8º Olhar de cinema — mostra Pequenos Olhares

Neste ano a mostra contou com onze curtas-metragens, dividido em três programas

Heloisa Nichele
rock.rec.br
5 min readJul 1, 2019

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Fotograma de “Vivi Lobo e o Quarto Mágico”

Ao lado da Mirada Paranaense, que se propõe a ampliar o alcance da produção audiovisual local, a mostra Pequenos Olhares, também se preocupa em incluir maior público. Dedicada a filmes que dialogam com crianças e adolescentes, este ano contou com onze curtas-metragens, dividido em três programas, além da exibição do longa “Um Filme de Verão”, dirigido por Jô Serfaty, destaque na última Mostra de Tiradentes com prêmio de melhor montagem.

Acompanhar alguma seção da mostra dedicada aos pequenos, é uma experiência a parte dentro do festival. É bonito de ver famílias e crianças preenchendo as salas, o chororô dos guris que não ganharam pipoca e as interações sinceras ao longo do filme — o público mais atrevido e sagaz do Festival você encontra aqui.

Estivemos em uma das seções no Cine Passeio — mais um dos lugares que sediou o Festival nesta edição — com a sala lotada. A escolha de quatro curtas, “Kids”, “Vivi Lobo e o Quarto Mágico”, “O Malabarista” e “O Grande Amor de um Lobo”, seguiu uma linearidade de temas, mostrando experiências pessoais de crianças e jovens e apontando problemáticas interessantes do viver em sociedade. Apesar disso, abrangeu um público alvo de faixa etária ampla, de modo que alguns divertiram as crianças, mas outros escaparam do universo infantil.

KIDS / Kids | Michael Frei | Suíça, 2019, 9’

Fotograma de “Kids”

O curta suíço, Kids, que abre a sessão, diverte os pequenos pelo traço e animação mas também instiga os adultos pelo conceito e possibilidades narrativas. O filme é uma experimentação não linear sobre dinâmicas de grupo, faz refletir individualidade e coletivo através de movimentos abstratos de atração e repulsão, formação e deformação de grupos entre um padrão de bonecos gráficos de forma humana, mas nenhuma dessas interpretações são evidentes, sem diálogos ou explicações, o curta deixa em aberto as intenções apresentadas, de modo que pode ser repetitivo e cansativo assistir do começo ao fim. O que dá intensidade ao filme é o ritmo de cortes e o gráfico bem montado, todo feito em um desenho animado 2D e preto e branco, originado a partir de um jogo homônimo realizado pelo diretor em parceria com o designer Mario von Rickenbach.

O MALABARISTA | Iuri Moreno Chaves Pereira | Brasil, 2018, 11’

Fotograma de “O Malabarista”

A proposta apresentada pelo diretor Iuri Moreno no filme O Malabarista é um hibridismo entre animação e documentário. A representação simpática e colorida de um palhaço malabarista, através de um traço singelo e lúdico de desenho feito à mão, contrasta com o monocromático do cenário, a hostilidade que a cidade grande significa para o artista. A animação é alternada por depoimentos em off de malabaristas e artistas de rua sobre suas experiências de trabalho, dificuldades, necessidades e possibilidades na cidade, uma crítica bem construída através de fragmentos de histórias de vida .

VIVI LOBO E O QUARTO MÁGICO | Isabelle Santos, Edu MZ Camargo | Brasil, 2019, 13’

Livro que deu origem ao filme “Vivi Lobo e o Quarto Mágico” (Fonte: Divulgação)

O curta Vivi Lobo e o Quarto Mágico, de Edu MZ Camargo e Isabelle Santos, é uma adaptação de um livro infantil escrito e ilustrado pela diretora. Conta a história de Virginia Lobo, a Vivi, uma garota solitária que ao ser alvo de piadas na escola, encontra em sua casa um quarto mágico, no qual encontra personagens femininas históricas para lhe dar forças dentro de seu próprio mundo.

Originado a partir de um trabalho de conclusão de curso em Publicidade e Propaganda na Universidade Federal do Paraná, a história versa sobre situações e desafios que permearam a vida da autora quando criança. “Eu fiz um livro que gostaria de ter lido quando era criança”, afirma Isabelle. Segundo ela o filme é principalmente sobre amizade, poder contar com pessoas que apoiem seu crescimento.

Animado em 2D a partir da ilustração de Isabelle, que também assina como diretora de arte, o filme tem bom gosto na paleta de cores e no desenho dos cenários, a expressão dos personagens também não fica para trás, é empático do começo ao fim. É nesse contexto que Vivi Lobo reflete identidade, aceitação e problemáticas da educação infantil.

O GRANDE AMOR DE UM LOBO | Kennel Rogis | Brasil, 2018, 12’

Trailer de O Grande Amor de um Lobo

Em O Grande Amor de um Lobo o diretor Kennel Rogis faz uma parceria com o jovem Adriandreson, morador de São Miguel do Gostoso (RN), para realizar um filme que mistura documentário e ficção no qual o rapaz de 19 anos é protagonista. O curta é um recorte documental da vida do jovem, que sonha em ser ator de cinema mas não encontra oportunidades para seguir suas vontades. As cenas dele contando sua trajetória são intercaladas com a narração e interpretação de um romance escrito na escola, que dá nome ao filme. Nele um rapaz se apaixona por uma menina e só através de um beijo dela ele seria libertado de um feitiço que o havia transformado em um lobo.

Filmado de forma caseira, sem preocupações com fotografia e direção de arte, a estratégia de roteiro é interessante por atender a vontade de Adrianderson em contar e interpretar seu romance ficcional, ao mesmo tempo que é o objeto principal do filme de Kennel Rogis. Através da história do rapaz, o curta reflete pontos interessantes sobre anseios e dificuldades de um jovem de classe baixa no interior do nordeste.

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Heloisa Nichele
rock.rec.br

Fotógrafa, jornalista e produtora de conteúdo audiovisual. @helonichele