Quem não é visto não é cobrado, logo, não cresce

Stephanie Manu
revistaokoto
Published in
6 min readDec 29, 2021

Por muito tempo eu me omiti.

Desde que eu me entendo por gente eu sou uma pessoa tímida, até antes, possivelmente eu já era, a julgar pelas histórias que me contam sobre a Manoella bebê, então é o normal, mas não pensem que é o meu natural. A vida toda eu sofri com isso, eu sempre quis falar mais, ser mais vista, ouvida, ter mais amigos, colocar as milhares de ideias que eu tenho na minha cabeça pra fora, fazer as coisas acontecerem. E eu evoluí muito nisso, vocês podem pensar que “A ela é muito quieta, muito calada” mas se fizer uma comparação com dois anos atrás, vocês vão ver a enorme diferença entre o eu de hoje e o do passado. E se pegar mais longe ainda, da minha infância, vocês não acreditariam que é a mesma pessoa. Eu tenho muito orgulho de todo esse caminho que eu passei, tudo que me tornei hoje, eu lutei por isso. Mas eu sei que ainda não acabou. Já tem um ano que eu sei que eu preciso dar o próximo passo, que eu sei o que precisa ser feito para crescer e evoluir mais uma vez. E já tem um ano que eu to enrolando pra isso, que eu to fugindo disso, fingindo que não sei o que eu preciso fazer, sendo que já foi me dito de várias formas diferentes. Mas crescer dói né galera, sair da zona de conforto doí, é sofrido, é difícil. E durante todo esse tempo que eu sei disso e não fiz eu fui cobrada de uma forma bem tênue, por 6 meses eu tive toda a calma e paciência do mundo pra fazer o que precisava e não fiz. Mas a gente não tem todo tempo do mundo pra sempre. Então dos últimos meses pra cá o que eu recebi foram consequências da minha negação a evoluir na minha vida. Todas as paradas que não ocorreram de maneira certa e que não me agradaram foi por falta de coisas que eu devia ter feito a muito tempo e não fiz, eu fui cobrada e muito cobrada, pelo meu medo de crescer. E tudo que acontece, vem me mostrando isso, que já passou da hora de eu virar essa chave, já passou da hora de eu cumprir com o que me foi posto, já passou da hora de eu fazer meu ebó.

E qual é esse ebó?

Por mais que eu tenha perdido minha timidez ao longo dos anos, e agora eu até consiga falar muito bem em público com um pouco de treino, eu continuei me colocando fora da linha de frente das coisas, fora das decisões finais. Até coisas que remetiam só a mim exclusivamente eu deixava, ou preferia deixar pra outra pessoa decidir. É a fuga da responsabilidade, porque fugindo da decisão, deixando o outro decidir pra você, você se livra de responder sobre os ônus ou bônus dessa decisão. Ou seja, se ganhar você não recebe os créditos, mas se perder você também não recebe a culpa. É como se omitir da vida. Quase um fantoche movido pelas decisões dos outros, sem escolha própria. E em que lugar isso nos coloca? Vivendo a vida de outra pessoa. É óbvio, que eu não vivi assim em todas as faces da minha vida. Até porque tem situações que nos obrigam a ser autênticos. E também tem circunstâncias que sempre foram mais fáceis para mim de lidar. Mas ainda havia partes importantes da minha vida que eu simplesmente estava deixando levar. Muitas situações dentro mesmo do Kilûmbo eu deixei de falar, eu fugi do meu lugar de responsabilidade, eu deixei outro tomar a decisão que eu poderia ter tomado. Eu deixei de aproveitar as situações de aprendizado por medo. Deixei outros assumirem a responsabilidade que era minha. É um peso a mais que o outro recebeu pela falta da minha voz ali.

Uma frase que o Taiwo disse em uma reunião casou muito sobre essas paradas que eu estava pensando. Eu não lembro exatamente como era a frase, mas era algo do tipo “Quem não é visto, não desenvolve”. Isso porque, se ninguém te vê, ninguém pode te apontar aonde você está errando ou acertando, por mais que nós mesmo somos os precursores da nossa própria evolução, a gente não é completo sem o outro, sem uma comunidade, até por que a nossa melhoria é uma melhoria pra comunidade, a sua evolução é um ganho pra comunidade, assim como a evolução da comunidade é um ganho pra você. Os dois precisam evoluir. É necessário pra se manter o equilíbrio. E um não consegue sem o outro. E por todo esse tempo que me escondi, não falei, deixei de ser vista, eu impedi a minha melhoria. E impedi a em parte também a melhoria da minha comunidade. Não é como a comunidade precisa de mim especificamente. Mas eu dentro de uma comunidade, faz parte da minha responsabilidade o meu crescimento, pois o meu crescimento afeta o crescimento da comunidade. Ela cresce independente de mim como indivíduo, mas o meu desenvolvimento afeta positivamente o crescimento da comunidade. Então é uma dupla responsabilidade.

Além disso, eu quero crescer por mim. Eu tenho uma questão que é: quase tudo que eu peço muito, eu consigo. Não que venha da mesma forma que eu esperava, ou que no final seja algo bom pra mim, mas eu consigo e eu sinto que as coisas só não acontecem da forma que eu quero ou de uma forma boa, porque faltou a minha parte no ebó para ter o resultado, por que é me dado o caminho, é me dado a oportunidade, só falta agarrar, e isso tem um custo, o custo que eu deixei de pagar por muito tempo, me fazendo não ter o resultado completo, não conseguir alcançar em totalidade o que eu queria.

Na época que eu fazia terapia, minha psicóloga tinha me falado que o que me faltava era energia masculina, eu estava em desequilíbrio por ter muito mais energia feminina do que masculina. E realmente. A energia masculina é a energia da coragem, de fazer as coisas acontecerem, de ir na frente, de aparecer, bancar as paradas, dá a cara a tapa, coisas que podem ser vista até como irresponsáveis mas que na verdade são as características que fazem as paradas andarem, a ir pra frente, sair do lugar. É a energia da criação. Da evolução. Nada muda se você não se desafia, não desafia o mundo. Não há mudança dentro da sua zona de conforto. Não há crescimento.

Eu sempre me condiciono a falar menos, porque falando menos você tem menos chance de falar merda kkkk mas ao mesmo tempo, falar muito pouco você impede as suas ideias, opiniões de saírem, você se impede de ser visto e julgado e se impede de crescer. Os dois lugares são ruins, o de falar muito ou o de falar muito pouco, assim como o de ter muita energia masculina ou muita energia feminina, o segredo pra tudo é o equilíbrio. É isso que a gente tem que procurar como povo, assim também como indivíduo. Todas as coisas estão conectadas e por isso tudo precisa estar em equilíbrio para funcionar bem. E não tem como saber se está ou não equilibrado se não for visto. É preciso ser visto para ser cobrado, regulado e crescer. E assim ficar mais perto do equilíbrio.

As coisas não acontecem se não forem feitas ne kk as coisas só acontecem se você fazer e é melhor tentar fazer e errar do que não fazer, se errar é só corrigir, se não fizer, você nunca vai saber. Então façam, desenvolvam essa energia masculina dentro de vocês, sejam os precursores da sua própria mudança. É um recado muito mais pra mim do que tudo, mas escrever sobre isso já é o primeiro passo disso tudo.

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