Vamos falar do “Índice de Palmitagem Econômico-Financeira”(IPEF)?

Para onde vai o dinheiro que você gasta? E o que você não gasta? Já pensou? Vamos pensar?

Táíwò Òkòtó
revistaokoto
5 min readApr 27, 2021

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Então, pessoal, vamos começar nosso curso de Noções de Economia e Finanças Pessoais Para o Povo Preto (módulo I), agora no mês de abril, no qual vamos estabelecer esse tal IPEF (Índice de Palmitagem Econômico-Financeira) como se fosse o nosso IDH, porque é da trajetória desse índice que depende e muito o nosso desenvolvimento, o desenvolvimento da nossa comunidade.

Um dos medidores do sucesso desse curso vai ser justamente a trajetória do IPEF das pessoas vão fazer parte desse projeto

Para quem está por dentro das discussões de palmitagem e do que é ser negresco, ok, é para lá de intuitivo o que será medido por esse índice. E acredito que geral também já está ligado nos papos de “com quem você gasta seu dinheiro?” e os apelos no sentido de que preto deve comprar de preto, estimular negócio preto, blackmoney e essas coisas. Acho que geral já esbarrou com com alguma reflexão nesse sentido.

Bem, levando em consideração tudo isso, o que seria esse tal de “Índice de Palmitagem Econômico-Financeira”? Muitas pessoas estariam tentadas a dizer que é sobre o quanto do que ganhamos nós gastamos com branc’os. Certo. Mas isso seria apenas meia-verdade!

Uma coisa que se fala muito é sobre o quanto do que gastamos/ganhamos vai para as mãos dos branc’os, o quanto do nosso dinheiro nós gastamos em negócios branc’os. Todavia, dificilmente você vê essa preocupação também com a parte que você não está gastando, a parte que você está poupando. O destino do que você gasta é importante. Agora, falta analisar o destino da outra parte, a parte que você está poupando.

É o seguinte, você pode fazer duas coisas da renda que você ganha, gastar ou poupar. Para economia, o que você não gasta é considerado poupança. Sua renda disponível, ou vai para consumo ou é alocada em poupança. Assim, o quanto você gasta com branc’o é um grande problema, mas a coisa piora e muito quando você busca uma visão mais geral da sua renda e seu destino e acaba por perceber que a parcela de gastos é só metade do problema.

A quem esse dinheiro que deixamos lá (no banco) a título de poupança acaba servindo?

Pega a visão, o dinheiro que você não gasta (ou seja, que você poupa) não fica parado. Ele também tem um destino. E adivinha? Esse destino também é majoritariamente branc’o. Enfim, é um desespero só. Porrada de tudo que é lado. Estamos fortalecendo eles com nosso dinheiro de ambas as frentes, em detrimento da gente mesmo.

Por Lisimba Dafari

Estamos gastando, mas não temos demanda, não geramos demanda, para nossos negócios. Então, gastamos com quem? Estamos poupando, ou tendo nosso dinheiro no banco, mas não conseguimos pegar empréstimos nos bancos para realizar investimentos. Então, esse dinheiro vai para quem?

Assim, alguém só pode investir (pegar emprestado para investir em seu negócio, e expandir) se tiver alguém poupando, certo? Para você ser remunerado pelo seu dinheiro que tá lá “parado” ele tem que ser movimentado, ele tem que ser emprestado. Já parou para pensar sobre: do dinheiro nosso que está no banco, quanto % somos nós que podemos pegar emprestado e quanto acaba sendo emprestado para o branc’o? Precisamos refletir quanto do nosso dinheiro gasto vai para os negócios dos branc’os mas também precisamos pensar isso em relação ao dinheiro que não gastamos. Quanto desse dinheiro pôde ser pego como empréstimos para investimentos em negócios de pretos e quanto acabou servindo aos investimentos em negócios de branc’os?

Eu nem preciso falar do quão mais difícil é conseguir pegar dinheiro emprestado no banco, ou do quão mais caro nos sai conseguir empréstimos nos bancos. Preciso? Então, com esse dinheiro acaba ficando? A quem esse dinheiro que deixamos lá a título de poupança acaba servindo?

Então, meu amor, o problema é dobrado. O mesmo problema que temos com o nosso dinheiro gasto, temos com o que não é gasto. A maior parcela — nem sei dizer se seria exagero dizer quase tudo — vai parar nas mãos do branc’o, para ele investir em seus projetos e expandir. Aí, agora você pensa um pouco comigo: o que você não gasta agora, é como se você estivesse transferindo consumo do presente pro futuro, o não gasto no presente seria gasto no futuro, certo? E aí, você a maior parcela do seu gasto atual vai para branc’o e pelo destino da sua poupança, é para branc’o também que tende a ir grande parte dos seus gastos futuros. Porque quem terá melhor condição de atender essa demanda futura? Quem tiver investindo, se preparando para o consumo futuro. E quem tá investindo? Quem tá conseguindo dinheiro emprestado. Logo, seu gasto futuro já tem também encontro marcado, com o branc’o. E o mais interessante: é você que tá financiando isso. Não é ridículo?!

Enfim, o índice é para a gente medir o tamanho desse estrago aí. Vai nos ajudar a medir o quanto fazemos branc’os sorrirem com o que gastamos e o que poupamos. Vai nos ajudar a refletir sobre isso. É um índice muito importante, que podemos até chamar carinhosamente de “o índice do quanto estamos f****”. (rs) Ou do “o índice do quanto nos mesmos estamos nos entubando”.

A boa notícia é que visualizar esse índice pode nos fazer tomar vergonha na cara e nos levar a pensar estratégias que nos dê mais controle sobre a sua trajetória, traçando planos/metas de curto, médio e longo prazos. Tem a ver com acompanhar com mais zelo o destino do nosso dinheiro. Podemos estabelecer metas e nos entregar ao exercício de sermos criativos e até nos divertimos tentando alcançá-las. Conhecer e controlar a trajetória do nosso Índice de Palmitagem Econômico-Financeira é imprescindível se queremos mesmo estabelecer uma economia preta forte, sólida, capaz de subsidiar nossa autonomia, o nós por nós.

O curso Noções de Economia e Finanças Pessoais Para o Povo Preto vem aí para mexer nesse vespeiro. E fazer um “experimento social” de um bondão de pessoas pretas, com educação econômico-financeira, empenhadas de maneira organizada e coordenada por objetivos comuns na área de economia, de autonomia econômica. Pois economia é uma área fundamental para se pautar autonomia na prática. Sem autonomia econômica, autonomia é possível em teoria e muito difícil na prática.

Um dos medidores do sucesso desse curso vai ser justamente a trajetória do IPEF das pessoas vão fazer parte desse projeto. E já estamos ansiosos por esse trabalho. Estamos ansiosos por tudo isso. Então, vamos! Só vamos!

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