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Glamour, representatividade e… Vogue!

Revista Torta
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3 min readSep 30, 2020

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Visibilidade drag cresce no Brasil e no mundo.

Por Eduarda Motta e João Vitor Custódio

As artistas Pabllo Vittar e Gloria Groove estampam a capa da revista “Vogue” do mês de outubro esbanjando glamour e representatividade. || Foto: Divulgação/Vogue Brasil

Ao decorrer dos últimos anos, as drag queens brasileiras têm ganhado cada vez mais espaço na mídia tradicional, muito pelo crescente reconhecimento do programa RuPaul’s Drag Race — vencedor de 3 Emmy. Hoje, o cenário da música pop no Brasil vem valorizando as drags ao mesmo tempo em que as mulheres ganham espaço, havendo uma rica e proveitosa parceria entre elas.

Nesse sentido, já tendo invadido programas de televisão, rádios e, acima de tudo, a internet, as queens brasileiras agora também estampam capas de revista; e não qualquer uma: Bianca DellaFancy, Gloria Groove e Pabllo Vittar recentemente saíram na Vogue.

Esse avanço é fruto de anos de resistência. A arte drag, antes vista como subversiva pela sociedade, hoje é reconhecida por sua performance artística e entende-se como uma personagem caracterizada com elementos femininos exagerados que atua no entretenimento, seja pelo canto, stund up, atuação, lipsync, entre outras formas.

No entanto é necessário entender que uma pessoa fazer parte desse meio não impacta diretamente em sua sexualidade ou identidade de gênero, ainda que representem a cultura LGBTQ+. Segundo o artigo “Drag queen: um percurso histórico pela arte dos atores transformistas”, do artista cênico Igor de Almeida Amanajás:

Por mais que a drag queen se apresente, na maioria das situações, em ambientes de cultura gay, a forma artística em si não se correlaciona diretamente com o conceito de identidade de gênero ou orientação sexual.

Para Amanajás, o artista, como drag, perpetua sua existência se adaptando a estilos, linguagens e conteúdos, estando presente, inclusive, na esfera política, lutando para despertar uma sociedade adormecida.

Não só entretenimento, os artistas drag posicionaram-se […] na frente da luta pelos direitos da comunidade gay, tomando a causa com um fervoroso ativismo político e tornando-se um dos símbolos mais significativos das paradas gay nos dois lados do Atlântico.

Assim, desde os anos 90, a arte drag ganhou espaço no cotidiano. Um de seus maiores representantes de todos os tempos é RuPaul Charles: por meio de um “espetacular ato de auto-reinvenção e reivindicação drag”, sua personagem potencializa a força e a beleza dessa técnica artística.

Desde 2009, o artista promove uma competição chamada “RuPaul’s Drag Race”, na qual participantes de todo os Estados Unidos concorrem ao título de “Próxima Drag Queen Superstar”. Seu sucesso foi tamanho que outros países realizaram suas próprias versões do programa, ainda mantendo o formato dos desafios e o nome de RuPaul.

Drag queens na Vogue Brasil

O reconhecimento de drag queens na revista traz a pauta da diversidade para fora da bolha LGBTQ+, fazendo com que a discussão atinja outros públicos. É sobre isso que a youtuber, modelo e maquiadora Bianca DellaFancy fala após a edição em que ela apareceu: a importância de se reconhecer e reconhecer os outros como pessoas diversas e respeitar as vivências e histórias de cada um.

“Pra mim diversidade é você se comunicar com as pessoas, entender que a diferença do outro nao precisa te afastar, não precisa te repelir, muito pelo contrário. As pessoas falam que somos todos iguais, mas não somos todos iguais, somos bem diferentes na verdade e é isso que temos que valorizar.”

As cantoras Gloria Groove e Pabllo Vittar também apareceram recentemente na revista: enquanto a primeira foi capa de divulgação, a segunda estampou a edição do mesmo mês. Para Gloria, “é uma honra fazer parte dessa história. Ser drag queen mudou a minha vida para sempre! Bichas no topo!”.

Já Pabllo frisa a questão de autoaceitação: “Não é errado você se amar, se cuidar. As pessoas vão ter que aprender a te respeitar sendo quem é”.

O espaço conquistado é apenas mais um de tantos outros que ainda virão.

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