Foto: Thaís Mallon / Revista Traços

As cores do silêncio

Surdez e artes visuais: conheça o grafiteiro Rafael Osdrus

Traços Digital
Revista Traços
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4 min readMar 11, 2019

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Por Marianna França

Osdrus, lido de trás para frente, significa surdo. Esse foi o nome artístico adotado por Rafael Caldeira Santos, grafiteiro do Distrito Federal. O nome Odrus traz alguns significados importantes para Rafael, entre eles o contato visual experimentado pelo grafite, que inibe os outros sentidos, e também a ligação pessoal que o artista tem com a deficiência auditiva.

Rafael nasceu surdo. E apesar das dificuldades que teve para se comunicar, encontrou na arte uma motivação para guiar a vida. Ele sempre teve vocação para o desenho, mas o primeiro contato com o grafite foi aos 16 anos. Na época, o adolescente que morava em Planaltina viu a galera do movimento hip-hop dançando break.

Foto: Thaís Mallon / Revista Traços

“Eu não conhecia hip-hop, não sabia o que era”, Rafael conta, em Libras, com tradução da esposa, Luana Pereira.

O flerte com o break não avançou, pois a surdez dificultava a execução da coreografia, que ele continuava a dançar mesmo com o fim da música.

Foto: Thaís Mallon / Revista Traços

Mas a interação com o elemento do hip-hop que mudaria sua vida aconteceria mais para a frente, por meio do amigo Melo, de São Paulo. Ele mostrou a Rafael um “sketchbook” de grafite e foi amor à primeira vista. “Eu achei incrível”, lembra. Rafael ficou impressionado com as diferentes combinações e nuances de cores ilustradas nas páginas do caderno. Foi o casamento perfeito porque, segundo Odrus, ele encontrou no grafite a arte visual que combina totalmente com a sua surdez.

Com 18 anos, o artista passou a investir mais no seu talento e algumas pessoas o ajudaram a aperfeiçoar as técnicas do grafite. Ele enfrentou algumas dificuldades por não ter dinheiro para comprar o material que precisava. A solução foi trabalhar em uma empresa de limpeza, para financiar a vocação. A empreitada deu certo e Odrus conseguiu evoluir a arte no estilo de “graffiti throw-up”, que é arte com letras. “E aí eu comecei a viajar para eventos em todo o país, aprendendo mais técnicas com amigos grafiteiros”, lembra.

Foto: Thaís Mallon / Revista Traços

O grafite só trouxe felicidade a Odrus. E graças à perseverança e ao talento, o grafiteiro viaja para vários lugares do Brasil e do mundo. Ele foi convidado para participar do Meeting Of Styles em setembro de 2016, na Califórnia, e também a expor em Nuremberg, na Alemanha. Em 2017, participou do Festival Internacional Clin D’oeil, na França, compartilhando seu conhecimento em workshops de grafite para adultos e crianças surdas. “Foi uma experiência muito boa, porque eu gosto muito de ensinar grafite para as crianças”, conta. Odrus acredita no poder que arte tem de transformar vidas, porque ela transformou a dele.

Fotos: Thaís Mallon / Revista Traços

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