Taylor Swift — Folklore

Minimalista, porém longe de ser simplista: Taylor Swift concebe uma obra musicalmente impecável

Guilherme F. Cossich
ritvalclothing
4 min readAug 8, 2020

--

Foto: Beth Garrabrant / Divulgação

Como um expectador que acompanhou de perto os últimos cinco lançamentos de estúdio de Taylor Swift (de "Speak Now" até "Lover"), seria mentira dizer que "Folklore" não me surpreendeu. Durante os últimos quatro meses em quarentena, a cantora se organizou para compor e produzir seu álbum mais distante do pop desde seu debut em 2006. Todavia, o que mais me espantou foi assistir o grande público reagir a esse novo movimento em sua carreira. Trabalhando no mesmo estilo de sempre com composições intimistas e altamente sentimentais ("Teardrops On My Guitar", "Tim McGraw", "The Way I Loved You", "Back To December"), a partir do momento que um projeto fora da melódica estrutura pop é concebido, as pessoas começaram a admitir o que sempre esteve escrachado por aí: Não é que Taylor tem talento mesmo?

"Lover" (2019) foi um importante passo em sua carreira. Em um dos primeiros momentos em que encontramos um eu-lírico relaxado e despreocupado em se levar muito a sério, a artista novamente brilhou fazendo um pop mais orgânico, original e autêntico do que as produções de Max Martin e Shellback ("Red", "1989", "Reputation"). Em "Folklore", verificamos fortemente um movimento de "volta pra casa" — Taylor se reconecta com a musicalidade country, porém agora em um momento de maior maturidade e bagagem vivida. Basicamente com acordes de piano, violão e um sussurrado e linear tom de voz, vamos de encontro a uma obra folk, indie e alternativa (Jack Antonoff, Bon Iver e Aaron Dessner da banda The National), um constraste a seus beats pop mainstream de antigamente.

Não entrarei nos mínimos detalhes de cada faixa porque, sinceramente, elas não trazem nada de novo à mesa — e isso não é uma crítica. Como sempre fez, a cantora entrega belíssimas composições confessionais e altamente empáticas e conexas com os sentimentos do ouvinte. Venho dizendo isso há dez anos: sua qualidade de storyteller é uma das mais deslumbrantes da indústria fonográfica. Mesmo aos 16 anos com seu disco de estreia, a riqueza de detalhes em suas composições já pulsava forte, fato que a rendeu duas vitórias de Álbum do Ano no Grammy Awards ("Fearless" em 2010 e "1989" em 2016).

"But we were something, don’t you think so?
Roaring twenties, tossing pennies in the pool
And if my wishes came true
It would’ve been you
In my defense, I have none
For never leaving well enough alone
But it would’ve been fun
If you would’ve been the one"

Refletindo maturidade em "Folklore", aos 30 anos de idade, uma coisa que me chamou a atenção foi que nada nesse álbum gerou discussões no Twitter ou em tabloides, os quais geralmente caçam pistas e easter eggs num loop eterno tentando desvendar para qual (ex)namorado a loira escreveu cada música (All these people think love’s for show / But I would die for you in secret / The devil’s in the details, but you got a friend in me).

Vejo o novo disco mais como um livro de literatura. Poeticamente, Swift se apresenta como a autora de uma história de fantasias, descrevendo melancólicas e trágicas histórias de amor e separação ("The 1", "Exile", "This Is Me Trying"). Basicamente a temática de todas as faixas são a personagem lidando com fim de relacionamentos e desilusões amorosas— que podem ter sido reais ou meramente lúdicos e ficcionais (August sipped away like a bottle of wine / 'Cause you were never mine).

“You taught me a secret language
I can’t speak with anyone else
And you know damn well
For you I would ruin myself
A million little times”

Por fim, é importante analisar a atmosfera do disco no geral. Com poucas faixas acompanhadas do ritmo da bateria ("Mirrorball", "August", "This Is Me Trying"), o ouvinte atravessa uma experiência imersiva, quase que flutuando em uma onírica historia de fantasia. O single "Cardigan", "Betty" e "August" contam a história de um triângulo amoroso adolescente, cada canção sob a perspectiva de um personagem diferente.

"Illicit Affairs", faixa que mais se destaca, expõe sentimentos crus e situações extremamente excrachadas, vulneráveis e recorrentes no mundo real (What started in beautiful rooms / Ends with meetings in parking lots / And that's the thing about illict affairs). Sonoramente tranquilo, monótono e muitas vezes tido como calmo e confortante, "Folklore" é, sobretudo, uma obra sentimentalmente profunda, complicada, conturbada e intensa como um turbilhão emocional.

“I think I’ve seen this film before
And I didn’t like the ending
You’re not my homeland anymore
So what am I defending now?
You were my town, now I’m in exile, seeing you out”

Foto: Reprodução / YouTube
Folklore (2020)

Destaque: The 1, Exile, August, Illicit Affairs, Ephiphany
Nota: 📀📀📀📀📀

Leia também: Taylor Swift — Evermore

--

--