Entrevista com The Dirty Coal Train
Aproveitamos a quarta passagem da banda pela América do Sul para realizar uma entrevista por e-mail sobre o último disco, gravado no Brasil, o álbum Primitive, além de outros assuntos como estado de coisas da vida e do mundo.
The Dirty Coal Train é uma banda formada pelo estiloso casal de guitarristas Ricardo Ramos e Beatriz Rodrigues, oriundos de Portugal. Junto a eles se somam bateristas convidados. No trânsito pelo Brasil e Argentina o convidado é o veterano Marky Wildstone, conhecida figura do underground brasileiro. O estilo musical transita entre o proto punk, garage rock e afins. Segundo a banda, o nome remete ao imaginário do blues, a vontade de saltar no comboio para fugir da cidade e também é uma brincadeira com John Coltrane (chegaram a assinar como Dirty Coltrane).
Cinestésico: Mais uma vez The Dirty Coal Train cruzou o Oceano Atlântico para uma turnê no Brasil e na Argentina, para divulgar o novo álbum Primitive. Contando toda essa distância percorrida, não seria melhor ter focado em uma turnê na Europa? Por que vir ao Brasil?
The Dirty Coal Train: As nossas tours acabam sempre por juntar vontade, conveniência e acasos. Neste caso acrescidas de muitas amizades feitas já em diversas cidades. Uma tour para nós não tem tanto de planejamento como tem de vontade de conhecer locais, diversão e rever amizades.
Cinestésico: Falando da turnê, como estão as coisas? Algum causo ou passagem interessante para relatar?
The Dirty Coal Train: Os shows têm sido muito divertidos! Os que mais gostamos nestas primeiras datas foram os de Ribeirão Preto com ambiente bem punk; e o de Brasília, no monumento aos povos indígenas antes do concerto do Hermeto Pascoal, de quem gostamos muito. Este teve um ambiente muito especial de manifesto de liberdade, diversão e amor.
Cinestésico: Além desta série de shows, existe mais algum outro projeto ou atividade a ser desenvolvida nessa viagem ao novo mundo?
The Dirty Coal Train: Desta vez não agendamos gravações. Só viemos tocar temas novos e antigos, rever amigos, matar saudades da cozinha e frutas brasileiras e aproveitar para ver capivaras, tamanduás e outros animais que não existem em Portugal.
Cinestésico: Vamos falar do disco Primitive, do seu processo de gravação aqui no Brasil, a temática e as vinhetas, além de ter uma canção em português. O que levou a isso?
The Dirty Coal Train: O processo de gravação foi o mais cru possível: todos tocando ao mesmo tempo e captados ao vivo, as vozes gravadas depois em overdub. O Luís Tissot do Caffeine Studios é bem bom em captar o som roqueiro cru do jeito que nós gostamos. As vinhetas e temas em português surgiram muito pelo clima político que se vive no Brasil [e no mundo] quando gravamos, a preocupação ambiental e com o futuro da Amazônia e a enchente de fake news que inundava as redes sociais a essa altura.
Cinestésico: Vi vocês no Goiânia Noise em 2017 e tinha uma pessoa registrando as apresentações, vai sair um filme?
The Dirty Coal Train: Há registos que foram feitos nessa tour, mas não sabemos ainda se isso vai dar filme ou documentário ou o quê… Estamos sempre a trabalhar novas ideias de discos, vídeos,.. mas nem todas se concretizam. Vamos esperar para ver…
Cinestésico: Vamos falar de Portugal, como andam as coisas lá?
The Dirty Coal Train: Em termos musicais o mesmo de quase todo o mundo: rock voltou a ser uma cena do underground, mas a cena independente continua a ter boas bandas e o mainstream coisas bem chatas! Em termos políticos estão três partidos [de esquerda] no poder o que ajuda um pouco pois sempre têm de discutir um pouco mais entre eles antes de fazer cagada.
Cinestésico: Vocês, Beatriz e Ricardo, tem uma parceria musical há quase uma década. Qual o balanço que vocês fazem depois de tanto tempo tocando juntos?
The Dirty Coal Train: O balanço é bom. Cedo percebemos que musicalmente nos entendemos muito bem! Tanto que agora as decisões e processos criativos passam pelos dois quase exclusivamente!
Conexões: Facebook; Instagram; Youtube; Bandcamp.
Entrevista feita por Frederico M. Neto e editada por Vinícios "vino" Carvalho. O Cinestésico é uma publicação colaborativa sobre cinema e música mantida pela Sangue TV.