Sempre será sobre a comunidade

Dara Makandal
revistaokoto
Published in
3 min readFeb 22, 2021
Ilustração: Izaias

Véi, acho que vocês já tão de saco cheio dos meus textos sobre meu irmão né? Problema de vocês kkkkkk.

Mas dessa vez é um assunto bem delicado, talvez alguém ache pesado, mas eu acho maravilhoso o acontecido. Vocês estão ligados que a gente fez o Kwanzaa né? Foram 5 dias enfurnados com esses toshicos. Pois bem, vou voltar um pouco no tempo. De início, meu irmão chegou e a gente teve a conversa e etc., então, fizemos uma série de acordos que ele não estava cumprindo, e ele teimava que queria que eu fizesse a minha parte, “mas pow, se tu não tá fazendo o combinado, como que eu vou fazer a minha parte?” Deixa estar, antes de irmos ao Kwanzaa, a gente teve uma conversa muito séria, tipo, séria mesmo e ele meio que tinha desistido, eu fiquei triste, mas entendi que ele não queria aquilo, não naquele momento e eu tinha falado pra ele “meu, eu tô te dando o papo, se você quer viver nesses mundo aí, beleza, eu vou te empurrar lá pro fundo e você que lute pra nadar de volta”, mano, nem eu acreditei que falei isso, sei lá, eu tava bem brava na hora e foi muito no automático, porque apesar dele ser uma criança, ele sabe muito das coisas, ele é muito inteligente e entende bem, até porque a gente já tinha conversado sobre racismo e das situações que ele sofreu em apenas 14 anos de existência. Besta quem acha que ele é besta. Hahahaha

Desacreditada, fomos pro Kwanzaa, ele achando que ia apenas curtir e aproveitar a piscina e eu “você que lute”. Chegando lá, foi o meu baque e o dele hahahaha.

Chegando lá, foi imersão total, maluco, vocês inspirava e expirava capoeira, não tinha um momento em que alguém não tivesse tocando berimbau, pandeiro, agogô e etc. Treinando, fazendo uns movimentos, e por incrível que pareça o menó tava lá, se inteirando de tudo. Ele acordava cedo pra saudar o sol (papo de 4:30 da manhã), ele ia tocar berimbau, ia tocar pandeiro, treinava mais, ia se divertir, tinha tempo pra tudo e aí como ele ama falar, ele embalava em uma série de perguntas, “e isso?”, “E aquilo?”, “Taíwò isso”, “Num sei quem o que”, Manoooo eu já tava “Garoto respiraaaaa, caaaaaaaaaaalma”. Porque literalmente entraram na cabeça dele, desprogramaram ele (Aleluia igreja kkkk).

Ele pode até me matar, mas o Taíwò é o ídolo dele, acho que se tivesse um pôster do Taíwò, ele colocaria no quarto, porque é sobre exemplo também, é sobre se ver no outro. Por mais que eu faça, por mais que eu fale, não tem o mesmo olhar que um outro igual fazendo. Fomos criados por mulheres, só temos mulheres como exemplo, ele particularmente não tem nenhuma figura masculina em quem se inspirar e enxergar, rapidamente ele fez esse laço com o Taíwò (mesmo que o Satanás não tivesse sabendo kkkk e até o Balogum entrou na parada e vocês que lutem negoh).

Nesse Kwanzaa, ele viu que tudo o que eu falei era verdade, que todas as conversas que tivemos faziam sentido, mas precisou de apenas 5 dias em comunidade, com mais exemplos e com uma imersão nervosa, para fazer sentido pra ele. Enfim, o meu baque foi esse, de que eu não estava fazendo nada errado, só que eu não era eu o exemplo, não era sobre mim e ele, não era sobre o que eu estava fazendo de certo ou errado, era e sempre vai ser sobre a gente e a comunidade.

--

--