Expectativas e Completude: Uma análise de Final Fantasy VII REMAKE

Diogo Zimmermann
ReViu
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7 min readMay 13, 2020

Como um jogo que esperei por muito tempo acabou atingindo minhas expectativas.

Era 2015 quando finalmente saiu a notícia que muita gente queria ouvir: Final Fantasy VII, um dos gigantes do mundo JRPG estaria voltando, e não como mais um jogo na sua tentativa de se tornar um Kingdom Hearts com o tanto de spin-offs, mas sim como um REMAKE.

Na época, num mundo em que não existia o COVID-19 e todos podiam ver suas conferências favoritas como E3, GDC e TGS, eu estava no conforto da minha casa esperando o famoso baile que a Sony costumeiramente dava na E3 com seus exclusivos (vou ganhar hate por isso, mas enfim). Demorou um pouquinho, depois de um vai e vem de anúncios, pude visualizar um pequeno momento de felicidade se formando na tela: embora o início do vídeo não se assemelhava em nada e que por alguns instantes meu único pensamento foi “o que diabos é isso?”, logo surgiu a melodia singular que cansei de ouvir nos dourados anos do meu PS1.

Ali estava, em sua glória, a promessa de que Final Fantasy VII estava voltando, e não como mais um dos 87 remasters, mas sim completamente refeito.

Apesar de não ser meu FF favorito, fiquei extremamente feliz. Querendo ou não, o VII foi um dos jogos que mais joguei em toda a minha vida, e perceber que eu finalmente poderia jogá-lo novamente me encheu de uma alegria momentânea.

No entanto, o hype gelou um pouquinho no outro dia, quando eu comecei a pensar em como eles fariam um jogo tão grande. Impossível que seja em um game só, simplesmente não dá…

Acabou que eu estava certo, e por isso, eu fico triste na realidade. Eu queria que o jogo viesse direto, full, “completasso”, 100% atualizado à la Bomba Patch (rs). No mesmo ano foi anunciado que o jogo seria em partes, e isso, meu amigo… atraiu a ira de muitas e muitas pessoas.

O fato é que, a decisão de usar um lançamento em múltiplas partes não é apenas por motivos de sugar dinheiro dos consumidores (há quem diga que esse é o único motivo). Qualquer pessoa em sã consciência e com um pingo de conhecimento básico no desenvolvimento de games de forma geral, saberia que para ter um jogo dessa grandeza, mesmo sem adicionar nada de novo, não seria viável técnica ou financeiramente.

O ponto é que, aproveitando o fato de ser em múltiplas partes, os produtores decidiram também expandir e como disseram ocasionalmente “reimaginar” os eventos que aconteceram em Final Fantasy VII.

E vejam só, valeu cada minuto gasto nessa Midgar de aproximadamente 35 horas. O enredo principal do jogo não está completo, nem de longe. Todavia, o jogo que nos foi entregue, esse sim, posso considerar como algo que atingiu uma completude.

EXPECTATIVAS

Chegamos então ao ponto. Sou um fã de longa data dessa série absurda de JRPGs, e inclusive estou devendo uns cinco textos em relação a ela. Como eu estive jogando direto esse remake na última semana, decidi escrever tudo antes que me escape da memória.

Esperei com certa cautela pelo lançamento; apreciava os trailers, as gameplays e notícias, mas nunca me engajava demais. Veja bem, não é porque o jogo não me agradava, muito pelo contrário: eu estava esperando pelo pior, ainda mais após o fiasco de lançamento “quebra-cabeças” que foi o Final Fantasy XV.

Esperar pelo melhor e preparar-se para o pior: eis a regra.
— Fernando Pessoa

Fernando Pessoa foi sábio, e acho que devíamos sempre utilizar essa regra quando formos dosar nossa emoção perante principalmente jogos e produtos de entretenimento de forma geral. Tive essa lição aprendida como citado antes, com a décima quinta brincadeira dessa fantasia que de final não tem mais nada.

Sendo assim, fiquei com os dois pés para trás, mas deixei claro para mim mesmo que compraria o jogo de alguma forma. No fim, demorou um mês, e quem comprou foi minha noiva, mas o fato é que estava em minhas mãos.

Confesso que ao iniciar o jogo, um frio na barriga veio. O qual sumiu quando comecei a quebrar os soldados da Shinra na “espadada”. A gameplay estava impecável, e sem querer, o sistema de batalha acabou se tornando, um pouco mais tarde, o mais balanceado entre a guerra de “turnos ou action” que vemos por aí. Tudo se mescla muito bem, e a única coisa que me incomodou às vezes foi a câmera meia doida em alguns momentos.

Essa parte definitivamente superou quaisquer expectativas que eu pudesse ter, por melhores que elas fossem. E isso era bom, muito bom.

A trilha sonora se manteve no capricho, atuando de forma proeminente e magnífica nos trechos que já sabíamos que viria, e surgindo em novos locais, com um novo twist aqui e ali, deixando algo fresco e agradável.

Agora chegamos ao ponto que, para mim é o principal: e a história?

Levando em consideração que o jogo sairia em partes, e que a primeira destas seria apenas em Midgar, a expectativa foi meio baixa. Por mais que eu soubesse que não seria possível trazer o jogo inteiro com a qualidade técnica atual, era meio “broxante” jogar apenas um pedaço do game.

Posso dizer que o jogo calou minha boca de forma respeitosa. Os desenvolvedores mandaram super bem em toda a expansão da cidade, do enredo e tudo o que envolve as escolhas futuras diante um desenvolvimento incerto.

Trechos e personagens que antes eram pouco explorados foram revitalizados e reformulados para trazer um novo olhar para muitas coisas presentes ali.

Um grande exemplo é poder observar todo o setor 7 destruído quando estamos subindo em direção ao prédio da Shinra.

A emoção aqui em relação ao original é muito mais impactante. E é esse tipo de coisa que faz o Remake valer a pena.

As escolhas de conceito e game design tomadas para que pudéssemos ter uma nova visão de como Midgar é, e como os acontecimentos evoluem são acertadas, e nos trazem novos sentimentos além da nostalgia à tona.

O jogo que mantive uma certa distância, comedindo minhas expectativas, acabou me entregando uma obra digna de muitos aplausos, e um belo sorriso por perceber que nem tudo ficou exatamente como era.

COMPLETUDE

E enfim vamos para a parte que rola muita controvérsia.

Vi muitos comentários referenciando o fato de como o jogo está entregando apenas Midgar, ele é apenas uma nova tentativa da Square de entregar um jogo incompleto.

Durante toda a discussão, tentei não me envolver, afinal eu não havia jogado ainda. No entanto, depois de finalizar o jogo, posso afirmar com um pouco mais de propriedade em relação ao assunto.

Primeiro vou falar o que eu não concordo: o nome. Tudo bem, temos notícias atrás de notícias dizendo que esse vai ser o primeiro jogo de uma série de jogos, mas não há qualquer menção disso no próprio nome. Deixar apenas como REMAKE é algo que não é muito intuitivo, principalmente quando o jogo de fato não traz 100% do enredo principal. Falta uma indicação de partes aí, a não ser que os próximos jogos sejam espécies de DLCs acopladas ao jogo atual (o que seria meio bizarro, e ainda assim discutível).

Deixando isso para trás, voltemos a completude.

Atualmente, no caso do REMAKE, estou tratando-o como um jogo novo. O que isso implica? Significa que decidi tratar o jogo como eu trataria um Final Fantasy XVI com final aberto.

Significa que decidi tratar o jogo como eu trato as últimas histórias modernas de Assassin’s Creed. Ou como eu tratei até mesmo Final Fantasy XIII.

A questão é que Final Fantasy VII REMAKE é um jogo completo em sua essência, como um jogo único. Ele possui um início introdutório, um build-up, um clímax e uma espécie de resolução, que deixa o final em aberto.

O problema é que as pessoas estão indignadas pois já sabem que a história tem um fim, e sabem que o caminho para este fim já existe. O que elas não entendem (ou recusam a entender) é que REMAKE pretende ser o “compiladão reimaginado” de Final Fantasy VII.

Quem jogou e finalizou sabe o que o final nos trouxe (além das cenas Kingdom Hearts-esque), e as diversas mudanças que podem ocorrer a partir de agora. E isso já é uma explicação suficientemente boa para demonstrar a importância de trazer novas partes, novos jogos em vez de um só. Final Fantasy VII REMAKE está tão completo como poderia estar, possui todas as mecânicas e estrutura de enredo que indicam ser um game digno de full price.

Final Fantasy VII deixou de ser um único jogo há muito tempo. A sétima entrada dessa franquia enorme já é um universo em si só. E o REMAKE é uma tentativa de trazer esse universo para um único ponto, com a intenção de parar os infinitos retcons e trazer coesão a tudo.

Começou bem. Mas só o tempo dirá se terminará digno de estar novamente no panteão que hoje é dominado pela sua contraparte de 1997.

Final Fantasy, Final Fantasy VII REMAKE, são de propriedade da Square Enix.

Texto por: Diogo Zimmermann

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