Valha-me deus, sinhô São Bento!

Êeeee tudo tem seu fundamento!

Sillas Gomes
4 min readSep 23, 2019

Tudo tem um princípio, uma base. Uma parte que sempre vai tá no mesmo lugar. São os fundamentos. E são eles que definem o que pode ser uma coisa ou outra. É começando por eles que se constrói as coisas. Tipo as cintas que amarram a casa, eles dão a firmeza que precisa pra construir o resto e manter em pé. E também são que nem a planta da construção. Do mesmo jeito que cada cômodo é um quadradinho no desenho da planta, cada parte da gente (do corpo, das energias, da forma que a gente lida com o corpo e as energias) é um reflexo de algum fundamento.

Um irmão que é engenheiro me explicou uma vez que pra cada construção tem um tipo de estrutura(fundamento) diferente. E que precisa entender de que tipo é a estrutura, tanto pra construir direitinho o que tu quer quanto pra reformar depois, pra não mexer onde não deve e cagar a obra toda. Com a gente é igualzinho, pô. Acontece que nóis tamo passando um perrengue muito sinistro há papo de 500 anos. Depois de tanto passar necessidade, tanto esculacho, tanta correria, nem entender direito o que que os fundamento são a gente entende mais. Que dirá reconhecer as diferenças de um pra outro. E é por falta deles que a gente tá tão perdido, tão sem rumo, indo atrás de qualquer coisa.

“Na atualidade, nesta era moderna, nós desonramos nossos ancestrais aceitando a religião dos nossos opressores.”

Como a gente não entende quais fundamentos tem, como que é a nossa estrutura, fica tentando enfiar várias paradas que não encaixam. Fica forçando coisas que, mano… não vai rolar. Porque se não tá na nossa natureza, se a gente não é feito pra funcionar dessa forma… Saca? Por exemplo, eu quero criar crianças mas eu tenho noção de que num tem cegonha certa que vá botar um neném na minha barriga. Da mesma forma que não tem como botar bolo pra assar na geladeira. É uma coisa tão óbvia e a gente nem se liga!

Uma coisa que fizeram questão de tirar da gente foi isso: essa sagacidade de ligar uma coisa na outra. Isso é chave, é base da nossa ancestralidade. Os ancestrais atravessaram o mar com a gente. Eles tão com a gente o tempo todo. Eles falam e fazem o tempo todo. Mas a gente não sabe mais “fazer as contas” e não percebe. As pistas, os caminhos, as ferramentas que eles deixaram, passa tudo batido. Nosso passado deixa de existir no presente e a gente não consegue construir um futuro. Tamo que nem o Yurugu: faltando. E vamo comendo um monte de lixo pra tentar matar uma fome que só vai passar quando a gente alimentar os fundamentos. Mas como se a gente nem sabe quais são?

Aí que tá. A gente sabe. Mas essa memória tá guardada onde a gente nunca vai: no corpo. A quantidade de lixo que a gente consome deixa a gente muuuito zoado. Muito mesmo. Mas mesmo assim o corpo ainda lembra de coisas que a gente nem sabe que existia. “Memória genética”. É aqui que a conta fecha. No nosso DNA existem marcas de coisas que nossos antepassados mais antigos viveram. Tipo pegar coisas com os pés.

“Você não sabe o que pode fazer o nego!
Ele troca o pé pela mão, a mão pelo pé!”

São coisas que a gente não sabe de onde vem, as vezes nem percebe, só estão ali. E sempre estiveram no mesmo lugar. São fundamentos. Essa é a maior herança que a gente tem. Que deixaram pra nós antes de a gente sonhar em nascer. É deles que os ancestrais renascem. E a gente só vai funcionar de novo quando aceitar que os ancestrais e nós somos feitos da mesma coisa. E quando cuidar da matéria que eles dividem com a gente: o corpo.

Rodei, pensei e escrevi um monte. Mas o ponto é só esse: o corpo é a ponte entre os mundos. Aliás, se tem corpo, não precisa de ponte. Tá tudo ligado. Cuidando do corpo, eu cuido dos fundamentos. Cuidando dos fundamentos, tá tudo certo. E eu sigo tranquilo.

É isso. Tudo é caminho.
Vê bem o que te serve ou não.
Mas meu papo hoje é esse. Chama no corpo. Cuida do corpo. Cuida da casa. Vomita esse lixo. Vai botando o branco pra fora. Vai expulsando que ele vai saindo, amém?! Hahhah Conforme ele for saindo tu vai conseguindo achar as paradas que tu perdeu na bagunça. Se tá na casa (e num é branco) alguma utilidade tem. Guarda que uma hora tu lembra.
NÃO É PRA DEIXAR LARGADO!
É pra guardar direito pra ninguém ficar bizoiando. Quem não é pra ver, não deixa ver e ponto. Quem tem, já sabe como que é ou vai ficar sabendo mais dia menos dia, não precisa você ficar mostrando também não.

Só deixa a roda rodar.

Kilûmbu Òkòtó / Rafaela Nascimento

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