Martinha do Coco (Foto: Bento Viana / Revista Traços)

Martinha do Coco: mestra da cultura popular

Sua nova Traços “é Nordeste, Centro-Oeste; samba coco e maracatu”

Traços Digital
Revista Traços
Published in
4 min readOct 11, 2019

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Por Fábia Pessoa
Fotos de Bento Viana

Dona Martinha (…) É Nordeste, Centro-oeste;
Samba coco e maracatu;
Dona Martinha, matriarca popular;
Mulher negra, mestra de coco de primeira, descreve a vida inteira, fazendo poesia no Paranoá…

(Trecho de Samba, Coco e Maracatu — Martinha do Coco e Porta do Mundo)

Martinha do Coco (Foto: Bento Viana / Revista Traços)

Marta Leonardo tinha 17 anos quando veio do Recife para Brasília, em 1979. Era a época da seca, ela lembra. Ainda estava longe o tempo em que se tornaria uma das referências em cultura popular da cidade e mestra em cultura afro-brasileira (Título concedido pela Secretaria de Cultura). Fez de tudo: foi copeira, babá, cozinheira, empregada doméstica. Foi gari por três anos — profissão que fez com que a artista descobrisse lugares, sons, histórias: “Conheci essa cidade varrendo”, conta.

Verdadeira griô contemporânea, Martinha do Coco resgata e adapta aos novos tempos a tradição da contação de histórias e da transmissão do conhecimento pela oralidade, pela música, pelo balanço. Seu primeiro álbum, intitulado justamente Rodas de Griô, foi lançado em 2017, depois de mais de dez anos de carreira, como resultado do Prêmio Nacional de Expressões Culturais Afro-Brasileiras.

De origem africana, o griô é esse guardião da memória, responsável por transmitir os saberes de geração em geração. Martinha é uma griô, um registro vivo, uma contadora de histórias, que compartilha com felicidade seu conhecimento. Em Rodas de Griô, a artista dividiu seu conhecimento com ilustres parceiros. A faixa Ciranda Ancestral conta com a participação das crianças do Ensino Fundamental I do CAIC Paranoá; em Coco do Cerrado apresenta batidas bem marcadas para lembrar o funk que já agradava os adolescentes do Ensino Fundamental II e Ensino Médio da Escola Buriti Vermelho; e no maracatu Balanço da Saia, a mestra conta com a participação dos alunos do Ensino Fundamental II da Escola Zilda Arns.

Martinha do Coco (Foto: Bento Viana / Revista Traços)

O segundo disco, Perfume Dela, veio bem mais rápido, em 2018. Como diz Martinha, “tinha nenhum; aí depois tinha dois”. O nome do segundo disco resgata o momento em que a música ressurge com força na vida de Marta Leonardo. Abalada pela trágica morte de Luiza, sua neta de poucos meses, falecida em um acidente de carro, Marta foi levada por uma sobrinha para conhecer a Organização Tambores do Paranoá (Tamnoá). Ali, reencontrou, na música, a alegria e também uma forma de homenagear Luiza, eternizada na canção Perfume dela:

“Não posso nem pensar em saudade / Que o tempo dá viravolta / Sinto o cheiro do perfume da menina / Quando ia pra janela / A tardinha espiar / Quando o tempo não é noite, nem dia / E galinha com os pintinhos já foi se deitar”.

Martinha do Coco (Foto: Bento Viana / Revista Traços)

É no Tamnoá também que Martinha se reencontra com suas referências da infância — o coco, o maracatu, a ciranda. “Minha cultura nunca saiu de mim”. Ali surgia Martinha do Coco.

Hoje moradora do Paranoá Parque, Martinha segue firme fortalecendo o cenário cultural da cidade com atividades na quadra 28 da cidade. Com a família (são quatro filhos e sete netos, além do companheiro Adão, com quem está há 24 anos — e a banda formada por Ana Cristiane de Souza, Isadora Santos, Ana Paula Silva, Guilherme Luz, Heitor Leonardo, Rafael Correa, Ana Claudia Moura, Raimundo Carlos Frazão e Cleudes Pessoa (produção), Martinha toca um poderoso cortejo de coco, ciranda e maracatu.

E é entre parentes e entes, entre história e memória, entre batuques e cantigas que Martinha do Coco relembra e reconta um pouco de sua própria aventura em entrevista para a Traços nº 34. Já nas ruas!

Martinha do Coco (Foto: Bento Viana / Revista Traços)

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