Qual é a base dos nossos problemas?

Priscila Argolo
revistaokoto
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3 min readMay 25, 2022

A base dos problemas que temos como um povo é o método com o qual somos educados. Isso quer dizer que o modo como somos educados reflete no modo como vemos o mundo. Tudo pode mudar de acordo com a perspectiva e, nem sempre, o que vemos e/ou ouvimos pela primeira vez terá o mesmo significado que uma segunda análise.

Amos N. Wilson nos diz que “é vital que entendamos que a maior função da educação é ajudar a proteger a sobrevivência de um povo”, primeiramente pelo fato de que o sistema operacional, aquele que opera no seu modo de pensar, será responsável por dizer quem o educou e quem você ajuda a sobreviver.

Os “responsáveis” pela educação dos pretos são os mesmos que colocaram correntes nos punhos de nossa linhagem, a única diferença é que as correntes atuais os fazem perder o controle e consciência do que significa construir o que for preciso para a emancipação do povo preto do mundo.

É por isso que Carter G. Woodson conta que “a educação de qualquer pessoa deve começar com as próprias pessoas.” Isso explica o porquê há tantos conflitos raciais em instituições e lugares frequentados por pessoas brancas, pois eles aprenderam desde o início de sua inserção no mundo o que significa ser branco, assim como as pessoas pretas costumam acreditar e emular.

Se temos um problema de educação, significa que o modo como vemos o mundo pode estar nublado pela necessidade do branco, pois todo o sistema de ensino que somos obrigados a desejar, nos ensina também que, se não vivermos de acordo com seus ensinamentos, jamais poderemos fazer parte do grupo de pretos de elite que são convidados para festas da Vogue.

Então, significa que frequentar lugares majoritariamente pretos vai me impedir de sofrer racismo? Em grande escala, sim. Enquanto há pretos que repudiam o estilo Carlton Banks por operar o sistema branco e entregar sua energia ao branco, há muitos outros que o vêem como o exemplo perfeito de um homem preto se apresentar no mundo, já que ele faz parte da nata do “primeiro da família a ir pra universidade.”

Sendo assim, nem sempre a palavra ‘representatividade’ será bem vista por nós, pois é muito preocupante que os brancos ganhem incontáveis montes de dinheiro com a nossa imagem, enquanto estamos recebendo migalhas para que suas marcas lucrem com a nossa beleza e genialidade.

Assim como, nem sempre estar na academia — qualquer sistema educacional desde o fundamental I ao último patamar — significará ter poder sobre a disseminação do conhecimento correto para o povo preto, pois qualquer estudo que faça, é embasado nos moldes brancos de construção de saberes.

Muitos pretos que dizem que a academia trouxe dignidade a eles, levam sabedorias ancestrais para as bibliotecas brancas achando que estão elevando a imagem de seu povo, sendo que só estão revelando os segredos e cultura africanas de mão beijada em troca de um diploma.

Olha só! Agora não é mais necessário que o branco utilize o preto como objeto de estudo, pois seus discípulos que foram “salvos” pela educação do colono o fazem nas normas da ABNT, porque é confortável que o branco fique no seu lugar avaliando bancas, enquanto é o negresco que vai sugar o terreiro pra ter seus TCCs, dissertações e teses aprovados pelo branco.

Porque se você foi aprovado pelo branco, significa que está ajudando na sobrevivência do povo branco.

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Priscila Argolo
revistaokoto

Ninguém me deu permissão pra sonhar, mas eu já sabia o quanto era bom. Mãe do Jota, companheira do Marquinhos e a humana da Akira.