Entrevista com The Dirty Coal Train

Aproveitamos a quarta passagem da banda pela América do Sul para realizar uma entrevista por e-mail sobre o último disco, gravado no Brasil, o álbum Primitive, além de outros assuntos como estado de coisas da vida e do mundo.

Frederico Moschen Neto
rock.rec.br
4 min readSep 8, 2019

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Beatriz Rodrigues e Ricado Ramos do The Dirty Coal Train — Fotografia de Sérgio Lemos

The Dirty Coal Train é uma banda formada pelo estiloso casal de guitarristas Ricardo Ramos e Beatriz Rodrigues, oriundos de Portugal. Junto a eles se somam bateristas convidados. No trânsito pelo Brasil e Argentina o convidado é o veterano Marky Wildstone, conhecida figura do underground brasileiro. O estilo musical transita entre o proto punk, garage rock e afins. Segundo a banda, o nome remete ao imaginário do blues, a vontade de saltar no comboio para fugir da cidade e também é uma brincadeira com John Coltrane (chegaram a assinar como Dirty Coltrane).

Cinestésico: Mais uma vez The Dirty Coal Train cruzou o Oceano Atlântico para uma turnê no Brasil e na Argentina, para divulgar o novo álbum Primitive. Contando toda essa distância percorrida, não seria melhor ter focado em uma turnê na Europa? Por que vir ao Brasil?

The Dirty Coal Train: As nossas tours acabam sempre por juntar vontade, conveniência e acasos. Neste caso acrescidas de muitas amizades feitas já em diversas cidades. Uma tour para nós não tem tanto de planejamento como tem de vontade de conhecer locais, diversão e rever amizades.

Cinestésico: Falando da turnê, como estão as coisas? Algum causo ou passagem interessante para relatar?

The Dirty Coal Train: Os shows têm sido muito divertidos! Os que mais gostamos nestas primeiras datas foram os de Ribeirão Preto com ambiente bem punk; e o de Brasília, no monumento aos povos indígenas antes do concerto do Hermeto Pascoal, de quem gostamos muito. Este teve um ambiente muito especial de manifesto de liberdade, diversão e amor.

The Dirty Coal Train em ação no Goiânia Noise de 2017 — Foto de Frederico Moschen Neto

Cinestésico: Além desta série de shows, existe mais algum outro projeto ou atividade a ser desenvolvida nessa viagem ao novo mundo?

The Dirty Coal Train: Desta vez não agendamos gravações. Só viemos tocar temas novos e antigos, rever amigos, matar saudades da cozinha e frutas brasileiras e aproveitar para ver capivaras, tamanduás e outros animais que não existem em Portugal.

Cinestésico: Vamos falar do disco Primitive, do seu processo de gravação aqui no Brasil, a temática e as vinhetas, além de ter uma canção em português. O que levou a isso?

The Dirty Coal Train: O processo de gravação foi o mais cru possível: todos tocando ao mesmo tempo e captados ao vivo, as vozes gravadas depois em overdub. O Luís Tissot do Caffeine Studios é bem bom em captar o som roqueiro cru do jeito que nós gostamos. As vinhetas e temas em português surgiram muito pelo clima político que se vive no Brasil [e no mundo] quando gravamos, a preocupação ambiental e com o futuro da Amazônia e a enchente de fake news que inundava as redes sociais a essa altura.

Capa de Primitive — Divulgação (Confira a resenha aqui)

Cinestésico: Vi vocês no Goiânia Noise em 2017 e tinha uma pessoa registrando as apresentações, vai sair um filme?

The Dirty Coal Train: Há registos que foram feitos nessa tour, mas não sabemos ainda se isso vai dar filme ou documentário ou o quê… Estamos sempre a trabalhar novas ideias de discos, vídeos,.. mas nem todas se concretizam. Vamos esperar para ver…

Cinestésico: Vamos falar de Portugal, como andam as coisas lá?

The Dirty Coal Train: Em termos musicais o mesmo de quase todo o mundo: rock voltou a ser uma cena do underground, mas a cena independente continua a ter boas bandas e o mainstream coisas bem chatas! Em termos políticos estão três partidos [de esquerda] no poder o que ajuda um pouco pois sempre têm de discutir um pouco mais entre eles antes de fazer cagada.

Beatriz acertando o som e Ricardo em ação no Goiânia Noise de 2017 — Foto de Frederico Moschen Neto

Cinestésico: Vocês, Beatriz e Ricardo, tem uma parceria musical há quase uma década. Qual o balanço que vocês fazem depois de tanto tempo tocando juntos?

The Dirty Coal Train: O balanço é bom. Cedo percebemos que musicalmente nos entendemos muito bem! Tanto que agora as decisões e processos criativos passam pelos dois quase exclusivamente!

Conexões: Facebook; Instagram; Youtube; Bandcamp.

Entrevista feita por Frederico M. Neto e editada por Vinícios "vino" Carvalho. O Cinestésico é uma publicação colaborativa sobre cinema e música mantida pela Sangue TV.

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Frederico Moschen Neto
rock.rec.br

Documentarista e produtor executivo especialista em licenciamentos musicais e audiovisuais. frederico@sangue.tv | +55 (41) 99132–5995 | www.sangue.tv