Construa seu caminho para ser feliz (Verdades quase sempre esquecidas 1)

Rodrigo Aguiar
Rodrigo Aguiar
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5 min readFeb 10, 2017

Conta uma lenda budista que na China de muitos séculos atrás, o monge, que liderava um templo muito famoso pelas virtudes e conhecimentos que propagava, veio a falecer.

Como ele havia estado nessa posição durante muitos anos, até uma idade muitíssimo avançada, os demais monges ficaram bastante preocupados com a questão da sucessão, já que não havia alguém que se destacasse especialmente para essa função.

Diante desse impasse, um de seus secretários buscou inspiração no velho mestre falecido através de seus escritos pessoais e encontrou um documento onde ele deixava instruções claras a respeito do processo sucessório.

Sendo assim, na manhã seguinte foi organizada a cerimônia de escolha do novo mestre que se tornaria o líder do templo.

Todos os monges estavam sentados em círculo no amplo salão comunal quando o secretário entrou.

Ele trazia nas mãos um dos vasos mais raros e valiosos do templo e tido por todos como verdadeiro tesouro. Ricamente adornado e produzido com a mais fina cerâmica chinesa além de possuir lindíssimas pinturas que destacavam seu valor.

Todos estavam em silêncio, apreensivos com a gravidade do momento e embevecidos pela beleza do vaso trazido.

Eis que o secretário coloca o vaso no chão, no centro do círculo formado por seus companheiros e diz em tom formal: “Eis um problema”, fazendo uma referência com as mãos a indicar o já citado vaso.

Todos estavam atônitos, não conseguiam compreender como aquele objeto poderia ser um problema.

Houve certo burburinho de alguns que comentavam a questão aos sussurros enquanto outros estavam ainda pensando a respeito da afirmação do secretário e outros apenas estavam admirando o objeto.

Após alguns instantes, um monge ainda jovem se levantou e foi até o centro do círculo. Todos se calaram frente à expectativa.

Ele calmamente pegou o vaso nas mãos, olhou seus detalhes por alguns breves instantes e, para espanto de todos, arremessou o vaso ao chão, estilhaçando-o completamente.

A comoção foi geral.

Os mais velhos se indignaram e irromperam em protesto. Outros estavam assustados, achavam que seu companheiro havia ficado louco e foi aí que o secretário anunciou que o novo líder estava eleito.

Todos se calaram.

O secretário explicou que o jovem que quebrara o vaso seria o novo líder porque compreendeu a proposta feita pelo mestre já falecido.

O problema, seja ele como for, quão bonito parecer ou quão caro se nos torne, precisa ser resolvido.

Essa pequena lição pode ser aplicada a muitas situações de nossas vidas, mas quero me ater aqui a uma em especial: A dos planos que alimentamos em relação ao nosso futuro.

É natural do ser humano buscar novos caminhos. Foi graças a esta habilidade que chegamos onde chegamos enquanto humanidade, mas para uma grande parte das pessoas esse processo pode ser altamente frustrante na medida em que a busca por alternativas e novos caminhos é um processo onde investimos alto grau de energia para avaliar alternativas que em sua maioria são descartadas.

Mas por que esse processo acaba por se tornar frustrante para tanta gente?

Basicamente porque quando estamos buscando alternativas é bem comum que o estado atual, ou manter-se nele, já tenha chegado em seu limite ou esteja próximo disso. Desta forma, quando encontramos uma possibilidade de alternativa, um caminho diferente, nos agarramos a isso e colocamos alta expectativa na possibilidade de trilharmos esse novo caminho.

Há alguns possíveis cenários a serem considerados nessa situação:

  • O primeiro cenário é aquele onde a pessoa simplesmente segue pelo caminho que lhe apareceu sem maiores reflexões.

Essa decisão pode resultar de vários fatores, inclusive da alta expectativa que faz a pessoa ver de forma míope toda a situação. O resultado disso pode ser satisfação, plenitude, ou não, mas o fato é que, neste cenário, muitas vezes, a pessoa conta apenas com a sorte.

Conheço muita gente que age costumeiramente assim e, após investirem altas cargas de energia na caminhada, é comum vê-las queixar-se de frustração, porque não imaginavam que o caminho tomado não serviria para chegar ao objetivo almejado.

  • O segundo cenário é aquele onde a pessoa planeja, avalia, pensa, testa e valida se aquele caminho serve para si.

Também nesse caso, altas doses de expectativas são normalmente dispensadas durante o processo de avaliação já que ela é comumente feita segundo uma idealização de resultado esperado. Sonhamos alto e isso é bom, mas quando a alternativa se demonstra inviável, é preciso replanejar ou buscar outras alternativas, caso contrário, a pessoa pode se sentir igualmente frustrada

Obviamente, nesse segundo cenário, há a possibilidade de o caminho avaliado se demonstrar viável e a pessoa decidir então apostar no mesmo, o que não é, de forma nenhuma, garantia de sucesso, mas as chances dele ocorrer são maiores.

Considero o segundo cenário mais desejável que o primeiro já que não sou afeito a decisões sem avaliação, mas ainda assim, por conta da alta carga de expectativas criadas durante a validação da opção em foco muita gente acaba sofrendo tanto quanto no primeiro cenário, pelo menos emocionalmente.

Desta forma, já que o segundo cenário é o desejável, para que ele possa funcionar de forma a não gerar sofrimento e frustração, devemos fazer como o jovem monge. Ao identificar que aquele caminho não é solução e sim um problema, devemos simplesmente eliminar o problema, resolvê-lo. Neste caso, abandonar aquele possível caminho, já que não vamos mais trilhá-lo.

E isso sem apego a tudo aquilo que ele antes representava (beleza, riqueza, utilidade, realização, etc) porque a partir do momento que passa a representar um problema, esses significados simplesmente não possuem mais sentido.

Para que esse segundo cenário seja aplicado de forma ideal, devemos baixar as expectativas, porque são elas que nos fazem escolher o primeiro cenário sem avaliar mais detidamente ou nos apegar à possibilidade no segundo cenário.

Continue trilhando o caminho atual ou um alternativo que tenha elegido para si, sempre com empenho e dedicação e empregando o melhor de si, já que a vida não para e nós também não devemos simplesmente estagnar. A vida é muito dinâmica.

Enquanto isso, vá avaliando as possibilidades, conhecendo outros caminhos, cogitando outras opções, mas sempre sabendo que são apenas isso, possibilidades e que muitas delas serão sim avaliadas e a maioria descartada. Isso não é um problema, isso é solução, pois quanto mais avaliamos, mais conhecemos e nos conhecemos e isso faz com que ao escolher um caminho após avalia-lo, ele tenha muito mais possibilidade de êxito.

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Abraços.

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