2º Metrô — Mostra Panorama I

O Festival Metrô de Cinema Universitário estreou com sete curtas da Mostra Panorama, produzidos em diferentes cidades do país.

Heloisa Nichele
rock.rec.br
6 min readNov 28, 2018

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A segunda edição do Metrô — Festival do Cinema Universitário Brasileiro começou na última quarta-feira (21) com a exibição da mostra Panorama que, como o próprio nome sugere, busca apresentar um pouco do que está sendo produzido no cinema universitário do país. É também a principal seleção do festival — entre os 62 filmes exibidos ao longo dos cinco dias de programação, 35 fazem parte da Panorama.

Debate após sessão da Mostra Panorama I (Foto: Heloisa Nichele)

Pelas palavras de apresentação da curadoria:

“Embora o Metrô não se proponha a ser exclusivamente um festival de panorama, que faz afresco à Paolo Veronese do cinema universitário brasileiro, é natural o desejo de querer mostrar um pouquinho de cada coisa do que está rolando por aí”.

A mostra contemplou quase todos os estados brasileiros. Nessa primeira sessão, com a exibição de sete filmes, foi apresentado produções de Goiás, Distrito Federal, São Paulo, Paraná, Bahia e Rio de Janeiro.

O primeiro filme, de 21 minutos de duração, foi produzido no ano passado pela Universidade Estadual de Goiás. Frame Fatal, de Thiago Rabelo, é um terror trash que não se preocupa muito com a qualidade da fotografia e direção de arte. Narra em primeira pessoa a trajetória de Toni Balestrero, o detetive particular — “um dos últimos que ainda existem” — que se encontra em crise financeira e aceita desesperado um serviço que o leva muito além de um caso de infidelidade conjugal. A maior parte do filme é em preto e branco, uma referência aos filmes noir, com a presença dos arquétipos do mocinho policial e da femme fatale no ambiente de crime, assassinato e ciúmes. Apesar das referências, o média dialoga com o presente, questiona o poder das narrativas digitais com um jogo de enredo que prende o espectador até o fim.

Em seguida na programação foi apresentada a comédia descontraída Sinucada, de Rafael Stadniki, do curso de cinema da Universidade de Brasília. O curta se passa no campus da própria universidade, narra a primeira visita de dois calouros no Centro Acadêmico e o desafio imposto pelos veteranos para um duelo de sinuca. Com cores vibrantes e uma montagem de ritmo acelerado, o filme diverte, faz lembrar as angústias ingênuas de entrar na faculdade.

Da terceira exibição em diante o clima de descontração se transforma em seriedade, as narrativas exploram temas sociais relevantes da contemporaneidade. A começar por Universos, de Henrique Antonio pela Escola Técnica Roberto Marinho, de São Paulo. O filme narra em paralelo as trajetórias de João e Estela, dois jovens negros de periferia que enfrentam conflitos sociais cotidianos. Todo baseado em um disco do cantor Di Melo, de 1975, os enredos conversam entre si pela qualidade da montagem. Bela fotografia e atuação, em uma narrativa onde os silêncios falam mais que as palavras, o filme cativa pelos gestos mais simples.

A atriz Laysa Machado, de “A Primavera de Fernanda”, durante debate após sessão (Foto: Heloisa Nichele)

Na sequência das crônicas sociais apresenta-se Primavera de Fernanda, o filme curitibano produzido pela Universidade Estadual do Paraná por Débora Zanatta e Estevan de la Fuente conta a história de Fernanda, uma transsexual que se prostitui para manter a casa onde mora com a irmã e a sobrinha, mas vê a oportunidade de reconstruir sua vida na esperança de conseguir um emprego. Os 19 minutos do filme são precisos sem deixar pontas soltas, reflete com seriedade o drama vivido pelo T da comunidade LGBT na esperança por empregabilidade. Emociona do começo ao fim pela atuação de Laysa Machado, a atriz trans que interpreta a protagonista e conta ter vivido na pele essas mesmas questões. O filme foi exibido na mostra Mirada Paranaense, da 7ª edição do Olhar de Cinema nesse ano.

Trailer do filme Primavera de Fernanda (2018).

O tema da violência relacionado a questões de gênero continua no quinto filme da mostra, Ricochete, dirigido por Maria Clara Arbex pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, é um curta de 8 minutos baseado em fatos reais que exibe o drama vivido por Naiane ao suportar as agressões do namorado. O filme se passa quase todo com a câmera parada na sala da casa onde moram, entre as discussões do casal, ela aparece de modo subjetivo em cena, anuncia o final implacável que encerra o curta — desses que faz o espectador prender a respiração de angústia.

O filme Um traço teu, de Dani Nigri da Escola de Cinema Darcy Ribeiro do Rio de Janeiro, engata a temática de relacionamentos amorosos, dessa vez entre duas meninas. Julia é nova na cidade e trabalha como secretária em um escritório de psicologia. Ainda sem amigos, sua vida começa a mudar quando conhece uma das pacientes do consultório. O filme trata a relação homoafetiva de forma delicada, quase infantil. É através dos olhares e silêncios que a narrativa se constrói na intimidade de Julia, que desenha os personagens conforme aparecem na tela.

Trailer do filme Um Traço Teu (2018).

O último filme da sessão, Sombras da guerra, é uma animação de Carlos Hachmann pela Unicuritiba, no Paraná. Apesar de ser o mais curto em duração, com 5 minutos, não significa que foi o menos trabalhoso, se trata de uma animação em stop motion toda feita dentro de um pequeno cenário de massinha. Não bastasse o trabalho na produção, o roteiro envolve como tema a Guerra na Síria, onde pequena Ayla vaga na companhia do seu ursinho de pelúcia sobre os escombros. O filme reflete o espaço e a consequência da guerra na vida das crianças. Os olhos gigantes e assustados da menina seduzem desde o princípio à trama, que apesar de curta, emociona.

Frame Fatal (Goiânia/GO), de Thiago Rabelo 2017 | 21’ | UEG/Cinema

Frame Fatal, 2017 (Foto: Divulgação)

Sinucada (Brasília/DF), de Rafael Stadniki 2018 | 16’ | UNB/Comunicação Social

Sinucada, 2018 (Foto: Divulgação)

Universos (São Paulo/SP), de Henrique Antonio 2017 | 20’ | ETEC JRM/Técnico em Produção de Áudio e Vídeo

Universos, 2017 (Foto: Divulgação)

Primavera de Fernanda(Curitiba/PR), de Débora Zanatta e Estevan de la Fuente 2018 | 19’ | Unespar/Cinema

Primavera de Fernanda, 2018 (Foto: Divulgação)

Ricochete (Cachoeira/BA), de Maria Clara Arbex 2018 | 8’ | UFRB/Cinema

Ricochete, 2018 (Foto: Divulgação)

Um Traço Teu (Rio de Janeiro/RJ), de Dani Nigri 2018 | 16’ | Darcy Ribeiro/Cinema

Um Traço Teu, 2018 (Foto: Divulgação)

Sombras da Guerra (Curitiba/PR), de Carlos Hachmann 2018 | 5’ | Unicuritiba/Design de Animação

Sombras da Guerra, 2018 (Foto: Divulgação)

Texto de Heloisa Nichele e revisão de João C. Horst Filho. A publicação colaborativa rock.rec.br é uma iniciativa da Sangue TV. Conheça o nosso expediente e colabore.

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Written by Heloisa Nichele

Fotógrafa, jornalista e produtora de conteúdo audiovisual. @helonichele

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