É a minha opinião! — O argumento definitivo nos debates virtuais

Rogério de Moraes
Redação Crítica
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3 min readMar 20, 2018

por Rogério de Moraes

Nos intermináveis debates das redes sociais, nas incansáveis buscas por lacrações, uma coisa sempre aparece como forma de encerrar o assunto: “É a minha opinião”. É com este mantra em defesa do sagrado direito à opinião que muitos tentam sustentar suas afirmações e colocá-las em um pedestal inatacável. Mas será que é mesmo opinião tudo aquilo que muitos de nós temos defendido como tal?

Dia desses, intervi em uma postagem de um ex-colega de trabalho, por quem sempre tive carinho e admiração pela gentileza e paciência com que sempre me tratou quando fui seu aprendiz. A postagem era um meme que listava coisas que poderiam ser compradas com R$ 1,00 em 1994 comparadas com os dias atuais. Na montagem, tudo dava a entender que a discrepância inflacionária era (claro!) culpa dos anos do PT na presidência. Uma distorção claramente desonesta.

Desonesta porque o processo inflacionário é quase que inerente a uma economia de mercado. Claro que governos podem, por meio de políticas econômicas, tentar conter a inflação (e sabemos que o governo Dilma falhou nisso). Porém, é muito desonesto apresentar a inflação como algo “criado” por uma gestão e por um partido. O que tornava tudo pior é que a pessoa que compartilhou este meme tem bacharelado em Contabilidade.

Comentei usando a palavra da língua portuguesa que melhor definia aquele meme: desonestidade. Não vejo porque ser cínico e ficar usando eufemismos só para ficar bem com os amigos. As coisas devem ser chamadas por aquilo que são. Na resposta, entre as indignações de praxe, veio o famigerado: é a minha opinião. Acontece que não. Aquilo não era uma opinião.

O ser opinioso

Nesse mundo de seres opiniosos no qual vivemos, há cada vez mais confusão entre o que é opinião e o que é fato. Vamos ilustrar.

O seu amigo diz que acha o saudoso Fiat 147 um carro mais bonito do que uma Ferrari. Você discorda e ele diz: é a minha opinião. Assunto encerrado. Está claro que vocês têm visões diferentes sobre estética e design e a opinião dele pode ser tão válida e justificável quanto a sua. Respeitando mutuamente as opiniões divergentes, vocês podem até continuar o debate tranquilamente.

Mas aí a conversa segue e seu amigo agora diz que o Fiat 147 tinha um motor mais potente que o de uma Ferrari. Você novamente discorda e ele diz: é a minha opinião. Percebe a diferença?

Não é questão de opinião dizer que um Fiat 147 é mais potente do que uma Ferrari. Isto é uma mentira cabeluda ou uma ignorância gigantesca.

Por isso, avalie bem antes de usar a desculpa do “é minha opinião” para justificar a ignorância ou a desonestidade de suas afirmações. Você pode estar passando vergonha em público. Tanto quanto se dissesse que o Fiat 147 é mais carro que a Ferrari.

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Rogério de Moraes
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Contar um pouco do mundo por meio de histórias que precisam ser contadas