Uma mulher como todas
O verbo destemido da escritora Liane Collares
por Marianna França
“Sou bastante vaidosa, igual a minha mãe!”, diz Liane Collares, sorrindo. Ela tem o cabelo loiro, olhos amáveis, sorriso doce, roupa bem alinhada e nitidamente escolhida a dedo. Essa é a Liane. Alegre, amorosa, de alma sensível e perfeccionista, ela gosta de contar as suas histórias nos mínimos detalhes. Tanto é que a sua vida não cabe em poucas linhas. Na verdade a vida dela é uma história merecedora de livro, livro que inclusive ela já escreveu e se chama “Liane, mulher como todas”.
A escritora, de 55 anos, tem síndrome de down. Mas isso é só um pequeno detalhe, pois a condição não a torna diferente de qualquer outra mulher, como diz o título de sua própria obra. Na verdade a torna mais batalhadora.
Com meio século de vida, ela já fez mais coisas do que muita gente por aí. Atuou em peças, fez filme, comerciais, deu palestras, foi campeã de natação e escreveu um livro! A lista de conquistas é enorme. Isso graças à garra de guerreira e apoio incondicional da família. “Eu sou tão perfeita e exigente demais. Aquilo que eu quero fazer, ninguém tira… E tudo isso que eu sou é por causa do meus pais”, explica, com os olhos cheios d’água.
Marilei Collares, a mãe de Liane, conta que quando a filha nasceu o médico disse que o bebê novo não era igual ao filho mais velho dela. “E aquilo pra mim foi tranquilo. Eu comecei a ver o desenvolvimento dela — que era diferente do irmão. Ela não chorava até os três meses, era muito calma, dorminhoca. E depois, com o andar dos anos, para ajudar no desenvolvimento, comecei a fazer o que vinha na minha intuição”, lembra.
Quando Liane cresceu mais, Marilei viu o comercial de uma boneca da estrela que falava 14 frases. “E aí eu pensei que o brinquedo poderia ajudar. A boneca dizia palavras curtas e a Liane prestava atenção na boneca. Eu repetia as frases da boneca e fazia ela repetir comigo. Isso fez ela trabalhar a musculação facial e funcionou muito. Ela fala bem!” Liane completa a mãe, rindo: “E falo até demais!”.
E assim passaram-se os anos, com muito esforço da família e de Liane para conquistar um espaço no mundo. Com um século de vida, muito bem vivida, a escritora ainda tem muitos sonhos para realizar. Ela quer se cuidar mais, morar sozinha e conseguir independência. ”Os meus pais já fizeram um monte, agora preciso fazer sozinha… Eu quero trabalhar, ter o meu dinheiro e me sustentar. E quero adotar uma criança. Não tem como ter um filho daqui (aponta para a barriga), mas eu quero adotar”, termina, emocionada.