NOTA

LIXO ELETRÔNICO DE BITCOINS IMPACTA O MEIO AMBIENTE

O consumo excessivo de energia elétrica já não é o fator mais preocupante das criptomoedas, porque o descarte inadequado de suas máquinas vai ainda mais longe.

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Por Giullia Colombo

Editado por Arthur Almeida e Eduarda Motta

Equipamentos projetados com a única finalidade de minerar criptomoedas consomem muita energia elétrica e materiais descartáveis. || Foto: Reprodução/Bit2Me Academy

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Os sistemas de criptomoedas vêm chamando a atenção de investidores pelo seu potencial de valorização. Enquanto ativo financeiro, sua volatilidade é capaz de impactar profundamente os ganhos (e perdas) de seus acionistas. Contudo, o impacto ambiental que essas moedas criptografadas causam é ainda maior.

Baseado no sistema de blockchain, a tecnologia funciona como um banco de dados que armazena informações de maneira segura e aceita por todos que integram uma determinada rede. Composta por milhares de indivíduos com suas máquinas, ela tem a função de validar as informações das transações, a fim de garantir a integridade das mesmas.

Tal processo é chamado de mineração, que consiste no processamento de dados de computadores. A cada rodada de processamento, um novo bloco é inserido à cadeia; e, assim, os mineradores (como são chamados os indivíduos que mobilizam suas máquinas para a atividade) são recompensados com Bitcoins.

E é aí que as criptomoedas, em especial a Bitcoin, são particularmente ruins do ponto de vista energético: milhares de indivíduos vão tentar processar os dados para validar a transação usando computadores que gastam muito mais energia do que máquinas comuns.

Por si só, o gasto de eletricidade se equipara ao consumo total registrado em alguns países, como a Tailândia, segundo o site Digiconomist. Mas, para além do expressivo consumo de energia pelo processamento de grandes quantidades de dados, o lixo eletrônico também é uma questão.

O ciclo de mineração de Bitcoin exige tanto dos computadores destinados a esse fim, que essas máquinas acabam tendo um ciclo de vida extremamente curto (de 3 a 5 anos). Assim, o seu descarte é frequente e a quantidade de e-lixo produzido aumenta consideravelmente.

O impacto do e-lixo

Apesar do lixo eletrônico não ser um problema que surgiu com as criptomoedas, o panorama a partir delas é de piora. Segundo Alex de Vries, fundador da Digiconomist, anualmente, o Bitcoin adiciona 30,7 mil toneladas ao total de resíduo. Cenário que piora em cada pico de preços da criptomoeda, que exige mais ciclos de blockchain e, consequentemente, usa mais energia e desgasta as máquinas.

Além disso, a crescente demanda por esses hardwares de circuito integrado de aplicação específica (ASIC), perpetuam a cultura não-sustentável de exploração de recursos minerais na constituição desses equipamentos.

[olho]Assim, quando as máquinas de mineração atingem seu ponto de obsolescência, são descartadas, muitas vezes, de maneira inadequada.

O descarte incorreto de dispositivos eletrônicos é sintomático da sociedade do século XXI, cujos equipamentos têm baixa taxa de reciclagem e possuem ciclos de vida curtos em prol do consumismo.

Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Tratamento de Resíduos e Efluentes (ABETRE), em 2019, no Brasil, foram descartados 2,9 milhões de toneladas de lixo eletrônico, mas apenas 600 mil toneladas foram destinadas corretamente. No resto do mundo, os dados seguem ritmo semelhante — no mesmo ano, apenas 17,4% de todo o lixo eletrônico gerado foi reciclado.

Perspectivas para o futuro

Todos esses resíduos descartados incorretamente levam substâncias tóxicas em suas composições, como chumbo, bário, mercúrio e cádmio. Quando descartados incorretamente, os equipamentos entram em processo de decomposição, liberando essas substâncias diretamente no solo e em águas superficiais e subterrâneas. Isso causa a acidificação de rios e a contaminação de plantas, animais e da própria população humana pela água.

É importante lembrar também que o impacto ambiental possui uma face social. Um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2021 sobre a exposição de crianças ao lixo eletrônico concluiu que, por trabalharem no setor informal de resíduos e entrarem em contato com esse lixo tóxico diariamente, mulheres grávidas, crianças e adolescentes absorvem essas substâncias e têm suas saúdes afetadas pelo resto da vida.

[olho]A situação é especialmente preocupante em países de baise ou média renda, onde o despejo ilegal e o trabalho informal são mais frequentes.

Crianças absorvem mais poluentes em relação ao seu tamanho e são menos capazes de metabolizar essas substâncias, afetando o seu desenvolvimento. || Fonte: Reprodução/OMS

O relatório da OMS ainda vai adiante para propor soluções para a questão do descarte de lixo eletrônico no mundo. A alternativa para diminuir essa ação é a união de esforços entre a iniciativa pública e privada.

Por meio de políticas para garantir que o descarte desses resíduos sejam feitos corretamente, o órgão propõe que os materiais possam ser reaproveitados, que equipamentos mais duráveis sejam fabricados e que se invista no setor de saúde para capacitar a gestão e prevenção de riscos relacionados à contaminação por lixo tóxico.

A comunidade mineradora de Bitcoins, por sua vez, não vai tomar uma ação voluntária de tornar suas máquinas mais sustentáveis ou então adotar processos de validação das transações que gastem menos energia. Mas, como o artigo “Os impactos ambientais causados pelo lixo eletrônico e o uso da logística reversa para minimizar os efeitos causados ao meio ambiente” sugere que as suas atitudes devem ser orientadas por estratégias empresariais, de maneira a incorporar uma cadeia produtiva sustentável e ambientalmente mais responsável.

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