Qual é a autonomia de um presidente negro?

Akinwunmi Bandele
revistaokoto
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3 min readOct 17, 2022
Por Diego Alberto

Barack Obama esteve na presidência dos EUA entre 2009 e 2017. Sendo os EUA um país originalmente racista, podia até ser algo positivo né? Afinal seria um progresso pra comunidade “afro-americana.” Seria esse o fim de todo o racismo e as injustiças recaídas sobre a comunidade negra desde a fundação desse país? É o que esperariamos do primeiro presidente negro de uma das maiores potências do mundo.

Bom, como dito anteriormente, Obama governou por 8 anos (2009–2017). Entre 2010 e 2012, dados mostravam que “Negros eram oito vezes mais propensos a serem assassinados do que brancos nos EUA”.

Em 2014, no segundo mandato de Barack Obama, os “afro-americanos” representavam 3% da população carcerária norte-americana, conta 1% dos hispânicos e 0,5% dos brancos, isso tudo em uma comunidade em que os “afro-americanos” representam 13% da população total de norte-americanos. Ou seja, a comunidade negra é pequena, e ainda assim o governo americano conseguiu a proeza de manter encarcerada aproximadamente uns 30% dessa comunidade.

Ocorreram diversos tipos de violencias contra a comunidade negra em seu mandato. Desde jovem negros desarmados sendo alvejados pela polícia até supremacista branco adentrar uma igreja negra e abrir fogo. Qual foi a reação do então presidente?

Nos discursos Obama fala em “um controle sobre as armas de fogo” que ele até tentou aprovar medidas nesse sentido, mas recebeu recusa em todas as vezes, mesmo com a bancadas composta em sua maioria pelos seus companheiros de partido, os democratas. Obama sempre fala do racismo como um “problema norte-americano” e ai vem o questionamento, se a população “afro-americana” é quem tá sofrendo e Obama diz que o problema é “norte americano”, então podemos dizer que o branc’o “norte-americano” não quer que esse problema seja solucionado, certo?

Quando houveram tensões raciais e protestos por morte de negros em 2014, dois policiais foram mortos pelos negros que estavam protestando e a reação de Obama foi condenar os negros que mataram os policiais. (?)

Nesse tempo inteiro, Obama só fez o presidente que discursa muitas vezes como um homem que agrada todas as raças, sem brigar com nenhuma das partes e sem ações afirmativas para mudar a situação da comunidade negra. Cercado de congressistas brancos, Obama não tinha nenhuma autonomia, e digo mais, se fossem congressistas negros não mudaria também. Hoje continua acontecendo os mesmos assassinatos mesmo com o recorde de políticos negros enfileirando as cadeiras.

Quando a política é branc’a e trabalha para manter os interesses dela, não importa quem a cor de quem vai ocupar estar lá, os que mantém o poder já se certificaram de que aquele homem ou mulher que tá ali vai ser o político perfeito pra continuar mantendo o racismo daquela nação.

Lembram de Marcus Garvey citar que a Klu Klux Klan era a tal mão invisível do governo americano? Isso fica muito óbvio não só com a continuidade do genocídio com Barack Obama, como também na mortes de Marcus Garvey, Malcolm X, Fred Hampton, entre outros de forma brutal por uma inteligência investigativa ligada diretamente ao governo americano (FBI). Eles, os branc’os, controlam as leis racistas e as instituições pra dar continuidade e manutenção, é o que eles sempre quiseram e isso não terá fim. O problema não é ter muita ou pouca arma na mão das pessoas, nem tão pouco norte-americano, é um problema africano, e só pode ser solucionado por nós mesmos, não existe concessão, nada é da nossa jurisdição nas nações controladas por eles nas Américas.

Nas eleições de 2022 no Brasil, estão alimentando a candidatura de um negro para presidente, eu conto ou vocês contam?

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Akinwunmi Bandele
revistaokoto

Estudo e leciono História no nosso Instituto de História da Áfrika e sua diáspora do Kilûmbu Òkòtó.