STREET CADEIRANTE — Quando a vida tira para dançar

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Revista Traços
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5 min readOct 5, 2021

Por Shyrlem Barbosa | Fotos: Carol Santi

Street Cadeirante

Quem é Carla Maia?

Jornalista, publicitária, modelo internacional, dançarina e mesatenista paralímpica. Ufa! O currículo de Carla Maia é extenso, e sua história de vida, inspiradora.

Carla sempre foi ligada a atividades físicas, especialmente à dança, que praticava no colégio quando mais nova. Porém, a vida mudou drasticamente aos 17 anos, após sofrer um sangramento espontâneo na medula, que a deixou tetraplégica.

Ela conta que, mesmo após o ocorrido, continuou seguindo atrás de seus sonhos: “Eu voltei a fazer minhas coisas normais aos poucos, voltei a estudar, me formei em publicidade e jornalismo, e hoje sou repórter concursada na TV Brasil”. Mas a publicitária nunca esqueceu sua grande paixão, a dança.

“Durante muitos anos, tentei voltar a dançar, mas não conseguia ter o prazer da dança igual eu tinha na banda do colégio… Tentei fazer dança de salão, então, fui atrás de um professor particular e o contratei. Até que era divertido, mas quando dava as mãos para ele, eu sentia que quem dançava mais era a cadeira, e não eu”, relembra.

O tempo passou e Carla continuou fazendo aula de dança com instrutores particulares, pois tinha vergonha de ir a uma academia. “Eu achava que não era o meu lugar, que não tinha nada a ver uma cadeirante lá porque iria atrapalhar os outros, não me sentia à vontade”, conta a artista.

E, apesar do esforço, não conseguia sentir a mesma alegria que sentia ao dançar antes da deficiência. “Peguei uma professora que era ex-dançarina do Faustão, peguei também professores que não sabiam muito bem o que fazer comigo, e nem eu com eles”, recorda.

Foi então que um convite inesperado virou sua vida de ponta-cabeça. Carla foi selecionada para representar o Brasil no primeiro concurso Miss Mundo Cadeirante, na Polônia, em 2017. “Isso foi uma coisa maluca na minha vida. O cara me achou no Facebook e falou: você quer concorrer a essa vaga?’’.

Ela ficou incrédula no primeiro momento. “Nem sabia se o negócio era de verdade, depois eu pesquisei, lógico, e me inscrevi”, diz.

As participantes do concurso tinham uma rotina rígida de treinos e precisavam ensaiar arduamente para as apresentações na competição. Ficavam das 9h às 21h aprendendo coreografias. Embora a carga horária de ensaio fosse absurdamente cansativa, foi por meio desse contato com a dança que Carla reconectou-se à sua grande paixão. “Eu nunca estive tão feliz na minha vida. Então, eu falei: quando voltar para o Brasil, preciso voltar a dançar de qualquer jeito”, relembra.

Carla ficou em quarto lugar pela votação popular e retornou ao país decidida a dançar de novo: “voltei muito empoderada desse concurso, não sei por que, mas transformou minha vida, voltei me sentindo uma mulher muito poderosa”.

A repórter conta que uma de suas inspirações para começar as aulas de dança urbana foi a dançarina estadunidense Chelsie Hill, fundadora do grupo Rollettes, uma das maiores equipes de dança de cadeira de rodas do mundo. “Fui em uma academia de dança aqui em Brasília. Cheguei na recepção e mostrei o vídeo da Chelsie dançando para o moço, e perguntei o que ela estava dançando. O cara falou: ‘danças urbanas, isso é Street Dance’. Então, eu perguntei se podia me matricular, morrendo de vergonha. Aí, me inscrevi na aula dos andantes”, conta.

“Durante a aula, eu fui adaptando os movimentos, sabe? Quando o professor mandava jogar a perna, eu jogava o braço. E comecei a ver que esteticamente ficava muito legal, e comecei a gostar muito. Então eu pensei: ‘preciso compartilhar isso com minhas outras amigas cadeirantes’. Conversei com a dona da academia, falei da ideia de ter uma turma só de cadeirantes. Ela autorizou, o professor topou e eu comecei a divulgar, e com o estímulo da academia, do professor e dos próprios cadeirantes, a gente marcou a primeira aula experimental”.

Deu certo! Em 2018, nasceu o Street Cadeirante.

STREET CADEIRANTE

O grupo Street Cadeirante é um projeto de dança voltado para pessoas em cadeira de rodas. Atualmente, a iniciativa tem dois grupos: o grupo show e o grupo Street Cadeirante Virtual.

Street Cadeirante em Ação

O grupo Show conta com oito integrantes e é a equipe que faz as apresentações. Segundo Carla, fazer parte dessa equipe exige uma dedicação maior dos participantes, “eles têm o compromisso de frequentar as aulas, ir às apresentações, ensaiar… E aí requer um profissionalismo mesmo, porque esses eventos que fazemos, as pessoas nos contratam, a gente recebe para se apresentar”. Este grupo é restrito apenas para moradores de Brasília, pois os ensaios são presenciais.

Já o grupo Street Cadeirante Virtual, segundo Maia, é a parte mais social do projeto, no qual são ministradas aulas de dança gratuitas para pessoas com deficiência física de todo Brasil. As aulas acontecem aos sábados, às 17h, pelo Zoom.

Para participar da iniciativa, basta entrar em contanto pelas redes sociais do Street Cadeirante, enviar nome e o número de telefone e preencher um formulário. Em seguida será adicionado(a) a um grupo de WhatsApp, no qual o link para as aulas é disponibilizado.

Siga nas redes: @streetcadeirante

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