Entrevista — Rob Gonnella (Raging Rob, ex-Assassin), lenda do thrash alemão

Norberto Liberator
Rise Above Zine
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9 min readOct 13, 2016

Co-fundador do ASSASSIN, banda antológica do underground alemão; fundador do CHECKER PATROL junto a Necrobutcher e Euronymous, do MAYHEM; fundador do RAGING MOB, uma das principais bandas do Metal chinês; recentemente fundador do RAGING ROB, sua banda solo. Com um currículo impecável, Gonnella é uma figura lendária e referência em todo o cenário Thrash Metal mundial. Em uma verdadeira aula de história sobre o underground, falou com o RISE ABOVE ZINE sobre toda sua trajetória, o início da cena alemã, as origens do ASSASSIN, sua relação com o MAYHEM e mais uma pá de coisa.*

Foto: Divulgação

Saudações! Obrigado pela entrevista! Como era a cena Heavy Metal quando você começou a cantar? Você tem alguma história boa daquela época?

Tenho de dizer ‘SAUDAÇÕES’ com ênfase para você por fazer uma entrevista conosco. Bem, eu tentarei meu melhor para te dar respostas apropriadas para as perguntas. Deixe-me ver, nós começamos quando eu tinha 12 anos de idade e comprei meu primeiro disco, “Back in Black” do AC/DC. No início dos anos 80, comecei a ver os primeiros shows de Metal e em 1984 passei a ser vocalista, então entrei para o Assassin. Naquela época a cena Heavy Metal nos classificou como Speed Metal (não havia o termo “Thrash”), então se você ouvir “Kill ’Em All”, “Hell Awaits” etc., o gênero era o mesmo que segui, que era o mais rápido, pesado e melhor. O outro gênero era o Glam Metal do Ratt, Motley Crue, Vixen etc, que eu realmente odiava (eles também odiavam a nós e ao som que amávamos). Para um show vestíamos jaqueta de couro, jeans com vários patches e bottons… cintos de bala tornaram-se moda também. Eu tenho boas memórias de verdade, e isso
claramente influencia em mim e nos músicos do Raging Rob e Assassin.

Quando você começou a querer estar em uma banda de Metal? Como o Assassin era no começo?

Bem, eu fui o último membro a fazer parte do line-up do Assassin. Um dia em 1984 conheci Dinko (guitarrista do primeiro e segundo álbum, compositor do terceiro) em um show local em Düsseldorf e, depois de uma boa conversa, decidimos nos juntar. A banda era formada por Lulle no baixo, Dinko e Scholli nas guitarras e Danger (ou Psicho) na bateria. A sala de ensaio era no porão de uma pessoa idosa que se aposentou e que tinha, claro, bastante tempo para deixar rolar o barulho em seu porão (riso). Em 1985 nós mudamos para um lugar maior e melhor, onde outras bandas ensaiavam e pegamos a sala de ensaio do Warlock. Nossos vizinhos eram Samhain (que depois se tornou Deathrow), Warrant, Apostasy e uma porrada de outras bandas. Começamos a fazer nossos primeiros shows e gravamos duas demos que venderam bem.

Foto: Divulgação

Que bandas influenciaram o Assassin quando vocês começaram a tocar?

Claro que tem bandas como Motorhead, Metallica e Slayer, mas também AC/DC, Judas Priest e Black Sabbath. Na verdade as várias bandas que ouvíamos quando adolescentes.

Vocês tinham alguma intenção de soar Thrash Metal ou isso foi totalmente natural?

(Riso) Realmente, pra ser franco, foi natural. Quando começamos a ter contato com esse tipo de som, ouvíamos principalmente Venom, Slayer e Metallica, então quando começamos a tocar, naturalmente ficou bastante pesado e rápido. Além disso, meu tipo de vocal só ficaria bom em Thrash Metal e nada mais (riso)…

Por que você saiu do Assassin?

Bem, antes de tudo devo dizer que não foi por qualquer razão pessoal. Foi por como a banda estava indo, a atmosfera resultou nisso. Ao contrário da experiência anterior, nenhuma das novas músicas tinha envolvimento de toda a banda, cada músico estava fazendo uma coisa. Depois da guitarra finalizada, faziam as linhas do baixo e depois as da bateria, e só então vinham até mim, o vocalista deixado pra depois. Antes, as composições eram feitas com todos juntos, cada músico podia dar ideias para os outros e vice-versa. Então, quando eu quis conferir uma nova letra com duas linhas diferentes de vocal, a banda rejeitou tocarmos juntos. Eu podia fazer várias decisões sobre o vocal por mim mesmo e, se preciso, ensaiaria sozinho. Eu pretendia isso e queria uma banda para tocar assim. Não sou um bom músico de estúdio. Toda diversão e significado de tocar em uma banda não estavam mais sendo praticados lá. Então eu os deixei, com sentimento de desapontamento e tristeza. Só depois de várias semanas, o Assassin anunciou mudança de vocalista, e eu soube disso. Eu definitivamente queria continuar o jeito Thrash Metal old school e precisava de uma banda.

Em 1986, você foi parte da banda Checker Patrol. Fale sobre a banda e a época em que você tocou com eles.

Bem, no meio dos anos 80 o Metalion (dono da revista Slayer Magazine) anunciou uma viagem pela Europa, e eu e alguns amigos queríamos encontrá-lo. Então um dia, voltando do colégio, cheguei em casa vendo três metalheads falando inglês na cozinha com meus pais e duas irmãs, e do lado de Metalion estavam Euronymous e Necrobutcher, do Mayhem. Nós de fato nos tornamos amigos e eu os mostrei tudo no lugar. Desde a sala de ensaios a todos os equipamentos usados pelos antigos membros do Assassin e Mayhem que se separaram havia um bom tempo. Então, um gravador de fitas foi usado para gravar tudo que saísse daquela sessão e demos o nome de ‘Checker Patrol’. Esse nome foi usado porque eu e os caras usávamos o transporte público e trem, mas não nos preocupávamos em comprar passagens. Então, é claro, se qualquer hora aparecesse um fiscal (em inglês, ‘checker’) que entrasse no trem e começasse a checar as passagens, nós teríamos que pular as portas e ir embora. Então decidimos que ‘Checker Patrol’ era o nome certo.

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Em 2003 você fez uma participação no álbum da banda israelense Nail Within. Como aconteceu?

Entre 1992 e 2001 eu morei na Ásia (maior parte do tempo em Pequim) e frequentemente visitava minha casa (umas duas vezes por ano), minha família e amigos na Alemanha. No verão de 2013 eu planejei visitar minhas irmãs em Berlim e logo falei com o Mille (Kreator) que também pretendia visitar Berlim junto com Harris Johns e uma banda israelense para gravar alguns vocais para eles. Nós nos encontramos (ele não mora muito longe de mim) e pegamos o trem para Berlim, então fomos ao Harris, na época um estúdio novo mais ou menos a uma hora de Berlim (não existe mais), onde conhecemos Harris e os agradáveis caras do Nailed Within. Eu acho que aí o Harris disse a eles que eu era o antigo vocalista do Assassin e gravei com ele, então eles me chamaram (perto do Mille e do vocal do At the Gates, que estavam lá também) para fazer alguns vocais… e eu aceitei. Primeiro, eles olharam desapontados e me disseram naturalmente: “ei cara, você está cantando como nos antigos álbuns do Assassin” (riso). Eu respondi: “Bom, eu canto assim”. No outro dia eles me chamaram (eu e Mille fomos para Berlim novamente) e disseram que adoraram e que estava soando ‘Hardcore’, me agradeceram bastante. Curti a época em que andei com eles, foi algo realmente legal de fazer.

Como você começou a cantar na banda Raging Mob?

Em 2005, me preparando para estar 100% para um show de 90 minutos do Assassin, eu fundei a banda Raging Mob com um americano e três chineses. Com o passar dos anos acho que a banda foi se tornando conhecida na cena Metal chinesa, e nós tocávamos desde nos menores aos maiores bares em Pequim. Em 2008, gravamos nosso primeiro e único álbum, “Raging Mob”, pelo selo chinês Mort Productions. Para os censores chineses (responsáveis pela fiscalização de toda produção artística), fiz letras extra falsas, então o álbum podia ser feito (com as letras reais, é claro… hehehe). Em 2009 eu me tornei ‘o melhor vocalista da China’ e em 2010 vencemos como ‘a melhor banda da China’ no site oficial do Wacken Metal Battle de lá. Foi realmente legal e tenho orgulho disso. Acho que em 2012 deixei Pequim, com minha esposa, e voltei para a Alemanha.

Ano passado, você formou o Raging Rob. Foi formado por causa da tua saída do Assassin?

Bem, sim e não. Sim, porque no Assassin o tempo de ensaio com a banda inteira (que é bastante importante para mim) não rolava mais e me pediam para ensaiar sozinho. Então, porque no Assassin aquela chance não era dada, eu deixei a banda sabendo que formaria minha própria banda com as pessoas certas (Dirk. Frank, Rudy e Maik dão importância aos ensaios da banda). Mas NÃO, não saí do Assassin porque já estava formando uma nova banda, a situação nos ensaios foi o gatilho.

Foto: Divulgação

De que bandas do Brasil você gosta?

O Sepultura antigo e Dorsal Atlântica costumavam ser minhas bandas favoritas, agora são Max e o Blunt Force Trauma! Uma banda muito boa que eu adoro e ouço bastante. Realmente curti minha passagem pelo Brasil… nos momentos em que quero relaxar, ou quando minha esposa está na sala comigo, eu coloco um Raimundos ou O Rappa também.

O que você acha da cena Metal atual?

É enorme e muito bem desenvolvida. Você tem festivais ou bandas passando regularmente praticamente em todos os países. Estou com 47 anos, sou um metalhead old school dos anos 80 e é claro que curto quando meus amigos do Kreator ou Destruction passam pela área. Na última tour do Judas Priest eu não deixei de ir. O Motorhead também não pode ser esquecido quando toca aqui perto.

Assassin é uma das mais importantes bandas do underground alemão. Você esperava isso quando vocês começaram a tocar?

(Riso) Quando começamos a banda, nós éramos felizes por podermos tocar e escrever nossas próprias músicas em nosso próprio estilo, além disso éramos felizes por termos vendido muitas cópias das duas primeiras demo-tapes. Mas nunca tivemos o objetivo de ser uma das bandas mais importantes do Metal underground. Na verdade, quando o Assassin retornou em 2003, acho que a banda não ligou muito para o desejo de ser uma das mais importantes da cena e começou a compor… sério, a música daquele álbum saiu naturalmente e nunca foi planejado que tivéssemos algum título. O mais importante é que você curta fazer e tocar sua própria música, então o resto vem por consequência.

Você acha importante combater o racismo e o fascismo na cena underground (e em toda a sociedade)? E o que acha de bandas cristãs?

No mundo atual, temos um problema com pessoas radicais que querem forçar sua opinião às outras — opiniões como racismo, fascismo, radicalismo religioso (cristãos e muçulmanos principalmente). Eu respeito todas as opiniões e estilos de vida, desde que não se pregue o mal dos outros. Então, onde quer que haja a ideia de humilhar, agredir ou até matar os outros, serei totalmente contra e resistirei/contra-atacarei. Também odeio os ‘politicamente corretos’ que te dizem o que deve falar ou fazer, ditar o que é certo, pois isso também é forçar os outros. Neste mundo devemos manter um olho nesses praticantes do ódio (pois é claro que muitos deles dizem querer o melhor para as pessoas… riso). Na cena do Metal e futebol (sou um ultra do time alemão Fortuna Düsseldorf) eu posso avaliar e notar alguns deles aqui e ali. Esspero que todos os metalheads curtam banguear e ter momentos bons, mas não em detrimento dos outros como racistas que atacam negros e judeus. Esses têm de ser tratados da forma certa. Em toda cena (Punk, Pop, Clássica etc) as pessoas deveriam fazer o mesmo.

Obrigado pela entrevista! Tem alguma mensagem para o Brasil e para os leitores?

Especialmente aos brasileiros, quero dizer que vocês tem um dos melhores países e o povo realmente mais legal que já conheci em minha vida. Amei a comida e sou grande fã do açaí. Em várias cidades brasileiras, conheci headbangers estusiasmados que cantavam cada música que anunciei a eles e isso faz a banda se sentir realmente boa. Também quero agradecer o Sílvio, organizador de nossa tour, e o promoter Maicon Leite que garantiu uma grande tour. Eu pretendo voltar ao Brasil com o Raging Rob para banguear e meter o chicote! Thrash till Death, saudações da Alemanha!

Eu te agradeço por fazer a entrevista aos metalheads. Para buscar mais sobre minha nova banda Raging Rob, por favor visite estes sites:

https://www.facebook.com/ragingrob1
http://robertgonnella.wix.com/ragingrob
http://ragingrob.bandcamp.com/releases

*Entrevista realizada em março de 2015

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Norberto Liberator
Rise Above Zine

Estudante de jornalismo, cartunista, às vezes tento ser músico. Sim, ‘Liberator’ é meu sobrenome de verdade.