra atritos. E o pior: mal pensa nisso.

Trabalhou demais a mente, esqueceu do corpo… aí, quando o bicho pega, pra resolver a demanda, vai ter que se apegar ao cartesianismo e se valer do corpo do outro. Malandramente, vai querer ser a parte que manda, não a que executa. Porém, sabendo que via de regra só há um corpo disponível a ser mandado por outro – que sabemos bem qual é – fica fácil concluir que esse cartesianismo sustenta e se sustenta no racismo. Logo, não é no mínimo estranho – beeem contraditório – combater o racismo se apoiado em seus mecanismos?

Mas aí também tem aquela situação. A criatura não está em condição mas resolve mesmo assim meter o louco. Olha! Não aconselhamos. Se não dá pra tu, fique na sua. Se aprende na capoeira que às vezes é melhor deixar ruim pra não ficar pior. Se o mar não dá pé e você não sabe nadar, o melhor a fazer é não entrar. Ainda que seja uma pessoa de muita fé, devoto de Yemanjá… não vá. Não entre onde seu corpo não vá acompanhar.

Se entrar, a verdade é que você vai se atrapalhar e ainda vai atrapalhar os outros. Porque alguém vai ter que cuidar de tu. Alguém vai ter que te carregar. As consequências da responsabilidade que você não teve consigo vão fatalmente cair no colo de alguém. Tu vai pesar pra outro.

Outra coisa que se aprende na rua e na capoeira é que a primeira pessoa que deve considerar e respeitar suas limitações é você mesmo, porque o mundo não tá nem aí pros seus problemas. Não dá pra vacilar e esperar que o outro te entenda, te perdoe. Aprende-se também nesses espaços que ser responsável consigo, pelo exposto no parágrafo anterior, também é ser responsável com o outro, com a sua comunidade.

Por tudo isso, precisamos refletir com mais seriedade sobre o cuidado com o nosso corpo, sua potencialização para fazer frente ao racismo. Afinal, não temos uma polícia pra nos defender. A que tem, precisamos nos defender dela também. É preciso que saibamos, ainda que minimamente, zelar pela nossa integridade física, nem que seja se valendo do recurso de correr, aquele recurso bem básico que muita gente da militância vai fazer vergonha se for testado (rss).

O “nós por nós” é imperativo aqui. Não dá pra vacilar. Não dá pra contar com ninguém antes de nós mesmos. O que a gente precisa e não tem, a gente cria, improvisa. Enquanto o melhor não vem, a gente faz o melhor do que se tem. É o mais sensato a fazer.

Esse é o princípio fundamental do Kilûmbu Òkòtó e de sua escola voltada à educação em dinâmica racial, que já oferece à comunidade o Dissecando o Racismo e, agora, traz essa iniciativa que lhe é complementar, o Bota o Corpo pra Jogo! Porque a educação racial tem que levar em conta também a questão da inteligência corporal, não apenas a intelectual.

Já já essa proposta está na pista. Como já foi dito, basta ficar ligado nos paranauê. Nossa Escola de Vadiação, com suas aulas de capoeira, não pára de ferver. Esse espaço é uma espécie de encubadora de projetos voltados à emancipação do nosso povo. Em breve tem mais coisa tomando corpo. Cola com a gente que é sucesso. Só vem.

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