10 filmes para assistir de graça durante a quarentena — parte 1

Uma seleção de filmes brasileiros de relevância histórica para serem assistidos no Youtube

Antonio Lima Júnior
rock.rec.br
4 min readMar 26, 2020

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Cena do filme Terra em Transe (1967) com Zózimo Bulbul — Acervo Radio Santos

Diante do cenário de quarentena contra a pandemia do novo coronavírus, resolvi selecionar dez obras relevantes do cinema brasileiro do século XX, todas disponíveis no YouTube, para os leitores realizarem maratonas de exibição nesses dias de confinamento. Sabendo dos problemas do isolamento coletivo, estarei também disponível nas minhas redes sociais para conversar sobre os dez seguintes filmes. Boa sessão!

1. As Amorosas — Walter Hugo Khouri (1968)

Neste filme do subestimado Walter Hugo Khouri, acompanhamos as reflexões do jovem Marcelo (Paulo José), estudante universitário que abandona sua vida de privilégios para vagar por aí, carregado de reflexões sobre a realidade. Aqui podemos pegar as várias referências do cinema europeu na obra de Khouri, bem como o destaque para a bela atuação do Paulo José. Existencialismo puro para dias de confinamento!

2. Um Homem Sem Importância — Alberto Salvá (1971)

Dando continuidade à pegada existencialista, aqui vemos o desempregado Flávio, interpretado por Oduvaldo Viana Filho, tentando driblar os problemas do cotidiano de sua vida, enfrentando os conflitos familiares, a ausência de perspectivas profissionais e a perda da juventude, diante de um capitalismo tardio e falido. Serve como reflexão para os dias atuais, com a juventude de hoje sem expectativas dentro da crise do sistema capitalista e se precarizando cada vez mais.

3. Iracema, Uma Transa Amazônica — Jorge Bodanzky e Orlando Senna (1976)

Liberado para lançamento apenas em 1981, este semidocumental brasileiro é uma crítica ao discurso de progresso que a ditadura militar tentou aplicar na década de 1970, usando como tema a construção da rodovia transamazônica. Atravessando os rincões dessa estrada, vemos que o progresso, na prática, só trouxe trabalho escravo, grilagem de terras, prostituição, dentre outras mazelas que a ditadura militar tentou esconder.

4. Toda Nudez Será Castigada — Arnaldo Jabor (1973)

Baseado na peça de Nelson Rodrigues, o viúvo Herculano se apaixona pela prostituta Geni, gerando conflitos dentro de sua família, em especial com seu filho Serginho, já que havia prometido jamais se apaixonar por outra mulher. Diante das situações abordadas na trama, somos expostos às hipocrisias da família tradicional brasileira, sem muitas diferenças para os dias de hoje.

5. A Mulher de Todos — Rogério Sganzerla (1969)

Um importante filme do cinema marginal onde somos apresentados à Ângela Carne e Osso (Helena Ignez), uma ninfomaníaca casada com Doktor Plirtz (Jô Soares), que foge do marido para curtir um weekend na Ilha dos Prazeres. Em tons de comédia, Sganzerla faz uma verdadeira crítica aos costumes e padrões sociais, onde a personagem principal é o verdadeiro arquétipo do feminismo contestatório.

6. Cabra marcado para morrer — Eduardo Coutinho (1984)

Eduardo Coutinho apresenta a vida de João Pedro Teixeira, líder camponês de Sapé, no interior da Paraíba, assassinado em 1962 por ordem dos latifundiários. Na tentativa de reconstituir sua vida, é rodado um filme dois anos após o assassinato, dirigido por Coutinho, mas inconcluso devido ao golpe militar. Dezessete anos depois, Coutinho retoma o projeto, buscando a viúva de João Pedro, Elizabeth Teixeira, e seus filhos, mostrando o que aconteceu após a interrupção das filmagens e as brutalidades do regime militar.

7. A Hora da Estrela — Suzana Amaral (1985)

Adaptação do romance homônimo de Clarice Lispector, onde Macabéa (Marcélia Cartaxo), uma jovem nordestina, vai para São Paulo trabalhar como datilógrafa. Conhece e começa a namorar com Olímpico de Jesus (José Dumont), numa relação que, junto com as demais interações de Macabéa, mostram os conflitos entre a idealização da vida e as mazelas sociais.

8. Terra em Transe — Glauber Rocha (1967)

No fictício país de El Dorado, acompanhamos o jornalista e poeta Paulo Martins (Jardel Filho), diante das convulsões políticas decorrentes das disputas entre os presidenciáveis Felipe Vieira (José Lewgoy) e Porfírio Diaz (Paulo Autran), que representam o populismo e o conservadorismo, respectivamente. Foi um dos primeiros e principais filmes a tentar analisar o período do golpe militar de 1964, ainda nos primeiros anos da ditadura.

9. O Pagador de Promessas — Anselmo Duarte (1962)

Baseado na peça teatral do dramaturgo Dias Gomes, Zé do Burro (Leonardo Villar) faz a promessa num terreiro de candomblé de carregar nas costas uma imensa cruz de madeira até a igreja de Santa Bárbara, em Salvador, após ter seu burro salvo pela mãe de santo. Impedido pelo padre de entrar na igreja com a cruz, vemos na jornada do personagem as contradições sociais e o sincretismo religioso da população. Vencedor da Palma de Ouro, principal premiação do Festival de Cannes, em 1962, feito único do cinema brasileiro.

10. Alma Corsária — Carlos Reichenbach (1993)

Rivaldo Torres (Bertrand Duarte) e Teodoro Xavier (Jandir Ferrari), dois poetas e amigos de infância, lançam um livro numa pastelaria chinesa localizada no centro de São Paulo. Ao chegar os amigos convidados para a “noite de autógrafos”, conhecemos a trajetória da amizade e um pouco sobre as figuras presentes. Um dos principais filmes que expressam a sagacidade libertária do diretor, Carlão.

Texto de Antonio Lima Júnior, revisão e diagramação por Frederico Moschen Neto. A publicação colaborativa rock.rec.br é uma iniciativa da Sangue TV. Conheça o nosso expediente e colabore.

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