O muito que aprendi em uma manhã na UNESP — Barra Funda
Evento credibilidade no Jornalismo, Unesp, Projor- Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo e Sally Lehrman
Por Giovana Silvestri
Cobertura feita por Giovana Silvestri e João Vitor Custódio
Abri levemente os olhos quando senti meu amigo (e fiel escudeiro, e redator da Revista Torta, e outras várias outras tantas coisas), João Vitor Custódio, me cutucou o ombro. O ônibus balançava pouco, o ar condicionado deixava o ar frio e confortável, eu tinha dormido a viagem inteira, quando acordei e vi para onde meu amigo apontava, eu sorri, era à Unesp (Universidade Estadual Paulista de São Paulo localizada na Barra Funda.
Saímos 3h em ponto da manhã com o ônibus da Unesp de Bauru para viajar até São Paulo, iremos cobrir o evento de credibilidade no Jornalismo realizado através da parceria entre Unesp e Projor- Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo, com a participação de Sally Lehrman (diretora e idealizadora do The Trust Project), jornalista e repórter com prêmio George Foster Peabody.
A premiação reconhece órgãos de mídia, associações e indivíduos que tenham prestado serviços públicos dignos de distinção e mérito, através de veículos comunicativos. Além disso, Lehrman possui credibilidade em revistas especializadas, especializadas em consumo e ciência, publicações on-line e rádio,, segundo seu Linkedin.
O The Trust Project é uma iniciativa internacional colaborativa que têm como objetivo construir uma imprensa cada dia mais confiável e transparente no mundo. Operam como uma rede de organização que implementa os chamados “Trust Indicators” ou “Indicadores de Credibilidade” (como traduzido para mim durante o evento).
O projeto visa implementar os indicadores nos meios de comunicação para criar um padrão global de transparência nas notícias veiculadas -deve estar se questionando leitor, a importância disso no jornalismo contemporâneo, tendo em vista a perda da credibilidade que os veículos estão sofrendo com seus leitores devido às fake news e os ataques de censura à imprensa por parte de alguns governos.
Ao entrar no Instituto de Física Teórica da Unesp, fiquei deslumbrada com o auditório escolhido para o evento. Em fila, as pessoas, tanto as do auditório quanto quem iriam participar diretamente do evento, esperavam para preencher a lista com seu nome, pegar (caso precisasse) um rádio transmissor com fone para tradução (só assim consegui entender Lehrman perfeitamente) e colocar um adesivo com seu.
Mas, afinal, o que é o evento de credibilidade no Jornalismo? Para comemoração dos 35 anos do curso de jornalismo na Unesp, alguns eventos foram programados para elucidação do jornalismo, e aproximar, os estudantes das práticas de sua área. Assim, o Projor em parceria com a Unesp realizou o segundo evento da programação
Durante o evento, vários veículos nacionais se apresentaram e mostraram como implementaram os indicadores criados e defendidos por Lehrman. Francisco Belda, presidente do Projor e coordenador acadêmico do Projeto Credibilidade, abriu o evento com as boas-vindas e agradecimentos, com um pequeno atraso de 10 minutos.
Agradeceu aos realizadores e principalmente aos representantes dos veículos que aceitaram participar do projeto: Agência Lupa, Agência Mural, Jornal do Commercio, Folha de S. Paulo, Nexo Jornal, Nova Escola, O Povo e Poder 360. Além de mencionar, no final de sua fala, os alunos de jornalismo da Unesp que “viajaram por horas, saíram 3h da manhã da Praça dos Bandeirantes dentro da Unesp de Bauru, para presenciarem o evento hoje”.
(Obrigado Belda pelas palavras, foi difícil ter sair da aula 23h para voltar às 2h45 para viajar, mas compensou pelo muito que aprendi em uma manhã na Unesp- Barra Funda, e como, caro leitor).
Após isso, comentou e deu a palavra para sua parceira de trabalho que “trabalhou arduamente para que o evento credibilidade acontecesse”, Angela Pimenta, mestre em Jornalismo pela Columbia University School (2001), presidente do Projor desde 2015 e coordenadora-executiva do Projeto Credibilidade e coordenadora do projeto Atlas de Notícias.
Pimenta comentou, algo que vale a pena ressaltar (pois me assustou). O que ela chamou de “o deserto de notícias” é um fenômeno que pequenos e médios municípios enfrentam ao perderem (com o fechar de redações) à presença de veículos locais. “É necessário criarmos modelos de negócios para manter o jornalismo…”. Com isso, agradeceu a presença de cada representante e ressaltou que eles são o jornalismo que chega a todos.
Com, agora, 30min de atraso, os veículos começaram a apresentação do seu uso dos indicadores de credibilidade. Antes, Belda mencionou como alguns tinham terminado tudo na madrugada da noite anterior, e como outros dois (Nova Escola e Jornal do Commercio implementaram parcialmente, ou não conseguiram implementar todos os indicadores em seus sites digitais).
(Assim, logo pensei e comentei com Custódio como nós, meros mortais e estudantes de jornalismo do segundo ano, não podemos entregar algo em cima da chamada deadline (nomeação para a data de entrega de um trabalho jornalístico) ? Se até veículos reconhecidos entregam em cima do prazo ou até mesmo não conseguem entregar? Sim, deadline é o karma de qualquer jornalista).
Todos os representantes dos veículos tinham 10min para mostrar seus indicadores de credibilidade funcionando em seus portais digitais, mas, sem respeitar o tempo, ultrapassaram muito mais do que 10min. O debate com os adotantes do projeto não foi aberto ao público devido esse fator, por outro lado, outras perguntas foram feitas pelo professor da USP (Universidade de São Paulo), Carlos Eduardo Lins da Silva.
O professor fez questionamentos pertinentes a cada representante presente:
- Natália Leal, diretora de conteúdo da Agência Lupa;
- Anderson Meneses, co-diretor da Agência Mural;
- Camila Marques, editora de digital e audiência da Folha de S. Paulo;
- Leandro Beguoci, diretor editorial e de conteúdo do Nova Escola;
- Maria Luiza Borges, diretora de conteúdos digitais do Jornal do Commercio;
- Marina Menezes, editora executiva do Nexo Jornal e
- Ana Naddaf, diretora executiva de redação do O Povo.
O debate variou desde fake news, que envolvem o presidente eleito, até impacto no público até o futuro do jornalismo -tendo em vista a educação e formação pelo curso de Jornalismo. Além disso, em certo momento Maria Luiza Borges comentou uma frase significativa sobre o futuro do jornalismo como profissão:
“Vão ser bem sucedidos aqueles veículos que transformarem sua comunicação em um “clube” para o seu público alvo”. Logo, a aproximação, participação, influência e resposta do leitor, para os jornais, vai ser a relação que, ao ser cada vez mais trabalhada, trará mais leitores e benefícios aos meios de comunicação.
Contudo, há um defeito nessa tendência de “jornalismo pós-moderno”. Os veículos vão comunicar sempre a um nicho específico que se identificar com sua linha editorial e queira interagir e responder a ela. Logo, só será determinado jornal quem concordar com ele, e o debate e presença de opiniões diferentes, não será algo que prevalecerá na comunicação entre emissor (jornais, por exemplo) e receptor (público alvo).
Por fim, e nunca menos importante, começou a falar, as 12h, Sally Lehrman. Com um casaco rosa com flores brancas estampadas, cabelos enrolados, curtos e grisalhos, os óculos finos e a saia preta até o joelho, atribuía a jornalista um ar de fofura, experiência e muita delicadeza.
Quando começou a falar, e coloquei os fones para a tradução, percebi como sua voz era clara, nem tão rápida e nem tão devagar, mesmo ouvindo em um ouvido livre de fone sua voz em inglês, e à outra voz do tradutor do outro lado em português, senti que poderia entendê-la, não pelo meu domínio pela sua língua, mas sim, pela voz e calmaria da palestrante.
Apresentou seu projeto, minucioso cada tipo de indicador de credibilidade, mostrou, com fotos, os lugares e pessoas em todo mundo que conseguiu atingir. Por mais que já tenha conseguido muitas vitórias com o projeto, a cada dia têm mais meios tentando se inserir — até porque, os indicadores melhoram às vendas e confiança dos leitores com às matérias- Lehrman não cansava de afirmar que, tentaria mais e mais. O objetivo dessa mulher é transformar o jornalismo em uma transparência tão forte, que ela ousa chamar de “transparência forçada”.
Ela acredita que assim, com a percepção dos leitores dos indicadores de credibilidade — que vão desde evidenciar e explicar o gênero jornalístico daquela matéria, até mostrar qual conteúdo é patrocinado ou aquele que não- construiremos uma relação de confiança, transparência e credibilidade entre meios de comunicação digital e público alvo.
Lehrman afirma que com a transparência na transmissão de informação atribui credibilidade aos meios de comunicação, e criamos uma relação de confiança em que, o à sociedade percebe, entende e acredita na missão do jornalismo.
O jornalismo serve ao interesse público, ou seja, informar às pessoas sobre aquilo que acontece para que tenham ciência, reflexões e ações em suas vidas à respeito daquilo, isso, nada mais é, segundo Lehrman, a participação do jornalismo na construção de uma democracia.
A medida que transmite e informa, de maneira transparente e efetiva, o jornalismo muda o conhecimento que um indivíduo têm em relação ao mundo e, assim, muda sua percepção acerca de sua realidade, suas ações e sua vida.