Juliete Vitorino
revistaokoto
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4 min readFeb 11, 2021

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Por Izaias Oliveira

“Se uma pessoa quer me destruir isso é problema dela, se ela tem poder para me destruir isso é problema meu”

Kwame Ture

Kwame Ture sempre fala da importância da organização. Já discursou diversas vezes sobre a diferença entre mobilização e organização.

Kwane Ture, não deveria ter sido encontrado pela polícia porque nos seus registros recebe o nome de Stokely Carmichael, nasceu na cidade de Trindade e Tobago em 1941 e morreu em 1998 em Conakri, na Guiné, e mesmo tendo trocado de nome Ture foi preso mais de 19 vezes.

As pessoas frequentemente são movidas por sentimento de culpa, e para dormir tranquilamente elas se mobilizam. Se mobilizar mexe com nossa emoção porque nos deixa com o sentimento de dever cumprido. Se em uma grande rede de supermercados os seguranças são treinados para matar gente preta, então sempre que esse supermercado matar algum preto, as pessoas se mobilizarão. Vão até lá, fazem protesto, ateiam fogo, destroem uma parte do supermercado e depois retornam para suas casas com a sensação de dever cumprido, com a sensação de que, apesar de vivermos em um sistema de merda, em um sistema racista, a gente está fazendo a nossa parte.

A mobilização inclusive é desarticuladora da organização.

Em um Congresso sobre Afrocentricidade, Kwame Ture dá o exemplo de duas pessoas grandiosas para o movimento negro, Martin Luther King e Malcom X.

Martin Luther King foi um grande mobilizador, ele mexia com a emoção das pessoas, tirava milhares de pessoas do conforto da sua casa para irem protestar por aquilo que achavam justo, fizeram grandes protestos nos EUA. No entanto, King nunca conseguiu ganhar nem para Presidente da sua igreja, porque ele não era organizado. Inclusive quando se candidatou foi um desastre, no comício teve até morte.

Já Malcom X, em cada lugar que pisou construiu uma mesquita.

A gente só constrói coisas para nosso povo que ficaram para a posterioridade quando a gente se organiza, quando colocamos a mão na massa, sem essa necessidade cristã de dormir com a consciência tranquila, mas com a certeza que só nos moveremos enquanto povo quando decidirmos fazer o que é preciso fazer. Sem sentimentalismo.

O Panafricanismo não é uma resposta ao colonialismo, ao capitalismo ou ao que quer que eles tenham criado para nos destruir. Ainda que sirva como resposta, o Panafricanismo é anterior a tudo isso, é muito maior que tudo isso. Ainda que o Panafricanismo seja mais falado na diáspora, ele não foi criado aqui. Talvez seja mais falado porque nós necessitamos mais dele, necessitamos viver mais ele, já que em África isso é uma prática, eles vivem isso desde os primórdios, desde que o mundo é mundo e ainda que o colonialismo tenha feito muita desgraça na cabeça do nosso povo, o espírito que nos move ainda é muito vivo em nós.

Se a gente não está organizado e fazendo o que precisa ser feito por qualquer meio necessário, o maior poder que teremos quando alguém nos mata, nos fere, nos dilarcela é fazer textão nas redes sociais para ter o falso compadecimento dos yugurys, a mobilização de alguns dos nossos que pode inclusive gerar mais morte e nenhuma ação efetiva. Se você está organizado, quase ninguém tem coragem de mexer com você e se mexer sabe que vai pagar muito caro por isso.

No entanto, algumas pessoas apesar de “quererem” estar organizadas, não estão dispostas a pagar o preço de estar organizado, porque uma organização para funcionar precisa dos braços de todos que fazem parte daquilo. No entanto, tem gente que vive de fazer corpo mole, se fazer de coitado, chorar piedade, implorar compaixão, mas não está disposto a fazer o que precisa ser feito. As organizações sempre têm que lidar com o bonito que acha mega demais sair em foto de bonde, pagar de organizado e que não move uma palha para fazer a organização crescer e ter o nome que tem. Porque estar organizado é bonito, e se você é expulso de uma organização ninguém nunca vai poder dizer que você não tentou.

A imagem construída do seu povo depende também de como você lida diariamente, se alguém tem o poder de matar o seu povo todos os dias, humilhá-los, feri-los, isso é também sobre você, isso é também um problema seu, e para mudar isso é necessário fazer um trabalho incansável, um trabalho que não te dará noites de sonos tranquilas, um trabalho de construção onde é necessário colocar um tijolo sobre o outro e arrumar quando der errado, é um trabalho de construir desde o começo e não ficar reformando. É um trabalho de construir os nossos espaços e não ficar implorando para caber nos espaços deles. E eu posso te assegurar, de noite Jesus Cristo não vai te consolar, ao amanhecer o Sol brilhando ou fazendo chuva você terá que levantar e continuar, às vezes o preço a ser pago será inclusive sua noite de sono. É muito trabalho, mas com propósito, com autodeterminação e com a certeza que você está fazendo parte do melhor que pode ser construído para o seu povo: A Liberdade.

Texto escrito baseado nas ideias de Kwame Ture, um revolucionário.

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