Uma intervenção política através da arte

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Revista Traços
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3 min readNov 17, 2021

Por Dan Alves

fotos de acervo pessoal do Pedro França

No teatro, a primeira experiência de Pedro Henrique França ainda na infância foi com a peça “Tistu, o menino do dedo verde”, uma adaptação do texto de Maurice Druon sobre um garoto com capacidade de transformar as coisas negativas em positivas. Arte e cultura sempre foram presentes em sua vida.

— Foi uma experiência linda, eu me descobri no teatro — relembra. — Eu amei, só que não engatei. Eu sentia que aquilo não era pra mim. Sou uma pessoa com deficiência, então entendia que esse lugar de protagonismo no palco não era possível.

Optou por jornalismo, e de 2007 até pouco tempo atrás produziu reportagens. Em 2015 começou a escrever o roteiro do programa “Esquenta”.

— Eu descobri esse outro lugar — conta. — Eu entendi que aquilo era uma coisa que eu queria fazer na minha vida. Continuei.

Em 2018, foi morar em Recife para fazer cinema. Naquele momento, diante do período extremamente polarizado e problemático, o discurso de ódio era utilizado como retórica política aceitável. Os setores sociais mais progressistas, incluindo a classe artística, se viram diante de um futuro alarmante.

fotos das redes socias de Pedro frança

— Foi difícil para qualquer pessoa que ainda considera os direitos humanos, ainda mais eu sendo um homem gay — lembra. — Eu fiquei bem fodido da cabeça com a possibilidade de eleição do Bolsonaro, que depois se concretizou.

Em dezembro de 2018, duas semanas após a eleição, lançou o clipe “Pedrinho”, de Tulipa Ruiz. A ideia veio do episódio de censura sofrido pelo artista Wagner Schwartz em 2017 durante performance no MAM de São Paulo.

— É uma performance dele nu, uma criança toca no pé dele, e alguém postou um vídeo na internet — contextualiza o fatídico episódio. — Viralizou, e as pessoas foram pra porta do MAM até a performance ser cancelada.

Assinando como roteirista e diretor, além de atuar, Pedro começa o clipe tocando o pé de um homem nu. Ele, que tem um corpo infantilizado aos olhos da sociedade, repete o ato ocorrido em 2017. Mas ao invés de provocar a violência como na realidade, na obra ocorre o efeito reverso: o amor se manifesta. A ideia central do clipe é deserotizar o olhar ao corpo nu.

Por coincidência ou não, assim como em “Tistu”, seu personagem também tem a capacidade de transformar as coisas. Não com um dedo verde como na ficção, mas com o poder criativo de sua mente.

Redes Sociais da “Representa”

— E assim nasce a Representa — conta sobre a origem de sua produtora. — Ela vem do meu entendimento de que perdemos a comunicação. E como a gente recupera esse diálogo? Como voltamos a caminhar para a frente?

A produtora prioriza um canal de afeto e amor como linguagem para construção de um diálogo. Pedro já dirigiu clipes de Letrux, Maju, Illy e mais recentemente, antes da pandemia, “De ontem” da cantora Liniker, premiado no festival Los Angeles International Music Video Festival na categoria melhor direção de arte. “Pedrinho”, de Tulipa, foi laureado no mesmo festival por melhor direção e melhor videoclipe.

Em uma nova fase da vida, Pedro está se reconectando com seu passado através da atuação na peça “Pá de Cal” de Jô Bilac, e entendendo que seu lugar também é no palco. O convite para participar da peça como ator o pegou de surpresa, mas ele não pensou duas vezes antes de aceitar. A peça encerrou recentemente a temporada em Belo Horizonte e entra em cartaz no CCBB Rio de Janeiro no próximo dia 26 de novembro e permanece até 19 de dezembro, de quinta-feira a domingo, com sessões às 18h (quinta-feira a sábado) e às 17h (domingos).

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