Ser correnteza

Àbáyọ̀mí Rametj
revistaokoto
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2 min readMay 4, 2022

“Faça um homem perder sua confiança em seu povo e em um Deus, e o caos será instaurado e a anarquia varrerá o mundo e a sociedade humana será destruída” — Marcus Garvey

Essa frase de Garvey define muito bem a razão do declínio do povo preto. Os primeiros esforços que os europeus fizeram para nos colonizar e nos escravizar foi destruir aquilo que nos faz fortes, que é a nossa ancestralidade, nossa energia, nosso Àṣẹ. Uma vez que essa energia foi cortada e perdemos nosso espírito, nos tornamos apenas cascas, mortos-vivos. Nossa espiritualidade é tão importante para nós que manteve viva, com todos os percalços, nossas tradições aqui no Brasil, permitiu que nos rebelássemos no Haiti, dentre outros grandes feitos que fomos capazes de realizar dentro dessa tragédia.

É importante refazer essa nossa ligação, é importante que tenhamos nossos ancestrais como referência, nossa cultura como referência. É preciso que não tenhamos vergonha, medo ou qualquer receito de quem somos, pelo contrário. Temos todos os motivos para sermos orgulhosos, pois somos os seres originais e os pais e mãe de toda a humanidade, não apenas biologicamente, mas todas as civilizações aprenderam com África.

No meu caso, particularmente, senti essa energia, o àṣẹ quando comecei na capoeira. Senti e reproduzi aquilo que meus ancestrais fizeram para se defender, o que fizeram pra sobreviver e permitir que eu existisse hoje. Senti que precisava dar continuidade a essa correnteza. Senti em mim um orgulho e uma força que nunca tinha sentido antes.

Vários dos nossos estão construindo caminhos para que possamos nos tornar novamente um povo próspero e orgulhoso, para que possamos deixar as feridas que temos hoje cicatrizarem e se tornarem parte de um futuro. Zumbi, Aqualtune, Nzinga, Mulungu, Marcus Garvey, o próprio Òkòtó e tantos e tantos outros que não sabemos os nomes são a eles que devemos honra e reverência, aos nossos ancestrais.

“Eis aqui eu sou o filho de Kemet

Descendente de um povo que nunca cai

Então entenda que definitivamente

Quem nasceu pra Baobá

Não aceita ser tratado igual Bonsai”

Àṣẹ para nós!

“Um Deus, um objetivo, um destino!”

Viva Garvey!

Viva a UNIA!

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Àbáyọ̀mí Rametj
revistaokoto

Um ser em desenvolvimento, trilhando caminhos através da espiritualidade, da capoeira e dos algoritmos. O àṣẹ de Ògún guia a criação de tecnologias