NOTA

A COMPRA DO TWITTER POR ELON MUSK E O DEBATE SOBRE BOTS E LIBERDADE DE EXPRESSÃO

Como o recém-suspenso acordo levantou polêmicas sobre moderação de conteúdo e práticas maliciosas na web.

Revista Torta
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Por Giovanna Adelle

Editado por Arthur Almeida e Elisa Romera

Social bots” presentes no Twitter foram usados como justificativa para a suspensão do acordo por Elon Musk. || Foto: Reprodução/Pixabay

Em 25 de abril, o Twitter anunciou um acordo de venda da empresa para Elon Musk em transação fechada por US$ 44 bilhões (cerca de R$ 215 bilhões). O assunto passou a ser discutido após declarações de Musk sobre liberdade de expressão e manipulação nas redes sociais por uso de bots.

No entanto, o bilionário suspendeu a compra no dia 13 de maio. Em um tweet, ele alega haver pendências em detalhes que sustentam que contas falsas de fato representam menos de 5% dos usuários. A reviravolta provocou queda nas ações da empresa e alta nas ações da Tesla, cujos índices haviam caído quando o empresário fechou o acordo.

Durante as negociações, o empresário apontou uma série de mudanças que deveriam ocorrer no Twitter se assumisse o controle da empresa. Dentre elas, estão atenuar a moderação de conteúdo, mudar a forma de verificação de perfis e tornar o algoritmo público. Ele disse também que uma de suas prioridades seria eliminar bots e contas falsas da rede social.

Bots e algoritmos

De acordo com um estudo da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), os “social bots” são programas de computadores que controlam contas em redes sociais. Criados a partir de diferentes propósitos, eles podem ser entendidos como ”benignos” e “maliciosos”.

Os benignos atuam em notificações sobre notícias ou clima e interagem com outros sistemas para melhorar a experiência do usuário. Já os maliciosos, podem ser usados para coletar informações de usuários e simular atitudes humanas; dentro de uma rede de robôs, eles agem para tornar certos conteúdos virais entre si.

O objetivo é que o conteúdo ultrapasse a botnet e seja “fisgado” pelos algoritmos das redes sociais. Assim, a publicação será recomendada para outros usuários reais que possam ter interesse.

O estudo indica que os alvos potenciais das contas automatizadas são pessoas e instituições. Essas ações podem reverberar na própria democracia, isso porque os “social bots” podem ser usados por grupos políticos para manipular opiniões e caluniar adversários, sobretudo, em períodos eleitorais.

Outra pesquisa, da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), disserta sobre o experimento de criação e utilização de bots no Twitter por 90 dias. Por meio de dois robôs, os alunos escreveram publicações, seguiram usuários e excluíram os que não retribuíram.

A partir disso, os estudantes acompanharam as interações das pessoas reais na rede com o perfil falso. Como conclusão, foi constatado que as métricas da rede são “vulneráveis e facilmente manipuláveis” por contas automatizadas, capazes de atingir “altos níveis de influência” com uso de estratégias de engajamento.

Ao final do teste, o robô scarina obteve 52 menções, 45 mensagens, 94 retweets e 109 tweets respondidos.

Alunos da UFOP utilizaram os programas Klout e Twitalyzer para analisar a influência do bot “scarina” comparada com perfis de pessoas influentes. || Gráfico: Reprodução/UFOP

Desinformação e discurso de ódio

Ferramentas de moderação de conteúdo do Twitter chegaram ao Brasil neste ano para censurar conteúdos falsos ou que incitem discriminação racial, social ou religiosa. A partir da denúncia do conteúdo, a amplificação seria reduzida e usuários poderiam receber advertências e até serem banidos da plataforma.

A prática é criticada por Elon Musk, que considerou as empresas como “árbitros da liberdade de expressão”. O discurso é similar ao de políticos como Jair Bolsonaro e Donald Trump — cuja conta foi permanentemente banida da rede em janeiro do ano passado por incitar atitudes violentas por parte de seus apoiadores. Musk pretendia recuperar o usuário do ex-presidente estadunidense.

Além dos discursos de ódio e de incitação à violência, as empresas de tecnologia foram pressionadas a criar políticas de moderação para tentar reduzir a divulgação de notícias falsas. Mas assim como o bilionário, muitas pessoas utilizam o argumento da “liberdade de expressão” para praticar atividades ilícitas de manipulação.

Com a chegada da pandemia, políticos ligados ao atual governo brasileiro e pessoas comprometidas com a indústria farmacêutica passaram a realizar ataques sistemáticos contra as medidas de isolamento e as vacinas. Fato que expôs ainda mais a necessidade de moderação do conteúdo para fins justificáveis.

O Twitter informou no blog oficial da empresa que treina seus algoritmos para reconhecer padrões de atividade maliciosa e que entre 5 milhões e 10 milhões de contas são investigadas todas as semanas. Além disso, há iniciativas que ajudam o usuário a saber se algum perfil é automatizado, como, por exemplo, o site Pegabot.

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