Semente

Kamila Aranha
revistaokoto
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2 min readOct 8, 2021
Por Iza Oliveira

O que vem depois do fim? Se a gente observar o universo, o mundo ao redor, a natureza, vai poder ver a resposta com os próprios olhos. Depois do fim de um dia, nasce outro dia num espetáculo, como se o sol brotasse do chão. Uma fruta cai do pé, vira semente e renasce na terra. A água evapora e volta novamente como chuva encontrando o solo ou os rios e oceanos. Tudo na natureza é cíclico. Entendo que não tem fim. São novos começos, um após o outro. Não por coincidência, os recomeços são na linha de "Kalunga", que é o nível da terra ou dos oceanos na cultura Kongo. Um portal entre os mundos inferior e superior.

Se "Luvèmba" parecia o fim, "Musoni" vem trazer um novo começo. Dentre alguns de seus significados, representa o (re)nascimento segundo os Kongos. Musoni nos diz que as coisas devem seguir sua ordem natural e passar por todas as etapas. Não se pula etapas, nem se encurta caminhos. Nesta fase é chegada a hora de (re)nascer, (re)encarnar e voltar a "Kalunga".

Em Musoni tudo recomeça, somos sementes. Pensar nisso me remete a como é renovador uma nova vida, uma criança na comunidade. O clima e a energia mudam. É possível sentir essa renovação, não é algo abstrato. É espiritualidade pura. Quem já não viu pessoas se reconciliando depois do nascimento de uma criança? É o movimento da renovação. A comunidade se alegra, afinal é a continuação, a expansão, um novo sol, a ordem natural das coisas recomeçando.

Nesse sentido de ciclos, percebemos que, não à toa, na natureza encontramos formas arredondadas em quase tudo. Nos seres humanos, a própria barriga da mãe, o processo gestacional, os seios que provém o alimento são redondos ou cíclicos.

A cosmologia africana dos bantu-kongo consegue nos ensinar várias coisas diferentes mesmo que a partir de um mesmo tema, e trazendo tudo isso pra prática e voltando para a pergunta inicial, é possível entender que depois de todo fim, vem um novo começo. O que parece um fim pode ser uma oportunidade de fazer diferente, melhor, se fazer novo. Pode ser um novo dia, uma nova chuva ou uma semente germinando.

Por Kamila Aranha

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