NOTA
FAKE NEWS SOBRE A COVID-19 E OS SEUS DANOS REAIS
Como a desinformação pode causar terror ao reforçar desavenças políticas e preconceitos durante uma crise mundial.
Por Eduarda Motta
Editado por Arthur Almeida, Giovana Silvestri e João Vitor Custódio
Num contexto de medo, angústia e incerteza, a informação é a melhor arma para vencer uma crise com consequência ainda desconhecidas, a da COVID-19. A ciência, que vem sofrendo ataques por grupos religiosos extremistas e até pelo próprio Presidente da República, agora tem sua importância reforçada.
Apenas a pesquisa pode encontrar as respostas e os dados sobre o novo Coronavírus, os sintomas no corpo humano e as formas mais eficazes de prevenção.
Alinhado a isso, é preciso que os veículos de comunicação se proponham a produzir um conteúdo responsável e acessível com base naquilo que já foi comprovado e averiguado
Isso pode parecer óbvio, no entanto, a grande onda de fake news — marcada principalmente nos períodos das eleições de Donald Trump (2016) e Jair Bolsonaro (2018) — continua ativa com o intuito de gerar mais visualizações em determinados sites ou ainda buscando atingir grupos políticos e ideologias distintas e específicas.
Nesse sentido, a China aparece como um exemplo de alvo das notícias falsas. O país é tido sob um véu de estereótipos, racismo e desinformação. O jornal The Intercept explica:
“Tudo isso [fake news alarmantes sobre a China] repete o antigo imaginário euro-estadunidense que procura associar a China à impureza simbólica e concreta. Há pelo menos 30 anos, a imprensa liberal ocidental, quando aborda o produção de manufaturas baratas, recorre sistematicamente à expressão “infestação” do mundo de mercadorias chinesas. [Para eles] Os chineses estão sempre contaminando o mundo de alguma forma.”
O fato dessas informações falsas terem caráter político fica explícito quando é espelhada a “notícia” de que a China criou o Coronavírus de propósito para ganhar a “3ª Guerra Mundial”.
Essa tese tem como base os conflitos entre os Estados Unidos e a China, que,supostamente, comprou empresas mundiais graças ao Coronavírus. Porém isso é facilmente desmentido, já que, além de não ter comprado tais empresas, o país tem sofrido quedas recordes em sua economia.
O Escritório Nacional de Estatística divulgou que a produção industrial caiu 13,5% no comparativo anual, 10,5% a mais do que esperavam os analistas. Além disso, as vendas no varejo caíram 20,5%, enquanto o mercado contava com apenas 4%.
Os investimentos em infraestrutura, propriedades, máquinas e equipamentos também sofreram déficit recorde. Eles caíram 24,5%, seis vezes mais do que o previsto.
O prejuízo foi causado principalmente em detrimento às medidas de contenção do Coronavírus tomados pela China (a paralisação de fábricas e comércios por várias noites após o Ano Novo Chinês, no dia 25 de janeiro).
Entretanto, não é apenas o âmbito político que sofre ataque pelas fake news. Por causa das teorias da conspiração que envolviam o Coronavírus e as torres de transmissão de dados 5G, foram registrados mais de 30 atos criminosos contra esses patrimônios no Reino Unido.
O boato consistia na ideia de que redes de telefonia 5G propagariam o vírus por diminuírem a imunidade das pessoas. A informação falsa ganhou força no Whatsapp, Facebook e no Youtube.
Inclusive, em uma das mensagens, é afirmado que isso faria parte de um “plano de dominação para uma nova ordem mundial”. Além das torres serem queimadas, trabalhadores das companhias telefônicas também sofreram ataques nas ruas.
Vários especialistas já explicaram o assunto e afirmaram que é impossível as torres 5G espalharem o Coronavírus ou fazerem qualquer mal para o corpo humano. Um deles é Gustavo Corrêa Lima, responsável pela tecnologia de comunicações do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPQD).
Em entrevista ao G1, ele afirma que o 5G tem radiação não ionizante, que faz parte de uma categoria diferente do tipo de radiação que pode causar algum dano nas células humanas como o raio X, por exemplo.
Gustavo suscita, ainda, que a frequência utilizada nessas torres é muito similar com a dos roteadores Wi-Fi que as pessoas têm em casa e nunca reclamaram de quaisquer danos.
Esses são apenas alguns exemplos de como as desinformações são extremamente prejudiciais, especialmente em momentos de crise, reforçando preconceitos e causando danos palpáveis.
Assim, a melhor forma de evitar que esse tipo de conteúdo ganhe repercussão é procurar sempre a mesma informação em diversas fontes com histórico confiável. Alguns sites estão desmentindo fake news encontradas na internet, como o próprio Ministério da saúde.