NOTA
CENTRO E JUVENTUDE: COMO PRESIDENCIÁVEIS ESTÃO SE DIRIGINDO AO ELEITORADO
Ciro Gomes e Sergio Moro investem em estratégias joviais e digitais para se firmarem como a terceira via.
Por Luciana Saravia
Editado por Elisa Romera e João Vitor Custódio
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Faltando cerca de 7 meses para as eleições presidenciáveis, as expectativas já mostram um Brasil muito mais polarizado do que em 2018. Depois de anos de instabilidade política, econômica e sanitária, as prioridades do eleitorado são outras e os pré-candidatos buscam estratégias para atingir aqueles cansados da polarização, em especial, o jovem.
Segundo dados de 2021, divulgados pelo Tribunal Supremo Eleitoral (TSE), o número de eleitores de dos 16 aos 30 anos é de 34,5 milhões dos 147,9 milhões de eleitores totais.
Em questão de proporções, essa parcela é de fato menor que outros recortes, como o de idosos, por exemplo, que teve um aumento de cerca de 2 milhões de registrados em relação às eleições anteriores. Entretanto os jovens destacam-se pois se mostram como um grupo mais ativo e engajado no maior palco de debates: o da internet.
Já em 2018 a internet jogou um papel crucial nas eleições diante da veiculação massiva e descontrolada de fake news. Hoje, especialistas da Luminate apontam que jovens cansados dos meios tradicionais da política procuram se informar pelas redes sociais e personalidades influentes e “apoliticas”.
Seja por comentários sutís ou posicionamentos escancarados, influenciadores têm um papel estratégico na formação de opiniões de seus milhões de seguidores, como é o caso de Juliette Freire, campeã do Big Brother Brasil 2021, apontada como uma das principais vozes pela Luminate.
Ao mesmo tempo que se mostram como figuras “neutras” e fora da política tradicional, influenciadores perceberam que não podem mais se dar o luxo de não se posicionarem no campo minado da rede, pois o eleitorado cobra caro e “cancela” figuras que pisam em falso ou violam os direitos humanos.
Terceira via: gente como a gente?
Diante de uma internet eleitoral, os pré-candidatos posicionados ao centro da escala política, que tem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de um lado e o atual presidente Jair Bolsonaro (PL) do outro, procuram dialogar com agentes da rede e se consolidar como uma “terceira via” — apelativa ao eleitorado jovem.
Com vídeos, podcasts, linguagem informal e até apelidos, Ciro Gomes (PDT) e Sérgio Moro (Podemos), que estão, ambos, praticamente em terceiro lugar nas enquetes de voto, disputam quem chama mais a atenção do jovem para as suas propostas de governo, pautando-se em maneiras mais criativas e modernas.
O ex-juiz Sergio Moro anunciou sua pré-candidatura em novembro de 2021, pouco mais de 18 meses depois de deixar o ministério de justiça de Bolsonaro.
Além de nadar no pouco que restou da onda lavajatista, Moro apostou em uma aproximação do eleitorado por meio da participação em programas online de grandes visualizações, como o Flow Podcast, que permite aos convidados dirigirem temas polêmicos e de interesse popular “sem filtros”.
Já Ciro Gomes realizou uma aproximação por meio de lives semanais nas suas próprias redes, um modelo muito usado pelo presidente Bolsonaro, onde, aliás, usa um modelo muito popular na internet: o react.
Quanto maior é a visibilidade, maior é a queda?
Investir em estratégias digitais não se trata mais de uma alternativa, mas também de um palco para o surgimento de figuras políticas. Além de Bolsonaro, figuras do espectro direito da política, como Kim Kataguiri, Fernando Holiday e Arthur do Val, se popularizaram nas redes e chegaram a ser eleitos pela visibilidade de suas opiniões.Com isso, muitos agentes da velha política e aspirantes às eleições começaram a se associar a essas figuras, até mesmo filiando-as aos seus partidos, a fim de firmarem a sua imagem nas plataformas, e assim, com o eleitorado jovem.
Uma pesquisa do Datasenado mostra que 45% dos eleitores de 2018 foram influenciados pelas redes sociais; além disso, quanto menor a faixa etária, maior é o uso dessas plataformas como fonte de informação.
No entanto, por ser um campo de embate de ideias o tempo todo, a internet é um ambiente muito volátil e de alterações bruscas de popularidade de figuras públicas. Isso é monitorado pela agência Quest no Índice de Popularidade Digital (IPD), que já é considerado um indicador relevante para as campanhas dos presidenciáveis.
A associação a figuras desse meio é um risco que os candidatos estão enfrentando, e que tem impacto direto nas suas expectativas para novembro. Sergio Moro, por exemplo, contava com o palanque eleitoral do deputado Arthur do Val, também do Podemos, que era o pré-candidato ao governo do estado de São Paulo.
No entanto, após o vazamento de áudios sexistas gravados pelo parlamentar, a candidatura foi derrubada e o eleitorado no estado para Moro colocado em cheque.
Prioridades Jovens
Olhando para além de polêmicas, o eleitorado jovem tem se posicionado com pautas claras, urgentes e concisas. Em uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisas Cananéia (IPEC), a preservação ambiental, o combate à pobreza e a geração de empregos são as pautas mais relevantes para esse recorte.
33% dos entrevistados de 16 a 34 anos citou que o combate à fome e à pobreza é primordial, 16% que é necessário que o Brasil tenha uma economia proeminente e geradora de empregos e 14% que a questão ambiental é importante para o debate, como mostra a reportagem do Estado de Minas.
As eleições nacionais e estaduais estão previstas para acontecer em outubro de 2022. As convenções partidárias não aconteceram ainda e, por tanto, não há formalização dos candidatos até julho deste ano.