Você pode substituir isso que chama de "Black Money" por "Capitalismo Representativo".

OMOWALETTU
revistaokoto
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6 min readMar 20, 2021
Por Iza Oliveira

Imagina que para cada um desses versados em bibliografia preta, os mais assíduos frequentadores de debates nos sites e redes sociais, na academia, no centros culturais da vida, agora em lives e seminários via meeting contra opressão, que não fazem parte de organização, nem subsidiam, que não fazem algo prático pela comunidade, nós tenhamos uma pessoa preta pregando por todos os ares o tal do Black Money nos rolês pretos, espaços pretos.

Vou deixar aqui ilustrado um pouquinho de gatilho negresco nesse papo Black Money, tão branca quanto qualquer ideologia de branco que precisa colocar o negro na frente. Por vezes aprendemos as lógicas com laranja mas quando são com maçã a gente trava a soma dos fatores. Até que cheguemos a mesma conclusão das anteriores de ou é esquerda ou é preto, ou é feminismo ou é negro, que ou é Black, ou é Money. Repare que a linha de raciocínio é sempre a mesma e o recessivo sempre fala mais alto. Eu particularmente desconfio que a galera se prende a imaginar que o dinheiro, o material não tem conexão com valores ou tradições. Lembrem-se que já erramos em pensar dessa forma, quando imaginamos que a universidade enquanto instituição não era presa a valores e tradições beeem específicos, ledo engano. Mas e a grana? E a ascensão social? E o consumo? Os nossos parâmetros de sucesso não seriam brancos não? A busca pela prática desses valores, mesmo que concentrado entre nós seria benéfico até que ponto? Fica aí o diálogo entre um capoeira e um europreto para a sua intuição te mandar a resposta.

EUROPRETO- O Black Money deve ser um hábito nosso, porque o dinheiro precisa estar na nossa comunidade, precisamos boicotar o branco para comprar do irmão, precisamos investir na irmã micro empresária!!!

CAPOEIRA - Daohra, queria saber, aonde começa e termina essa dinâmica aí? Qual é o propósito?

EUROPRETO- "As pessoas pretas consomem mais entre si, contribuindo para o crescimento econômico da comunidade. Temos um problema de confiança, sobrevalorização do trabalho do preto dentro da nossa comunidade. Eu mesmo vejo no meu pequeno negócio que as pessoas preta não se valorizam, querem comprar mais barato, calotam, quando é com branco não fazem isso!!"

CAPOEIRA - Você faz parte de algum coletivo? Você trabalha essa questão da auto-imagem do preto de alguma forma? É fator determinante nessa problemática. Existem cooperativas nesse sentido? Olha não tava querendo ser indelicado mas parece que suas visões começam e terminam em você mesmo como parâmetro rs Parecem estar mais ligadas a um trauma seu, que você está supervalorizando e instrumentalizando o racismo para se fazer valer mais, para um público específico. Tu acredita em mão invisível do mercado afrocentrada é isso? É o dinheiro que vai fazer com que nós valorizemos? Não percebeu até o momento que o que tem valor no racismo necessariamente é branco e que se a gente se apropriar disso estaremos fazendo valer entre nós os mais embranquecidos? É o mesmo status quo e valor branco, porém maquiado de preto e de consciente.

Europreto - "Então, sabe o que é? Acredito que o movimento deve ter as suas diferentes frentes, eu sigo aqui na frente econômica, a frente política foi e é muito importante para nós, consegui entrar na universidade por cotas. Eu não faço parte de cooperativas porque sacomé pessoas negras ainda tem muito auto-ódio, somos como caranguejo no barril, não queremos ver vitória um do outro. E também porque eu comecei a ter mais contato agora com outras pessoas pretas que empreendem. Esses últimos tempos estive trabalhando para x empresa racista, após meu ensino superior y racista e meu convívio z racista. Acredita que meu bairro só tem 7% de negros? Além disso quando é preto precisamos ter acesso a tecnologia, formação superior e transitar em todos os espaços. Senão ninguém nos dá crédito. Aí então poderemos trazer as quebras de paradigmas."

CAPOEIRA - Nossa... nem posso imaginar como tenha sido (KKKKKKKKK toma otário) mas assim, tem muito furo nesse teu roteiro aí de emancipação preta. Eu nem sei em que tu tá baseando essa coisa de repartir o movimento em faces políticas e econômicas. Elas não se separam. E ambas estão conectadas a política. Se você não faz parte de nenhum movimento ou coletivo como é que você sabe que ele precisa de uma frente diferente? Você se autoproclamou um missionário da parte econômica baseado em nada coletivo. É só para tu ganhar uma graninha vai pode falar!! Sei lá se você estivesse a pá das pautas que você emprega como exclusivamente políticas, entenderia que não tem questão econômica sem terra e sem autonomia, e que a questão da autonomia ou econômica não é "você tem a sua própria empresa", embora seja importante. Engraçado que o preto tá sempre em falta e você só colabora com demandas, mas até agora só colheu o fruto de luta dos outros, você está empregando os conceitos e teorias, mas não tá contribuindo com nada nem ninguém. Aparentemente sua "vitória" parece o suficiente. Não bastasse quer colher mais concentrando a nossa renda para ir atrás do branco novamente, ainda que você já tenha bastante predicados, maior do que grande parte das pessoas que compõem o movimento. Você enfatiza tanto os ambientes e experiências racistas que teve, mas aparentemente isso tá legitimando você ter toda essa coragem de chegar aqui dizendo como as coisas deveriam acontecer. Esgotou o crédito com o branco? Desistiu de ser coadjuvante nesse céu e tá querendo governar a Babilônia Preta agora? Porque tenho certeza que se você não morasse aonde mora, não tivesse essa formação superior, não tivesse a empresa com apelo racial você estaria inerte como esteve esse tempo todo e ainda está. Esse seu Black Money está muito mais um apelo comercial para você flertar com o capitalismo, liberalismo e tudo o que há de mais branco."

(Como quem queria falar um descansa militante responde ele responde)

Europreto - "Mas é errado um preto querer empreender? É errado eu querer morar em um bairro melhor? E você trabalha com o quê? Vai me falar que não gasta seu dinheiro com branco? Não tem conta em banco de judeu agora também?? Vocês sempre criticam quem ascende, por isso nunca me aproximei do movimento negro! Se eu tenho esse acesso é porque eu ME RE CI!!!"

CAPOEIRA - HHMMMMMM Engraçado você chegar nesse ponto, porque aparentemente você consegue quebrar o paradigma de todos os lugares que são extremamente nocivos a sua existência, mesmo o branco com todas as portas fechadas, você conseguiu chegar lá e se fazer presente. Com o preto bastou uma discordância, uma pressionada, bastou exigir de você uma responsa e nós já estamos no erro. Se não tiver tapete vermelho tu não cola no movimento então? Talvez seja a questão dos valores que cada um tem para você. E você só dá valor ao que te deixa mais próximo do que o branco da valor, a formação e o consumo. Tu não quer o que vende como conceito de "Black Money", tu quer é o American Dream, tu quer um capitalismo que pareça te contemplar. Você desce o critério lá para baixo para que todos entendamos que estamos em algum nível contradição e essa sua dedicação ao branco não fica tão feia assim né? Demorou para a meritocracia chegar.

EUROPRETO - "E por acaso eu ter acesso ao consumo me faz menos negro? Agora não podemos frequentar uma boa peça de teatro? Agora eu não posso querer passar minhas férias em Paris? Sabe quantos negros tem em Paris? Muitos, é o polo de cultura africana da Europa! Não posso querer tomar café no Starbucks? Você quer ver o preto fudido na sargenta? Você não fala português não? Tem algum lugar que não é embranquecido??"

CAPOEIRA - É da para ver como tu vem sendo marginalizado e privado dos seus desejos, e usando isso de apelo no marketing para gerar renda para si aproveitando o hipe de um tal empoderamento negro, e ainda se autoproclamando um missionário da salvação e consciência preta.

EUROPRETO - "E eu tenho funcionários negros na minha loja!"

CAPOEIRA - Que bom heim!!!!! Rsrs relaxa mano não vou falar para te boicotarem, só te desejo da comunidade o proporcional a tudo aquilo que você investir para a comunidade 😊 E se vale a dica, não existe American Dream para preto. Não tem precedente histórico de ferramenta branca ajudando mais ao preto que ao branco. As ferramentas e mecanismos necessários para a gente sair dessa situação econômica precisam estar amparadas em princípios políticos africanos, baseado na nossa própria cultura. E disso que a gente precisa nos reapropriar, não do capitalismo. Para de maquiar o capitalismo e vai aprender filosofia econômica do nacionalismo preto!!!

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