Algumas coisas que você precisa saber sobre você mesmo!

Rodrigo Aguiar
Rodrigo Aguiar
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6 min readMar 19, 2017

Algo muito interessante aconteceu essa semana e que eu gostaria de dividir com você.

Os textos que tenho escrito tem despertado interações muito valiosas e construtivas com diversas pessoas, umas conhecidas e outras não e, o mais inspirador, é a troca de impressões sobre os temas tratados.

Uma amiga veio conversar comigo a respeito do quanto os temas de que tenho tratado são profundos e importantes para pessoas que querem assumir o controle de si mesmas e de suas vidas, mas disse que tem a impressão de que, em geral, elas acham tudo muito bonito na teoria mas tem muita dificuldade de partir para a prática.

Nossa conversa evoluiu para o ponto em que identificamos que isso acontece porque as pessoas evitam assumir esse controle por vários motivos, e que talvez, o mais devastador deles seja justamente o medo.

O assunto que ela trouxe é realmente muito importante e, por isso, resolvi que o tema dessa semana seria justamente esse. Se há algo que possa nos impedir de avançar para melhores níveis de autonomia e responsabilidade pela construção da vida que queremos, esse algo deve ser entendido e trabalhado adequadamente para que possamos agir com maior liberdade.

O medo é uma emoção primária que ocorre sempre que algo ou alguém ameaça nossa segurança ou integridade.

Ser classificado como uma emoção primária quer dizer que ele é uma característica evolutiva (evoluiu junto com o ser humano) e que há um conjunto de estruturas em nosso cérebro responsáveis por ele.

Essas estruturas são o que chamamos de sistema límbico, uma parte do nosso cérebro muito mais antiga, evolucionariamente falando, do que as estruturas do córtex.

Ou seja, ao longo de nossa evolução, o sistema límbico surgiu primeiro porque era responsável por controlar assuntos que eram mais importantes para aquele contexto, como a sobrevivência, por exemplo.

Enquanto o córtex cerebral (parte mais externa) é responsável pela cognição (aprendizado), pensamentos complexos, linguagem e o processamento de informações, o sistema límbico se responsabiliza por emoções e impulsos, bem como por memória e aprendizado também.

Sistema límbico em destaque

É importante entender isso porque o medo, assim como outras emoções primárias, é uma ocorrência instintiva, que passa pela percepção mental em frações de segundos e desencadeia reações orgânicas, que culminam em sensações físicas.

Para apimentar um pouco mais, os sentimentos surgem nesse cenário quando tomamos consciência destas “emoções” corporais, no momento em que estas são transferidas para certas zonas do cérebro onde são codificadas sob a forma de uma atividade neuronal (lembra do córtex?).

Para prosseguir com o exemplo, a partir de uma ameaça, as modificações fisiológicas causadas pela emoção de medo (sistema límbico) fazem com que experimentemos um sentimento de medo (processado pelo córtex). Pode parecer complicado, mas não é e, acima de tudo, você vai entender adiante o porquê é importante que você saiba disso. Você precisa guardar isso como um mapa mental do medo (serve para outras emoções também).

Acredito que você já entendeu que só chegamos até aqui como humanidade porque mecanismos como esse preservaram a nossa existência desde tempos remotos até hoje. Isso já é suficiente para entendermos o quanto o medo é valioso e útil mas o fato é que, às vezes, esse sistema todo pode causar alguma confusão.

René Descartes destacou como a principal qualidade humana a capacidade de raciocínio, livre de qualquer influência do corpo sobre a mente. Para ele, o ser humano poderia se tornar algo como o Dr. Spock de Jornada nas Estrelas se dominasse suas emoções e sentimentos. Neurologistas e filósofos hoje contestam essa visão, afirmando que as emoções determinam em parte o conteúdo mental. Faz sentido quando avaliamos o mapa descrito acima né?

Spock, o Descartes vulcano

As últimas pesquisas do neurocientista mundialmente respeitado, António Damásio, sugerem que nossos juízos intelectuais e morais são determinados não só pela lógica (processos racionais) mas são profundamente afetados também pelas emoções (de forma instintiva, lembra?).

Podemos ver abaixo uma representação de sentimentos que podem ser gerados de suas respectivas emoções.

Emoções como base dos sentimentos

Para deixar ainda mais interessante essa história, tanto sentimentos quanto emoções podem ser reativados pela memória (passado) ou pela projeção de planos e aspirações (futuro) após o estabelecimento desse mapa causa-emoção-sentimento no cérebro sendo que este funciona como se emoções e sentimentos fossem relativos a situações vivenciadas no presente.

Wow! Isso é a verdadeira Matrix!

Isso quer dizer que não é necessário estar diante de um perigo real, seja essa físico, emocional, psicológico, profissional, espiritual, entre outros, para que a emoção e o sentimento do medo sejam ativados e, por conseguinte, afetem nossa capacidade de raciocínio, planejamento e tomada de decisão e, no fim das contas, nossas vidas.

Isso explica, em parte, porque muitas pessoas, mesmo sabendo o que precisam fazer para melhorar a si mesmas e suas vidas, não conseguem realizar esse desejo mesmo que ele seja bastante profundo.

Infelizmente, às vezes, esse desejo de mudança perde para os mapas do medo (entre outras emoções) criados em nossas mentes a partir de nossas experiências que geraram crenças, em geral, uma crença de identidade (do tipo “eu sou”: fraco, forte, capaz, incapaz, competente, incompetente, etc.).

Sabe aquela pessoa que você conhece e que mesmo sendo inteligente e bastante razoável, toma decisões e faz escolhas que te parecem completamente descabidas? Pois é, é bem possível que padrões emocionais e suas crenças estejam interferindo em suas decisões e, consequentemente, em seu sucesso e bem estar gerais. Será que essa pessoa não pode ser você?

O que nos importa, porém, é que as pesquisas sugerem que da mesma forma que criamos mapas mentais de forma automática em nosso cérebro e mente, que podem nos limitar e influenciar negativamente nossa capacidade de pensar, podemos também modificar esses mapas de forma consciente fazendo novas associações de emoções e sentimentos à uma determinada causa.

É aqui que a Matrix pode agir em nosso favor, pois podemos reprogramar esses padrões de forma que eles não funcionem como limitantes e sim como impulsionadores de ações. Esse é o processo de Aprendizagem Emocional ou mesmo Reimprinting.

Tomar consciência de que podemos estar sujeitos a esse tipo de padrão ou mapa mental que age em nosso prejuízo é, muitas vezes, suficiente para que algumas pessoas consigam dar novos significados a estes padrões, se libertando deles.

Eu mesmo passei algumas vezes por este processo onde, ao identificar que estava sendo vítima de uma crença com base em conteúdos do passado e que não faziam mais sentido no presente, consegui enxergar um novo significado para a situação do momento presente, me libertando assim da crença anterior.

Para conseguir fazer isso, é preciso estar atento aos próprios processos mentais, algo que não é estimulado em nosso processo de desenvolvimento, mas que é completamente possível e acessível a qualquer pessoa.

Por isso, eu sugiro que você pare um pouco agora e pense sobre quais medos ou crenças podem estar te impedindo de alcançar seus objetivos e o porquê disso estar acontecendo.

Isso já será um exercício muito importante.

Se esse texto fez sentido pra você, se foi útil de alguma forma, curta e compartilhe, pois é a melhor forma de fazer com que chegue em outras pessoas.

Abraços.

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