Patrimônio nacional

Tem um projeto de lei, feito pelo mesmo deputado que fez uma lei pra consagrar e dar o comando espiritual da Bahia para "a santíssima trindade", claramente discriminatório à crença nos Orixás, à Umbanda e ao Candomblé.
Logo no primeiro dia de novos projetos, esse pitoresco deputado quis tornar a Bíblia um "Patrimônio Nacional, Cultural e Imaterial do Brasil e da Humanidade" Não vou entrar no mérito de um livro criado pela cultura judaica ser declarado um patrimônio cultural e imaterial do Brasil - e uma religião brasileira não ter esse status. Enfim. Me choca, entretanto, a petulância de um indivíduo de tal religião querer transformar um livro em patrimônio da humanidade com uma lei brasileira.

Pense, por um momento, em como você se sentiria se eu fizesse um projeto de lei com seu dinheiro para transformar Harry Potter num Patrimônio Nacional, Cultural e Imaterial do Brasil e da Humanidade.

Voltando ao projeto, ele dá margens para transformar em criminosos quem disser que, por exemplo, Oxalá também pode ser chamado de Jesus Cristo, deixando mais à margem uma crença sincrética que só sobreviveu às escondidas em um tempo de maior repressão, maior violência, maior intolerância.

Dizem por aí que são tempos terríveis e não há como negar. Mas se os cristãos podem eleger representantes para enfiar sua religião pela minha garganta por meio de leis (e, como cidadão dessa república, preciso respeitá-las mesmo que sejam contra mim!), não esqueçam do que eu disse lá em cima se algum dia eu estiver na Câmara dos Deputados:Harry Potter vai virar patrimônio nacional e nenhum pastor poderá dizer nada ao contrário disso. Estará na lei.

E Oxalá? Ele já está nas salas da Câmara. Algum dia, espero eu, que eles respeitem a crença de milhares de brasileiros. Não sou e não serei que nem eles. Meu grito é livre. Minha fé, também. Isso já está na lei. Só falta começar a ser respeitado.