O dia em que Bolsonaro não errou
Presidente eleito deu uma resposta coerente e moderada sobre as relações exteriores do país, algo nunca antes visto durante este Governo.
Por Redação
Editado por Arthur Almeida, Giovana Silvestri, João Vitor Custódio e Rafael Junker
No último dia 03, após um ano exercendo o cargo mais alto do Executivo, Jair Messias Bolsonaro conseguiu dar uma resposta, até que boa e sensata, aos jornalistas. Em entrevista à TV Band, quando questionado sobre o embate entre o Irã e os Estados Unidos da América, o presidente disse que o Brasil “não tem forças armadas nucleares para poder dar opinião tranquilamente sem sofrer retaliações”.
Na madrugada do mesmo dia, o general iraniano Qasem Soleimani foi alvo de bombardeios aéreos dentro do aeroporto de Bagdá, no Iraque, enquanto estava a caminho de uma reunião com o primeiro-ministro iraquiano Adil Abdul-Mahdi. O ataque aconteceu a mando do presidente Donald Trump, político que Bolsonaro possui algumas afinidades. É válido destacar que tal reunião também foi um pedido de Trump a Abdul-Mahdi.
O evento repercutiu no mundo inteiro e os internautas começaram a criar rumores acerca de uma possível “Terceira Guerra Mundial”*. Devido a essa pressão, os posicionamentos dos países a respeito do ataque começaram a surgir. Mas, Bolsonaro foi cauteloso ao ser questionado, alegando que
“a nossa posição é se aliar a qualquer país do mundo no combate ao terrorismo. Nós sabemos o que, em grande parte, o Irã representa para os seus vizinhos e para o mundo […] Tenho que tomar cuidado com as palavras […] Nós queremos paz, mas uma velha máxima no meio militar diz que quem quer paz tem que se preparar para a guerra”.
Além disso, o presidente do Brasil manteve a compostura — algo inédito na forma como lida com as relações exteriores do país — antes mesmo do Irã cobrar o posicionamento do Brasil, após o Itamaraty posicionar-se a favor dos Estados Unidos. Apenas no dia 05, a Chancelaria iraniana e a Embaixada brasileira realizaram uma reunião sobre o assunto.
Bolsonaro continuou moderado com seu posicionamento, uma vez que, mesmo sendo defensor do porte e uso de armas, ao alegar que “abriu mão” de explorar a questão nuclear e garantiu que, além de buscar manter cautela com o assunto — algo fora da linha de preocupação do presidente -, a linha (entende-se posição) do Brasil é pacífica.
Resta-nos esperar um posicionamento do presidente em relação à questão do Itamaraty. Nas redes sociais, internautas subiram a tag #Iranbrazil e pediram para que o governo não tome uma posição insegura no momento.
Sem mencionar que a tag #BolsonaroCalado subiu no Twitter no dia do acontecimento. Os brasileiros esperavam, como de costume, comentários rudes, desrespeitosos ou sem noção por parte do Presidente da República. Porém, não foi isso que aconteceu dessa vez.
Será que estamos caminhando para um possível governo no qual Bolsonaro erre menos ou essa postura na entrevista é ilusória? Talvez a assessoria do presidente eleito cansou da impopularidade e resolveu tomar uma atitude, aconselhando o chefe do Executivo a não falar tudo aquilo que pensa? Não podemos prever e nem responder algo.
https://twitter.com/jairbolsonaro/status/1215006428810924032
Depois dessa entrevista, o presidente eleito publicou um vídeo no seu Twitter, ontem (08), dizendo sua opinião de forma direta sobre: urânio, PT, Irã e Constituição, após assistir ao pronunciamento de Donald Trump. Resumindo, ele defendeu a “paz” e o “combate ao terrorismo”, descritos na Constituinte.
Assim, ele deixa a interpretação de que está de acordo com Trump a partir do momento que o presidente dos EUA afirma estar “evitando uma guerra”. Bolsonaro retoma uma postura mais contida que seu normal nesta situação delicada. O que é o mínimo a se fazer.
* Para melhor entender a atual situação do Irã e EUA, a RT recomenda as seguintes fontes e matérias para estudos: NEXO (1); Focus Concursos; El País e Meteoro Brasil.
NOTA: As opiniões dos autores, expressas em suas colunas, não refletem o posicionamento da Revista Torta. Como veículo de comunicação independente, buscamos apresentar pluralidade de opiniões em nossas matérias.