Como desenvolvemos Product Managers no Zé

Lucas Colucci
ReZÉnha
Published in
10 min readJun 10, 2021

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Uma das coisas mais difíceis de se definir no mercado é o escopo de trabalho de Product Managers (PMs). Digo isso pois, em cada empresa, essa pessoa acaba tendo um conjunto de habilidades necessárias bem diferente e, portanto, seria muito leviano da nossa parte tentar explicar o que Product Managers fazem de forma geral.

No entanto, o que podemos e queremos fazer é deixar um pouco mais claro não apenas o que é Product Management dentro do Zé Delivery, mas também toda a nossa trilha de carreira! :)

Bora junto?

A primeira coisa que precisamos explicar é que nossa trilha de carreira tem duas características principais. A primeira, é que ela não mantém a pessoa na mesma posição, com as mesmas responsabilidades em todos os níveis, existe uma mudança de responsabilidades e de função em alguns dos níveis — e por isso a mudança de nomes, para poder acompanhar a semântica. E outra é que temos uma carreira em Y, o que significa que pessoas em um nível de senioridade alto, podem escolher entre uma carreira especialista ou de gestão dentro do Zé.

Mas, vamos parar de ladainha e vamos para o que importa, né? Nossa trilha de carreira.

Estágio em Produto

O primeiro contato que uma pessoa pode ter com produto no Zé é, na verdade, através do nosso programa de estágio, o Zéstagio.

A ideia do programa é que a pessoa estagiária tenha uma experiência única durante seu tempo no Zé, e que consiga de fato entregar valor para a empresa — não gostamos daquele estilo de estágio do “pegar um cafézinho”. Na área de produto, cada pessoa então recebe um projeto de 6 meses ou 1 ano, e tem o acompanhamento próximo de PMs e GPMs para garantir que o projeto saia do papel.

Devo dizer, também, que não é porque a pessoa está no começo da sua carreira que damos projetos fáceis e simples. Preferimos dar projetos desafiadores, com grandes potenciais e que, se for preciso, essa pessoa receba ajuda de outras do Zé para conseguir realizar todas as tarefas. Acreditamos que, dessa forma, o propósito do trabalho aumenta, os aprendizados são acelerados, e a empresa pode contar com um projeto importante sendo priorizado :)

No entanto, como sabemos que o estágio faz parte do aprendizado da pessoa durante a faculdade, e que a efetivação depende de variáveis que vão muito além do nosso controle, como em que ano da faculdade a pessoa está, qual o interesse futuro dela, de outras experiências de estágio que ela teve e etc, não colocamos a etapa de estágio na ilustração da nossa trilha de carreira, apesar de ser uma das iniciativas que mais gostamos aqui dentro.

Analista de Produto (Product Analyst — P.A.)

A carreira de Produto é muito nova no mundo. No modelo que conhecemos hoje, e no Brasil, não deve passar de 10 anos. No entanto, a demanda por pessoas qualificadas já está altíssima, e a busca por profissionais está cada dia mais acirrada. Pensando nisso, decidimos criar uma trilha de carreira que começa praticamente do zero para que conseguíssemos formar pessoas aqui dentro de casa.

A ideia então foi criar o cargo de Analista de Produto (PA). O conceito por trás desse cargo é fazer com que a pessoa aprenda a maior parte das habilidades que Product Managers precisam no dia-a-dia, através de projetos dentro de times de desenvolvimento de produtos. A analogia que gosto de fazer é com um quebra-cabeças. Cada peça do quebra-cabeças é uma habilidade, e ao longo da trilha de carreira da pessoa PA, ela vai juntando as peças para conseguir montar exatamente a figura que precisa. Esse “quebra-cabeças” de fato existe, e se chama “matriz de habilidades” dentro do Zé. É um conjunto com (atualmente) diferentes habilidades (como colaboração, comunicação, gestão de resultados, análise de dados e muitas outras), com cinco níveis diferentes cada, que acompanhamos dentro da carreira de produto.

Imagine, então, que a PA1 é aquela pessoa que entra no Zé, ainda sem saber ao certo a figura do quebra-cabeças que precisa montar, ou com pouquíssimas peças do quebra-cabeças. A ideia, então, é que coloquemos essa pessoa em projetos que lhe permita ter contato com o maior número de peças possíveis para que ela se desenvolva rapidamente. Além disso, também aceleramos o desenvolvimento com cursos de produto, mentorias internas, feedbacks constantes e outros processos para que a trajetória dela seja a mais fluida possível.

Quando a pessoa se encontra no nível de PA2, ela já tem algumas peças do quebra-cabeças, então precisamos pensar mais cuidadosamente em quais projetos ela irá desenvolver, pois precisamos ter certeza de que este será complementar às habilidades necessárias para completar seu quebra-cabeça, e que não será “mais do mesmo”.

É importante ressaltar que, no Zé, desde as pessoas estagiárias, passando por PAs, e qualquer outra pessoa da nossa equipe, todas as pessoas tem sempre projetos desafiadores e que agregam ao que já estamos fazendo. Costumamos dizer que não queremos que as pessoas entrem nos times para “dividir trabalho” e sim para “somar resultado”. Só assim garantimos que o trabalho sempre será desafiador, com um propósito e também que trará ótimos aprendizados.

Tanto pessoas estagiárias quanto as próprias PAs respondem diretamente a GPMs (Group Product Managers) e, apesar de não estarem 100% alocadas em uma squad, elas geralmente acompanham o dia-a-dia e ritos de algum time, se aproximando de Product Managers mais seniores. A ideia é que elas tenham alguém com quem trocar mais rapidamente informações durante o desenvolvimento do seu projeto, e que consiga se basear na hora de rodar suas próprias cerimônias, rotinas e etc.

Após passar por todos esses projetos e aprendizados, a pessoa provavelmente já estará com todas as peças do seu quebra-cabeças separadas e organizadas, mas faltará um ponto importante para que se torne uma PM — prática. Para que consiga de fato colocar as peças no lugar certo, a pessoa precisa então ter a oportunidade de trabalhar junto a um time multidisciplinar (squad) e viver o dia-a-dia de Product Manager. É aí que entra o nosso cargo de Associate Product Manager.

Associate Product Manager (A.P.M.)

O APM é o que chamamos de cargo de transição, ou seja, é um cargo no qual as pessoas que estão ali já possuem as peças necessárias para montar o quebra cabeças, mas não possuem vivência suficiente para tal. Por isso, criamos um ambiente no qual ela será parte de um squad, mas teremos uma liderança (Group Product Manager) bem perto, para garantir que ela possa errar tranquilamente e corrigir rápido, sem que isso afete o Zé como um todo.

Além das PAs que estão em ascensão de carreira, o cargo de APM também pode ser utilizado para trazermos do mercado (ou do próprio Zé) pessoas que estejam querendo fazer transição de carreira, ou seja, estejam em áreas adjacentes a produto (como design, growth, marketing, CX, etc), já tenham a senioridade e as práticas de produto, mas não tenham tido a oportunidade de praticá-las ainda.

Uma vez tendo esse quebra-cabeças montado e consolidado, a pessoa está pronta para virar de fato uma PM dentro do Zé!

Product Manager (P.M.)

Bom, o que muda, então, entre Associate Product Managers e Product Managers? Quando a pessoa é PM, nós esperamos que o squad rode com muito mais autonomia nas decisões de produto, e que a PM já tenha total responsabilidade pelos resultados de suas decisões.

A PM1 então passa a ser muito mais independente para as tomadas de decisão sobre o produto, mas obviamente sempre compartilhando os pontos mais importantes não apenas com a liderança de Produto, mas com stakeholders de seu produto.

O primeiro nível de PM geralmente se preocupa mais com a parte mais tática do seu próprio produto, e começa a olhar e entender um pouco mais sobre a estratégia dos times adjacentes ao seu (o que no Zé chamamos de tribo, o conjunto de times que tem escopo parecido). Conforme a pessoa vai ganhando mais senioridade e familiaridade com o produto, ela vai conseguindo ganhar mais escopo de atuação, conseguindo ter uma visão mais estratégica de futuro do próprio produto, e também da própria tribo, ajudando no alinhamento estratégico do seu produto com outros produtos relacionados. Quando a pessoa chega nesse nível, de conseguir olhar não só para o seu próprio produto, mas também para outros produtos, ela já está tecnicamente hábil para se tornar uma PM2.

Como PM2 ela já é considerada uma PM de alta senioridade e especialidade, sendo referência técnica dentro da tribo para desenvolvimento de produtos, e conseguindo a começar a ajudar PMs, APMs e PAs a se desenvolverem.

E nesse ponto, é onde se encontra geralmente o maior desafio da carreira Product Manager — ir para a carreira de gestão (GPM1) ou para a carreira de especialista (PM3)?

A carreira de gestão é limitada pelo número de vagas que tenhamos de gestão, obviamente (apesar de o Zé estar crescendo e não termos tido esse tipo de problema ainda). Além disso, essa decisão não é necessariamente irreversível, ou seja, se a pessoa escolhe ir para a cadeira de PM3, não é impossível fazer uma transição para GPM1, e vice-versa. No entanto, quanto mais adiante a pessoa anda em uma das vertentes, pode dificultar a transição, pois o conjunto de habilidades necessárias para fazer uma possível mudança mudaria muito.

Product Manager (Especialista)

Se a pessoa escolhe ir para uma vertente de especialização, ela continua respondendo para um GPM, e continua fazendo parte de uma Squad. A diferença é nos tamanhos dos desafios que são proporcionados, e na expectativa que temos em relação à ajuda técnica no capítulo de produto como um todo para garantir que estamos sempre criando produtos da melhor maneira possível.

Quando se trata de desafios, o Zé sempre terá algumas iniciativas que são mais incertas, e com mais riscos. Para essas, a ideia é que tenhamos sempre PMs mais seniores, para que os riscos sejam mais baixos para o Zé, e para que o trabalho para essas pessoas seja sempre desafiador também.

Além disso, quanto mais alto o nível da pessoa PM, mais é esperado que ela se torne uma guardiã da nossa prática de Produto, ou seja, que garanta que estamos sempre descobrindo e entregando produtos da melhor maneira que conseguimos. Isso inclui mentorar PMs mais juniores, explicar novas tendências de práticas de produto, padronizar metodologias que utilizamos e outras iniciativas que façam sentido.

No que diz respeito a salário, e não, isso não é um tabu dentro do Zé, essas pessoas ganham o equivalente aos GPMs. Se não, não seria uma carreira em Y, certo? :)

Group Product Manager (GPM)

Agora, se a pessoa escolheu a estrada da gestão, ela se torna uma Group Product Manager (GPM). Para explicar melhor essa função, eu gosto de quebrar em dois diferentes aspectos: estratégia e gestão.

Estratégia

Do ponto de vista estratégico, essa pessoa cuida da estratégia do que chamamos de tribo — conjunto de squads (times multidisciplinares) com propósitos complementares ou adjacentes, juntamente com outros líderes da tribo (geralmente gestores das áreas de design e engenharia). Isso significa que ela é responsável por fazer a conexão entre a estratégia geral da empresa e a estratégia local da tribo. De maneira mais concreta, isso se resume a pegar a estratégia da empresa para o ano e ressignificá-la para sua tribo, deixando claro o impacto que eles terão nos resultados da empresa para o ano. De maneira análoga, quando for necessário um alinhamento com a alta liderança da empresa, essa pessoa deve ser capaz de entender as estratégias dos squads, amalgamá-los e traduzir para a “linguagem” da estratégia da empresa, para que converse com o que estava sendo desenhado para o ano. Esse “vai-e-vem” de tradução estratégica é a principal habilidade que essa GPM deve ter.

Gestão

Do ponto de vista de gestão, essa pessoa é responsável pelo desenvolvimento profissional (e também pela parte de gestão burocrática — férias, admissão, rescisão e etc) de todas as profissionais da área de produto que estão dentro da sua tribo, ou seja, PAs, APMs e PMs. Apesar de ter sido mencionado por último nesse texto, para nós, é o papel mais importante para qualquer líder dentro do Zé, não só em Produto. Para nós, as pessoas vêm sempre em primeiro lugar.

Para evoluir como GPM, a pessoa deve demonstrar cada vez mais capacidade de gestão, ou seja, facilidade em gerir pessoas de diferentes perfis e senioridades, e também mostrar cada vez mais visão estratégica de Produto, amarrando não só a visão da sua tribo, mas também alinhando a visão estratégia do Zé, à visão da sua tribo e à de outras também.

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Bom pessoal, espero que tenham gostado de saber um pouco mais de como funciona a carreira de gestão de Produto dentro do Zé. Caso tenham se interessado, temos sempre vagas abertas na página de carreiras, muito conteúdo no Linkedin, e se tiverem alguma dúvida, podem entrar em contato comigo também :-D

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