Ser trouxa ou ser honesto?

Bunmi Mkali
revistaokoto
Published in
4 min readDec 29, 2021
Arte: Vitória Camilly

Existem poucas coisas na vida que são tão fortes e capazes de nos fazer mudar de direção quanto saber que a gente foi trouxa.

Dá aquele baque logo de início, né? Aquele “poxa, eu confiei, fui na inocência, achei que dava pé…” e nessa a gente quase se afoga, mas se dá tempo de perceber, a gente foca em respirar, se acalmar e voltar pra terra firme. Pra ficar de boa? é ruim hein HAHA no geral depois desse tempo meio blé a raiva vem, a gente começa a perceber o quanto a gente foi iludido e o quanto a gente mesmo permitiu, financiou essa ilusão e aí a vontade é se vingar ou no mínimo ficar mais esperto pra não ser trouxa de novo, pelo menos não com a mesma coisa, é o que vai tomando conta.

Qualquer semelhança com o racismo e com o mundo br4nco aqui não é mera coincidência.

Todo dia, todo santo dia tem história de gente que descobre que foi trouxa. No geral eu dou risada, mas esses tempos eu tava pensando um pouco melhor… o quanto a gente descobre que é trouxa e vai procurar abrigo em outra coisa, outra instituição que tá ali com a cama de gato preparada pra gente cair e a gente não consegue ver ou é safado e escolhe cair no golpe, pelas vantagens individuais que isso vai trazer.

Apesar de acreditar muito mais na segunda opção (o mundo tá cheeeeeio de gente safada), acredito que os dois caminhos tem um ponto em comum: o passo seguinte de perceber que a gente foi trouxa é a gente confiar que lá na frente a gente vai conseguir revidar. é confiar no nosso potencial rs é conseguir enxergar algo melhor.

Eu dou 1 real de big big pra quem nunca ouviu ou falou a frase “ah, mas e qual é a saída então? já tirou do forno? tá pronta pra eu comer quentinha?” Quem nunca pensou: sim, eu to sendo trouxa, mas como que faz pra não ser? eu tenho o que é preciso pra esmagar essa rata? e se eu não tenho eu vou fazer o que, continuar na merda? procurar uma merda mais cheirosa?

Pensando num contexto de povo, de galera mesmo, ainda falta muito pra gente ter a força das nossas imagens no nosso consciente, quem dirá no nosso subconsciente (que é o que realmente nos move). Eu não to falando aqui que a gente não tem isso, pq a gente tem um monte, mas ter a força desses exemplos como algo que nos move é uma coisa que a gente ainda tá no começo do caminho (e ainda tem gente torcendo contra falando que Iansã era feminista, mas enfim, isso já dá outro papo, apenas fique quiete quando quiser falar uma besteira dessa, por favor).

Mas não é porque não tem que a gente não tem que fazer. Aliás, meu papi sempre fala: se tem que fazer, tem que fazer kkkkk se não tem até hoje é bem provável que não vai surgir do nada. Mas isso é outra coisa que mexe com a gente: a gente tem força e honestidade o suficiente pra fazer o que a gente quer ver pronto, pra fazer essa ponte entre “fui trouxa” e “agora não sou mais”?

A honestidade é um ponto chave aqui. Sim, eu to falando de influencer que chora racismo, mas faz propaganda pra globo, mas eu to falando também da gente que “entende de relações raciais” mas ostenta roupa de marca ou até, sei lá, bolo no pode de marca, ou ainda tá sonhando em passar ano novo em Nova Iorque um dia, na gente que tem essas vontades, desejos e sonhos e acaba todo dia dedicando tempo, habilidade, conhecimento e outros recursos pra satisfazer cada uma dessas coisas.

Perceber que foi trouxa é importante, mas a gente separa os homens dos meninos quando a gente percebe a honestidade da pessoa em buscar meios de se desvincular de quem brincou com o coraçãozinho dela, por mais que de medo de chegar na beira de um precipício e cair.

Honestidade é o que faz a gente voar, não rastejar por representatividade, por um puxadinho na casa grande… honestidade aumenta aquele fogo da força do ódio, que sem ela seria só fogo de palha.

Ser trouxa, a partir de determinado momento acaba sendo uma coisa que vc escolhe. E ser honesto também. Pra que lado vc vai nessa encruzilhada?

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