NOTA

TATUAGEM COMO FORMA DE TRANSMITIR UMA MENSAGEM

A arte da tatuagem se construiu como maneira eficaz de comunicação entre diversos contextos histórico-sociais.

Revista Torta
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Por Eduarda Motta

Editado por João Vitor Custódio e Lorrana Marino

Em 2016 o poder Judiciário brasileiro determinou que a tatuagem não era mais um impeditivo para a participação em concursos públicos. || Foto: Reprodução/Agência Brasil

Há muito se descobriu que a origem da comunicação humana se deu por desenhos rudimentares em paredes de cavernas, quando os idiomas que codificamos hoje sequer existiam.

Esses desenhos primitivos, nomeados de “pinturas rupestres”, carregavam consigo a função de transmitir informações entre a família, como os relatos a respeito da caça em busca de alimento, por exemplo, e também de fixar essa mensagem em algum material de forma que pudesse ser consultado depois.

Carregando o mesmo princípio de nossos antepassados de querer comunicar algo a alguém e fazer com que essa mensagem seja duradoura, as tintas deixaram as paredes para se fixar em nossos corpos.

Usando o que temos de mais rudimentar, como símbolos, desenhos e os próprios corpos, a tatuagem traçou caminho desde o Egito em 4.000 a.C. para se consolidar hoje como forma de expressão identitária e de arte.

De acordo com o artigo “Tatuagem Como Forma De Comunicação: Uma Expressão Corporal”, de autoria da Bacharel em Jornalismo pelo Centro Universitário de Brasília (UniCEUB), Rafaela Melo:

“A tatuagem é uma forma de linguagem, um meio de comunicação pelo qual é possível expressar a identidade do indivíduo. Com o passar do tempo, a tatuagem foi ganhando novos significados e interpretações, variando de acordo com cada cultura”.

Esses símbolos, escolhidos pelo tatuado como forma de expressar explícita ou implicitamente algo em sua personalidade, chega ao receptor de maneira interpretativa e subjetiva. Dessa forma, é possível abstrair sentidos e significados que passaram por inúmeras mutações de acordo com o período histórico e o contexto social.

Em seus primórdios, as tatuagens foram encontradas em corpos mumificados no Vale do Rio Nilo, por volta de 4.000 e 2.000 a.C. Arqueólogos afirmam se tratar de marcas que identificavam os prisioneiros para evitar fuga.

Outro significado bastante recorrente é o religioso. Cruzes, as iniciais de Jesus Cristo e símbolos similares aparecem na História desde os primeiros cristãos, assim como para os índios Sioux, nos Estados Unidos, que consideravam as tatuagens como uma comprovação para os deuses de que mereciam o paraíso.

Por outro lado, logo na Idade Média a tatuagem foi banida da Europa por ser considerada demoníaca. No mesmo sentido de criminalidade, na época do surgimento da máfia Yakuza, no Japão feudal, os integrantes tatuavam seus corpos como forma de provar lealdade.

Tal costume se mantém presente entre pessoas que adotam o crime como estilo de vida até os dias de hoje. Dentro das próprias penitenciárias, os prisioneiros tatuam uns aos outros — voluntariamente ou à força. Os desenhos são escolhidos de maneira a representar algum traço de personalidade, periculosidade ou o próprio crime cometido.

Entretanto, com o passar do tempo, a tatuagem atingiu cada vez mais adeptos até deixar de se restringir apenas a esse grupo social, expandindo seus significados, profissionalizando sua técnica e se popularizando entre diversas outras camadas sociais.

Hoje, incorporada na cultura e na moda, a arte de fazer tatuagem se estabilizou como profissão e se sustenta mercadologicamente. Cada vez menos vítimas de preconceitos e de estereótipos, as pessoas tatuadas usam dessa tela permanente que é o próprio corpo para estabelecer uma comunicação que vai além do eu para o outro, mas sim do eu para si mesmo…

para suas próprias recordações e momentos futuros em que a pessoa já terá sofrido tantas mutações da vida e do tempo que será útil uma mensagem dela própria que a lembre daquilo que escolheu nunca esquecer.

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