ENSAIO FOTOGRÁFICO
r e m e l a (II)
em mais dois dias de publicação.
Por Vinicios Rosa
Editado por Eduarda Motta e João Vitor Custódio
Mexo-me para lá e cá. Os olhos abrem; cansados. Exaustos da rotina se repetindo pela milésima vez.
Viro-me. Tiro a remela e olho o teto. As linhas da madeira do forro zeram a imaginação, mesmo ao “colidirem” na parede.
Angústias beliscam. Medos corroem. Incertezas atropelam incertezas e a mente grita a ponto de explodir meus tímpanos para se expressar.
Isso tudo vai além das lorotas de vizinhos de muro. É uma desgraça mexendo com o interior. É uma fase diferente, com protocolos ditando regras. Poucos fazem. Muitos pagam pelo desprezo.
A realidade… talvez seja irreal. Ela me faz entranhar as mãos no cabelo e beirar à loucura. À dor. À solidão.
A sensação de choro vem. Embora haja cliques, a descrição disso está cada vez mais imprecisa. A narrativa da realidade pare perspectivas e aborta interpretações. Nem o zoom mais objetivo descreve.
Através das lentes, percepto emoções. Vejo. Clico. Narro.
Falanges sobre teclado. Mãos nervosas. Dedos indecisos. Veias saltadas e movimentações sem destino.
Não dá para desatar esse nó. Não dá. Volte, volte e volte. Fique aí em círculos. Se sair, voltará ao buraco de partida.
Ou dê, só precisamos nos gongar. O gozo de si próprio é façanhoso. O registro das piores sensações dilata a noção mínima de situações impetuosas.
Do peido à gota de lágrima; do bocejar à espreguiçada de estalar ossos, me compreendo — acho. Frações de segundos completam essa configuração. Pensamentos capotam uns sobre os outros. Ideais, dores, futuros.
É um recheio vazio quase impossível de degustar. Provei raras vezes: uns são bons e outros, ruins — levam a expressões convulsivas. Ainda não estou saciado. É fome por compreensão. São sabores inventados por nenhum chefe.
Ao provar, nem palitos limpam os espaços entre os dentes. A digestão perturba. Reações saem do corpo. Pontiagudas. Difíceis de absorver.
Enquanto perceber buracos como os de botões ficando para trás, não terei convicção do que está acontecendo.
Olho para mim e enxergo além de você. Deparo-me de ponta cabeça. Minhas plantas florescem e eu resseco. Pego fogo. Estou num emaranhado de más conclusões. Raciocínio engarrafado impede a ida. Limita.
É cedo para ir. Há mais a registrar; a se pensar. Tem muito a dormir e mais uma vez a remela do olho tirar.