Viver na mediocridade ou viver para a comunidade?

Priscila Argolo
revistaokoto
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3 min readAug 3, 2022

A N.I.N.A escreve muito da vida que eu queria levar há uns anos atrás. Queria vida de MC, álcool, maconha da melhor, hype no Instagram e todos me colocando num pedestal. Todos os homens aos meus pés, todas as mulheres aos meus pés.

“O erro me atrai, é foda. Foda-se, eu tô vivendo”

Quem me conhece das antigas sabe que esse lema tinha muito a ver comigo. Até falei uns dias atrás que eu aprendi a ser toda errada, mas pelo menos eu tava vivendo, tava sendo lembrada e aclamada. Só que é aí que tá a questão…

Com todo esse hype que eu queria alcançar, me tornei a estrelinha que sugava os outros com a falta de compromisso, a deslealdade e o mal estar no fim da noite. A sensação de que você é incrível quando está sendo medíocre não é nada novo nesse mundo, foda-se, eu tava vivendo.

A transição do ensino médio pra faculdade foi justamente a época da minha vida que eu mais busquei ficar fora da pouca sanidade que me restava.

Ah, o abuso da infância vou descontar sendo uma mulher que não passa desapercebida. Sou do rolê, sou da noite, sou do corote e de todo mundo.

Ah, a família desestruturada vou descontar destruindo minha integridade. Sou alternativa, amanheço na rua e acordo com ressaca moral.

Foda-se, eu tô vivendo e destruindo valores que eu nunca quis ter. A ressaca moral era minha amiga, a poesia sobre dor era minha companheira e o meu espírito sendo entorpecido pela minha displicência comigo mesma.

“O álcool sustenta enquanto eu esvazio, fugindo do que vai de mal a pior. Eu já nem sei mais dizer tudo o que eu sinto, já tô viciada e aí sim tô só. Busco alternativas, mas tudo me prende. Querendo mais dinheiro na minha conta, dois dias zerando a conta corrente. Enquanto carrego essa porra nas costas, puta que pariu, que sensação maldita. O mundo desabando e eu nem aí, gastando com coisas que eu nem preciso. A magia da posse já me faz sorrir, noites em claro, eu vivo um carnaval com direct toda hora no instragram.”

Sabe aquele texto que escrevi “Basquiat, meu mundo é diferente”? Pois é. Tenho corrido de me chocar com os danos que busquei pra me sentir melhor e, mesmo que às vezes esteja dando voltas, não quero mais esse lema de correr atrás do rabo porque acho que estou vivendo por causa do álcool, do cigarro ou da falsa sensação de ego inflado.

Eu quero viver, quero sim. Só que eu quero viver sendo foda pra quem eu acho foda, estruturando quem eu sou individualmente em função de quem eu quero ser pra minha comunidade. Não tem algo que eu queira mais do que resolver minhas falhas comigo mesma e parar de pensar “o mundo desabando e eu nem aí.”

Não vou ser foda pra quem eu acho foda enquanto não fazer o que é preciso ser feito pra acabar com esses resquícios de quem eu não quero ser.

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Priscila Argolo
revistaokoto

Ninguém me deu permissão pra sonhar, mas eu já sabia o quanto era bom. Mãe do Jota, companheira do Marquinhos e a humana da Akira.