A balbúrdia na Educação em Bauru

Em resposta aos cortes de 30% na verba das universidades federais e nas bolsas de pesquisa da CAPES, para além da proposta de Reforma da Previdência, uma greve da Educação ocorre por todo o Brasil. *

Revista Torta
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5 min readMay 17, 2019

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Por Arthur Almeida (um “idiota útil”)

Editado por Giovana Silvestri (uma “idiota útil”)

Foto por Beatriz Toledo (uma “idiota útil”) | Edição por Giovana Silvestri

No dia 15 de maio de 2019, em âmbito nacional, a população brasileira organizou um levante político em protesto aos ataques sofridos à Educação e à Ciência no governo de Jair Bolsonaro. Cerca de 140 manifestações ocorreram por municípios em todo o país, inclusive nas 26 capitais e no Distrito Federal.

Em Bauru, o ato contou com a presença de discentes (do ensino superior público — como, alunos da UNESP e da USP — e privado, para além de secundaristas também das redes privadas e públicas em esfera municipal e estadual), docentes, funcionários da Educação, grupos sindicais e movimentos por moradia e terra. A organização do evento estipula que cerca de dez mil manifestantes estavam presentes no protesto.

Foto por Beatriz Toledo | Edição por Giovana Silvestri

Na UNESP, a adoção à paralisação foi apoiada por servidores, estudantes e professores, tendo recebido o apoio da Instituição, quando aprovada em Assembleia. No campus, a partir das 7 horas da manhã, em frente ao Portão 1, os estudantes organizaram uma piquetagem, impossibilitando a entrada na universidade, para além de um mutirão na confecção de cartazes com palavras de ordem. Após esse evento, os estudantes encaminharam-se em direção à Câmara Municipal da cidade.

Foto por Beatriz Toledo | Edição por Giovana Silvestri

Oficialmente, o ato estava marcado para ter seu início às 9 horas da manhã, em frente a Câmara, na Avenida Rodrigues Alves. Após alguns discursos de militantes sindicais e estudantes, iniciou-se uma caminhada em direção ao Palácio das Cerejeiras (Prefeitura de Bauru), passando e interditando trechos de duas outras avenidas importantes da cidade: as Nações Unidas e a Duque de Caxias.

Em um trajeto de cerca de cinco quilômetros, a manifestação foi acompanhada por palavras de ordem e marchinhas vindas dos manifestantes em ataque à figura de Bolsonaro, tais como “Bolsonaro, seu ‘fascistinha’, os estudantes vão ‘botar’ você na linha!”, “Não é mole, não! Tem dinheiro ‘pra’ milícia, mas não tem ‘pra’ educação!”, “A nossa luta unificou, é estudante junto com o trabalhador!” e o já famoso durante o carnaval deste ano: “Ei, Bolsonaro, vai tomar no c*!”.

Foto por Beatriz Toledo | Edição por Giovana Silvestri

O ato teve o seu encerramento em frente à Câmara, após uma longa parada de cercamento da Prefeitura, onde mais discursos de figuras ligadas à Educação e entidades ativistas jovens foram feitos de trios elétricos. Após a passeata, também, alguns manifestantes, ainda, ficaram responsáveis por panfletar na região do centro. O protesto foi pacífico e não sofreu com a repressão policial, apesar de sua presença desde o início do evento.

Foto por Beatriz Toledo | Edição por Giovana Silvestri

*NOTA DE POSICIONAMENTO DA REVISTA TORTA FRENTE À GREVE DA EDUCAÇÃO

Por Equipe Torta (Arthur Almeida, Beatriz Toledo, Cezar Augusto, Giovana Silvestri, Isabela Almeida João Vitor Custódio, Rafael Junker Simoes, Vinicios Rosa).

A Revista Torta surgiu com o objetivo de democratizar aquilo que se produz dentro das universidades, tornar acessível a todos os discursos e os debates sobre assuntos de diversas áreas do conhecimento.

Assim, o ataque à Educação proposto neste governo é também um ataque a nós, ao que acreditamos e aos nossos objetivos. Neste sentido, nos posicionamos favoráveis à paralisação em defesa da Educação e da Ciência que acontecerá amanhã (15 de maio de 2019) por todo o Brasil.

Desde muito antes de eleito, quando ainda era apenas deputado, ou durante a sua candidatura à presidência, Jair Bolsonaro já fazia ataques diversos à Educação e à produção científica, sobretudo a realizada nas instituições educativas superiores públicas.

Assim, não foi uma grande surpresa a ninguém, quando ascendeu ao posto de chefe do Executivo, que uma das suas prioridades fosse, justamente, precarizar, ainda mais, as universidades públicas, locais em que o governo Bolsonaro alega serem centros de doutrinação ideológica e “balbúrdia”.

Com uma série de desinformações, isso é, dados distorcidos e discursos sem embasamento na realidade (fake news), Bolsonaro e seus ministros têm tentado a todo custo descredibilizar o trabalho e as funções desempenhadas na Academia e na Educação, em geral. Para citar alguns eventos:

1) Ricardo Vélez, primeiro ministro da Educação na gestão vigente, foi quem propôs promover uma ação de readequação dos livros didáticos de História, substituindo a compreensão do “Golpe de 1964” para “Revolução de 1964”;

2) Abraham Weintraub, sucessor de Vélez no cargo, por sua vez, é o autor da fala que caracteriza a universidade como promotora de “balbúrdia”, dita para justificar os cortes de 30% na verba de, a princípio 3 das principais universidades brasileiras (UnB, UFBA e UFF), e, posteriormente, todas as federais;

3) Bolsonaro, afirmou à imprensa que as universidades não produzem muita pesquisa e que a pouca pesquisa que é feita está restrita às instituições de ensino privado, dado incorreto quando visto o levantamento do InCites (http://ciencianarua.net/wp-content/uploads/2019/04/100-univ-inst-com-mais-artigos-2014-a-2018-BRASIL.pdf), ferramenta de avaliação de pesquisas, sob a coordenação de Carlos Henrique de Brito Cruz, em que se vê que das 100 universidades que mais produzem artigos científicos, somente 17 delas são privadas, estando a melhor colocada (PUC-PR) em 37º lugar, produzindo, cerca de 26 vezes menos do que a USP, líder do ranking;

4) os cortes da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) às bolsas de mestrado e doutorado nas estaduais paulistas também preocupam, sendo as 3 principais (USP, UNESP e UNICAMP, respectivamente) emissoras de produções acadêmicas.

A Revista Torta irá cobrir (e participar) o evento amanhã em Bauru (SP) – ato em frente a Câmara Municipal – e São Paulo (SP) – ato no vão e em frente ao MASP – , atualizando nossos leitores sobre as manifestações em prol da educação brasileira.

Acreditamos que a voz da população precisa ser ouvida e os seus direitos garantidos, e, para isso, interpretamos que precisamos, além de cobrir, participar deste movimento, como se fôssemos uma voz que grita verdades e conhecimento em meio a tantas balbúrdias e desinformações que o governo eleito dita, para, assim, continuarmos nosso trabalho.

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