Todo tempo do mundo

Arokin Akasia
revistaokoto
Published in
4 min readOct 7, 2021
Arte: Izaias Oliveira

Pelas manhãs quando estou pelo quintal botando o corpo pra jogo ou cuidando do quintal sou constantemente pista de pouso de mosca. Um inseto as vezes minúsculo, muito rápido e barulhento, outras vezes grande mais lento mais barulhento ainda rs. Acontece que a gente se distrai muito com esse bichos, tiram nossa atenção... Ou nos permitimos ser deixado tirar a atenção? Em tentativas quase nulas no início de manter a paz enquanto uma mosca Ziumziumzava no meu ouvido, venho aprendendo a me acostumar com o incomodo. Antes já era algo que pensava sobre práticas esportivas, avançar, ou melhor confiar no corpo quando ele se sente desafiado. Mas daí são os músculos, as juntas, os ossos...

Só isso não é o corpo.

Nossos sentidos também o são, são tanto que ao nascer usamos bem ou mal em maioria isso para nós comunicar. Visão, comunicação, audição, tato, olfato e intuição. Nascemos com eles turvos, sem direção. E muitos dos nossos quando nascem vêem logo de cara um borrão pálido mais ou menos ofuscado poe um clarão de luz, numa estéril sala de cirurgia.

Mas de qualquer forma, esses são os primeiros contatos do nosso corpo no mundo, antes de conseguirmos andar do ponto A ao B sem ajuda de um outro bebê grande. A medida que o tempo passa vamos sendo expostos a situações que afiam ou atrofiam nossos sentidos. Um bebê que utiliza muita chupeta por exemplo pode ter questões nos dentes, na boca, na fala ou até subjetivas, da mesma forma que uma criança com pais que falam mais de uma língua conseguem com mais facilidade se comunicar em mais de um idioma. Da mesma forma um preton que nasce, cresce e vê o pai que deixou sua esposa preta pra catar uma branquinha pode ser influenciado a agir da mesma forma...

PROPORCIONALMENTE ao atrofiamento do corpo, nossos espíritos se atrofiam ao longo dos anos na medida em que o aprendizado é de um corpo que não é o seu, emulando uma cultura que não é sua. E, para nós africanos, cultura é toda espiritualidade.

Portanto, nesse processo de se tornar brancos acabamos por nos perder de nossas almas, já que a cultura do branco é perpetuar se tornar um desalmado.

Aí aquele papo né, Marimba Ani (inclusive vários papos delatão sendo lançados na página Só Garvey e Black Star esse mês, dá um confere) nos deixou o ensinamento de que nossa cultura é o nosso sistema imunológico e a dimensão dessa frase abarca total a causa do adoecimento da nossa comunidade como um todo. A história nos mostra que o e os problemas de nações desequilibradas não começaram simplesmente com o contato das civilizações africanas com as brancas, mas.com a conivência de sua presença e com a convivência entre seus costumes, gerando um ambiente de assimilação mega favorável.

Branco gosta de roubar, matar e destruir (Já dizia Garvey) e só se acopla em uma cultura para lhe ser sangue suga de sua vitalidade. E ainda vomita esse sangue e nos dá de beber desde crianças como "boa cultura e bons costumes". Daí nós fica todo jambrado e cheid comportamento zuado. O recheio branco foi injetado em geral em doses contraindicativas e agora muitos se vêem viciados e não prestam atenção mas nuances que denunciam tais comportamentos. Assim como a mosca que mencionei no início do texto, o comportamento de branco fica tonteando nós a cada tentativa de equilíbrio. Nossos sentidos já o são atrofiados, tu vai ainda continuar estimulando-os com influências do branco?
Se nossa cultura é nosso sistema imunológico não tem tem outra solução a não ser tomar doses contraindicativas de tudo que é preto que é africano! E atenção ao que é negro, muitas vezes é só afrobranco hahahahah
É nessa e noutras que nos permitimos termos nossa atenção roubada pela mosca da cultura branca. E o custo da desatenção no aprendizado cultural pra nós é nada mais nada menos que teu espírito, teu axé. E aí, parece pouco tempo investido naquela série/filme branco que tu se entope? Ou naquele energético cheid açúcar, naquele processado cheid corante que cê catou rapidinho pra “manter esperto”. Ah e isso não é só sobre você não!

Proporcionalmente…

Parece pouco tempo investir naquela mercearia/bar dus preto perto da sua casa ao invés daquele no centro? Parece pouco investir tempo naquela organização autônoma?

Focando no destino, construindo o amanhã como manda o brabo do Ângelo é a melhor forma de não se deixar distrair com a mosca das branquices na vida. Hoje tem momentos que parece pouco, mas as próximas gerações da tua que vão dizer com certeza.

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