Rubin “Hurricane” Carter

Aline Daiana
revistaokoto
Published in
3 min readMar 2, 2021
Ilustração: Izaias Oliveira

Só desauge esse lance de justiça e o famoso “Justiça pra quem?”. Várias queixas sobre esse assunto, a política dessa supremacia em que a gente vive é criada pra manutenção do circo que eles armaram, racismo que fala né!? A gente finge costume, sorri e acena?

Enfim… Não foi aceitando essas condições que viveu o mano Rubin “Hurricane” Carter, sua vida é sinônimo de liberdade, mesmo passando a maior parte dela com grades ao seu redor.

Em Clifton, Nova Jersey(EUA), nasceu o mano Rubin, mais especificamente em 6 de Maio de 1937. Era o 4° de 7 filhos e, desde pequeno, muito espirituoso e cheio do axé, dessas cria que não leva desaforo pra casa.

Com 11 anos, se meteu numa treta que praticamente estabeleceu uma “trajetória”, vai vendo… Um diazinho suave curtindo com os parçinha, brota um velho zoado lançando sujeira de pedofilia. O Rubin era ligeiro e cantou a bola mandando geral correr. O cara na covardia segurou o Rubin, ele se defendeu como pôde e saiu vazado. O cara, que saiu no “prejuízo”, pagou de carniça e a polícia deteve Rubin, ainda criança.

Condenado ao reformatório juvenil por agressão contra um homem branco, aguentou o tanto que conseguiu e depois deu fuga. Serviu ao exército na Alemanha Ocidental e lá flertou com o boxe. Depois da sua dispensa, foi pras ruas e daí foi só “thug life” e, logo, o presídio novamente.

Na prisão e cheio dos conflitos, Rubin decidiu transformar seu corpo em uma máquina, e o boxe preencheu maior parte do seu tempo. Ao sair da prisão, se tornou um pugilista peso-médio do brabo, foi apelidado como Hurricane (furacão) por conta dos nocautes aos adversários logo no primeiro assalto.

Com mais de 12 vitórias consecutivas, sua carreira no boxe estava decolando, mas, em 1964, num desafio contra o detentor do cinturão da categoria, Rubin golpeou o adversário muitas vezes em todos os assaltos, ao final da luta, por não tê-lo derrubado por nocaute, os juízes mantiveram o cinturão com o seu oponente, mesmo ficando evidente que Rubin era o vencedor. A partir daí, seu destino no boxe entrou em declínio. Ao perceber que suas habilidades não o faziam vencer e, em meio a tantas injustiças na sua vida, em 1966, foi preso por homicídio, um crime que não cometeu. Foi abordado pela polícia junto com um amigo, testemunhas acusaram os dois de terem assassinado 3 pessoas em um bar: 29 anos e condenado à perpétua.

Novamente as grades o cercaram, quem o perseguia nunca soube lidar com seu sucesso.

Desde pequeno, a liberdade de Rubin não era bem aceita, um homem negro com toda essa potência e “solto” por aí é ameaçador pros carniça. Diante dessa situação, Rubin se viu sozinho, e fez da sua mente sua morada.Na prisão criou hábitos pra resistir ao regime. Não comia a comida feita por eles, fazia a sua própria. Não usava uniforme de prisioneiro. Dormia enquanto

estavam todos acordados e ficava acordado enquanto todos dormiam. Começou a escrever sua autobiografia, que foi publicada 1974. Essa rotina era o jeito que Carter armou pra poder sobreviver naquela condição.

Com o apoio de muitas pessoas que o admiravam, Rubin nunca baixou a guarda, mas os anos foram passando e o desgastando. Não acreditava mais sair daquela condição, várias tentativas frustradas, pedidos de julgamento negados, porém do lado de fora dos portões o ativismo preto ainda estava em ação. Teve apoio de muitos fãs, inclusive de figuras como Muhammad Ali. Teve música em sua homenagem, era como se o furacão de Rubin pudesse atravessar as Grades, ainda indomável. Enfim, depois de tantos anos trancando o furacão, a “justiça” do homem branco se via ameaçada pelo ativismo e concedeu a liberdade a Rubin alegando racismo ao caso. A pena foi anulada e, em 1985, após 20 anos, Hurricane pulou fora daquela condição pra nunca mais voltar. Dedicou o restante da sua vida a ajudar pessoas presas injustamente, fundou a organização “Innocence Canada” de 1993 à 2005. Teve um filme da sua história estrelado por Denzel Washington, “The Hurricane”, que rendeu indicação ao oscar pela sua atuação impecável.

Hurricane faleceu aos 76 anos, vítima de um câncer em 2014, exemplo de força e resistência desenhado em sua vida.

Máximo respeito ao Furacão!

--

--